Terça-feira, 29 de Dezembro de 2009

Obscura Castidade

 

 

Uma obscura e inquieta castidade

pôs uma flor para mim no jardim mais secreto

num horizonte  de graça e claridade

intangível e perto.

 

Promessa estática no luar

da densidade em mim corpórea,

não é a culpa, é a memória

da primeira manhã do pecado,

sem Eva e sem Adão.

Só o fruto provado

e a serpente enroscada

na minha solidão.

 

Natália Correia

 

publicado por Lagash às 16:05
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Segunda-feira, 14 de Setembro de 2009

Despedida

 

(última cena do filme "Casablanca" com Humphfrey Bogart e Ingrid Bergman) 

 

Por mim, e por vós, e por mais aquilo

que está onde as outras coisas nunca estão

deixo o mar bravo e o céu tranquilo:

quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.

E como o conheces? - me perguntarão. -

Por não ter palavras, por não ter imagem.

Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras?

Tudo.

Que desejas?

Nada.

Viajo sozinha com o meu coração.

Não ando perdida, mas desencontrada.

Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.

Voou meu amor, minha imaginação...

Talvez eu morra antes do horizonte.

Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.

(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!

Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

 

Cecília Meireles

 

publicado por Lagash às 16:12
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Quarta-feira, 19 de Agosto de 2009

Obscura Castidade

 

(Virgin Buggered by Her Own Chastity, de Salvador Dalí 1954) 

 

 

Uma obscura e inquieta castidade

pôs uma flor para mim no jardim mais secreto

num horizonte  de graça e claridade

intangível e perto.

 

Promessa estática no luar

da densidade em mim corpórea,

não é a culpa, é a memória

da primeira manhã do pecado,

sem Eva e sem Adão.

Só o fruto provado

e a serpente enroscada

na minha solidão

 

Natália Correia

 

publicado por Lagash às 16:21
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Terça-feira, 18 de Agosto de 2009

Indifference

 

 

I will light the match this morning, so I won’t be alone

Watch as she lies silent, for soon night will be gone

Oh, I will stand arms outstretched, pretend I’m free to roam

Oh, I will make my way, through, one more day in hell...

How much difference does it make

How much difference does it make, yeah...

 

I will hold the candle till it burns up my arm

Oh, Ill keep taking punches until their will grows tired

Oh, I will stare the sun down until my eyes go blind hey,

I won’t change direction, and I won’t change my mind

How much difference does it make

how much difference does it make...how much difference...

 

I’ll swallow poison, until I grow immune

I will scream my lungs out till it fills this room

How much difference

How much difference does it make

 

Pearl Jam

 

publicado por Lagash às 16:24
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Terça-feira, 28 de Julho de 2009

Será que é a morte que chama por mim?

 

 

Será que é a morte que chama por mim?

Será que caí em sorte e me enterram na lama?

Por que nada ouço?

Por que não te ouço?

Sinto-me fraco,

sinto-me outro,

noutra condição que não a humana.

 

Ainda me recordo de ti...

Talvez tu, também, de mim!

 

Mas já é tarde... e escurece.

Fecham-se-m'os olhos

cobertos pela lama.

 

Acordo.

 

Imagem fraca e diluída.

Senti-me só.

Senti tanta agonia.

Não te senti, meu amor.

Senti que havia chegado a minha hora.

Procuro-te na cama:

"Como senti a tua falta!"

Chego-me junto a ti

e abraço-te tal como no primeiro dia.

 

Vicente Roskopt

mais poesia do Vicente Roskopt em http://osedutorfarsolas.blogspot.com/

 

publicado por Lagash às 16:19
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Quarta-feira, 15 de Julho de 2009

Penso em ti

 

 

Penso em ti na estrada incerta,

Na rua escura e deserta,

Nas loucuras do coração;

Na chuva medonha que cai,

Na folha seca que vai,

Nos momentos de solidão.

 

Penso em ti no jardim florido,

No pequeno ser colorido

Que voa de flor em flor;

No sorriso das pessoas bonitas,

Nas canções que ecoam eruditas,

Nos versos falando de amor.

 

Penso em ti no entardecer sombrio,

No vento que causa arrepio,

Na angústia e no abandono;

Na madrugada insípida, tediosa,

Na cama insensível e desditosa,

Na noite fria sem sono.

 

Penso em ti no passeio matinal,

Na moça que passa escultural

Aguçando o meu prazer;

No happy hour com os amigos,

Na indiferença dos inimigos,

Na esperança de viver.

 

Carlos Melgaço

 

publicado por Lagash às 16:22
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Quarta-feira, 8 de Abril de 2009

Solidão

 

 

Aproximo-me da noite

o silêncio abre os seus panos escuros

e as coisas escorrem

por óleo frio e espesso

 

Esta deveria ser a hora

em que me recolheria

como um poente

no bater do teu peito

mas a solidão

entra pelos meus vidros

e nas suas enlutadas mãos

solto o meu delírio

 

É então que surges

com teus passos de menina

os teus sonhos arrumados

como duas tranças nas tuas costas

guiando-me por corredores infinitos

e regressando aos espelhos

onde a vida te encarou

 

Mas os ruídos da noite

trazem a sua esponja silenciosa

e sem luz e sem tinta

o meu sonho resigna

 

Longe

os homens afundam-se

com o caju que fermenta

e a onda da madrugada

demora-se de encontro

às rochas do tempo

 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

 

publicado por Lagash às 16:18
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Domingo, 18 de Janeiro de 2009

É urgente o amor

 

(Foto de um mural na Escola EB  2/3 de Paranhos do agrupamento Eugénio de Andrade - desconheço o autor da foto http://agrupamento-eugenioandrade.org/index.php?option=com_expose&Itemid=85 ) 

 

É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.

 

É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.

 

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

 

Cai o silêncio nos ombros e a luz

impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer.

 

Eugénio de Andrade

 

publicado por Lagash às 16:15
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Domingo, 23 de Novembro de 2008

Dom Francisco Manuel de Melo (Soneto I)

Soneto I

Formosura, e Morte, advertidas por um corpo belíssimo, junto à sepultura.

  

 

("Weeping Angel" no Friendship Cemitery em Colombus, Mississipi, por Natalie Maynor)

 

Armas do amor, planetas da ventura

Olhos, adonde sempre era alto dia,

Perfeição, que não cabe em fantasia,

Formosura maior que a formosura:

 

Cova profunda, triste, horrenda, escura,

Funesta alcova de morada fria,

Confusa solidão, só companhia,

Cujo nome melhor é sepultara:

 

Quem tantas maravilhas diferentes

Pode fazer unir, senão a morte?

A morte foi em sem-razões mais rara.

 

Tu, que vives triunfante sobre as gentes.

Nota (pois te ameaça uma igual sorte)

Donde pára a beleza, e no que pára.

 

Dom Francisco Manuel de Melo

 

publicado por Lagash às 10:15
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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