V
Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
Não se distrai de ti, nem bem nem tanto.
Sonho, histérico oculto, um vão recanto...
O rio Furness, que é o que aqui banha,
Só ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto...
Tanto? Sim, tanto relativamente...
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstício, o entre,
A metafísica das sensações —
Acabemos com isto e tudo mais...
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!
Álvaro de Campos
É de noite que te invoco
sobre todas as coisas
e, encantada, chegas
nas ásperas asas
de anjos furiosos
ou nas serenas notas
de doces divindades
tu, música intensa,
vasta como o seio materno,
que te infiltras,
como o leite ou vinho,
pelos ossos,
e vais
lentamente
tomando conta dos corpos,
como um veneno espesso
e amoroso,
às vezes,
uma letargia
que começa pelas pernas
e sobe pela linha da coluna
até à nuca,
outra,
uma explosão
que sacode todo o corpo,
pés, mãos, olhos,
ancas, nádegas, cabelos,
como
uma tempestade
ou
como
algum sinal antigo
despertando a quianda
que todos ocultamos
do outro lado
do espírito,
é sobretudo
de noite, oh
música,
que se misturam
todas as referências
que carrego
através do tempo
desde há milénios,
tambores e violinos,
pianos e quissanges,
valsas e rebitas
solenes.
O mundo retratado numa tela é uma espécie de horror inatingível. Se algum poeta sobre ele exercita o poder inóspito das palavras, é como se cometesse um exorcismo. Mas apenas a música tem esse terrífico e maravilhoso dom de organizar o caos, penetrando e dissolvendo-se no nosso metabolismo milenar, como prazer e impulso primordiais.
João Melo
Segura o mastro e navega-me…
Abre-te para o mundo e goza…
Beija-me o pescoço, protege-me.
Olha os meus olhos, libidinosa…
Enterra-te forte bem no fundo
Onde ninguém conseguirá desterrar
Cerra os dentes e murmura num segundo,
Queres andar sem tocar o chão, pelo ar…
Está quase, e queres mais,
Abres as mãos e os olhos,
Pedes, sim, contraís os abdominais…
Sigo-te os sinais, e dou-te o que é meu,
Abraço-te o tronco e retesas
Arqueias as costas e estás no céu…
Mário L. Soares
Porque as palavras podem aparecer em formas diferentes…
Falam as guitarras pelo Homem e ao Homem. Gemem e gritam, choram e riem, falam-nos ao ouvido e dizem-nos melodias – vão para longe e gritam-nos…
Dão-nos todos os estados de espírito – alegria e tristeza, o amor e o ódio, paixão, raiva, revolta e amizade. Tantos os sentimentos, tantas as sensações.
O ouvido sente na música o que as palavras não conseguem exprimir…
Para ouvir escutando…
Mário L. Soares
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