Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
Fernando Pessoa
Será enfrentar o medo ou conseguir vencer a dor. Pode ser vencer obstáculos. É tornear o perigo de frente. É fazer ou dizer alguma coisa conseguindo superar uma ameaça subjacente à acção ou consequente ao que foi dito.
Sendo o medo um sentimento gerado por um estímulo externo ou interno provocado por uma ameaça, dor (física ou psicológica) ou traumas do passado, que gera reacções de alerta e atenção no corpo humano com injecção de adrenalina e cortisol, preparando-o para resistir à agressão “medo” – a coragem é a acção ou reacção originada por essa alteração hormonal, e que defende o ser humano do que o atormenta.
Filosoficamente, a coragem é um acto altruísta que (como indica) tem como objectivo a defesa ou luta por algo superior a quem o faz, ou cujo ganho é externo a quem o faz. Dessa forma a coragem é um sentimento que tem características únicas e que nos leva a superarmos as nossas limitações e levarmos um pouco mais longe as nossas acções.
Nos filmes e na música, a coragem é um dos mais fortes sentimentos a ser descritos, pela sua sempre originalidade e particular distinção perante os outros sentimentos.
Poeticamente, a coragem foi, desde sempre descrita e exaltada. Desde os heróis romanos e gregos, envolvidos em mitologia e divindades, até aos anónimos nas guerras, passando pelo comum dos mortais, que também pode ser herói.
E na nossa vida? Quem tem coragem para ter coragem? Que tem coragem de mudar de vida? Quem o quer fazer, e não tem coragem? Quem não gostava, às vezes, de ter coragem?
Tenhamos coragem! Tenhamo-la!
A vida é curta, e devemos seguir o nosso coração. Abracemos o futuro com sorrisos, lágrimas e medo (sim, medo), mas sem olhar para trás! Com confiança e principalmente – coragem.
Força para todos!
Mário L. Soares
Parabéns ao blog “Lagash”. Hoje é o seu segundo aniversário. Não me parabenizo a mim próprio porque, obviamente, eu não sou o blog, apenas o alimento. Dou-lhe poesia, prosa, música e vídeos e outras coisas que ele se vai habituando a comer, e que vou filtrando conforme o apetite do menino, e os seus gostos pessoais, mas eu não sou ele!
Não há aqui falsas modéstias nem inversão de papeis. É mesmo assim. Se somos o que comemos, então “Lagash” é Fernando Pessoa, ortónimo e seus heterónimos, Natália Correia e Florbela Espanca, Camões e Almeida Garrett, Eugénio de Andrade e O’Neil, Sophia de Mello Breyner e Manuel Alegre. E é Pink Floyd e Dire Straits, Zeca Afonso e Sérgio Godinho, Duran Duran e A-Há, Rádio Macau e Xutos e Pontapés, Police e John Lennon… entre muitos outros.
Certo é, que alimento o blog (qual pelicano) de mim próprio um pouco também, com custo, por vezes, é certo, e com cansaço, por outras, também. Mas sempre na condição de alguém ler, ouvir e ver, o que quer que “postei”. E como fui também eu que o pus no mundo, faz de mim, pai, e a ele filho. E como quem “faz um filho, fá-lo por gosto”, e como alimentá-lo é preciso, para que tudo faça sentido, então todas as dificuldades e revezes que o “meu” (dele ou seu) blog me traz, não têm qualquer importância.
“Lagash” é o que “comeu”, é quem o fez, é quem o alimenta, é quem o lê e quem o ouve e segue todos os dias - é o que é!
Assim, digo:
“Parabéns Lagash! Tens dois anos de idade completos - hoje. Qualquer dia vais para a escola e começas a fumar e a pedir-me dinheiro para o bilhar! Portanto, vê se cresces e continuas a engordar. Continua a ser bonito por dentro (como diz a mamã) e a mostrares o melhor que existe daquilo que és. A ser respeitador e amante de tudo o que está em ti, dos autores de que te alimentas e com eles cresces, dos leitores e ouvintes que te respeitam e amam. Faz-te Homem e avança sem medo, estrada fora em velocidade cruzeiro de um «post» por dia, um dia de cada vez… e se um dia, um dia falhares um dia, não faz mal, acontece. Amanhã é outro dia, tens muitos dias e tu és grande. Força. Beijinhos e abraços.”
Mário L. Soares
Andando por aquelas ruas desertas, já era de noite, ele percebeu que não estava sozinho. Por um instante ficou imóvel para escutar aquilo que julgava ser passos, enquanto os seus olhos vasculhavam à sua volta em busca de vultos ou movimentos estranhos. Como não viu nada, pensou ser uma coisa da sua imaginação.
Começou outra vez a caminhar; dessa vez mais lentamente e, uma vez mais julgou ouvir passos que não eram os seus. Encostou-se à parede e ficou sem respirar por um momento; isso permitiria-lhe aguçar os sentidos e ouvir com mais clareza. E nada, apenas o incrível silêncio da noite. A sua mente já começava a trabalhar com muitas possibilidades. Era como naquelas horas em que se escuta um barulho qualquer e sons estranhos parecem intrometer-se no meio.
Lembrou-se de uma explicação que ouvira sobre isso; disseram-lhe uma vez: “As palavras quando são pronunciadas, acabam por criar entre elas, quer dizer, no intervalo entre uma e outra, sons inexistentes...”. Podia até ser isso.
Depois ele pensou: “a quem interessaria seguir-me a meio da noite?” Estava claro que aquilo era uma coisa da sua mente, apenas mais uma das suas brincadeiras sem explicação. Lembrou-se então do dia que acordara a meio da noite com um grande barulho, onde apanhara um susto tão grande, que em vez de correr da cama em direcção à porta, correu em direcção à parede. Simplesmente ficara desorientado, sem saber se era de manhã ou de noite, ou onde estava, ou se tinha um nome.
Depois de chocar contra a parede, ele chegou a duvidar se realmente existira o tal barulho, ou não fora uma invenção de sua mente. Mas agora era diferente, pois estava bem acordado. Mas a sua imaginação já tinha iniciado um processo irreversível, de criar as mais estranhas possibilidades para explicar aqueles supostos passos que escutara. Este era um grande problema, uma vez que ela criava sempre coisas que não existiam, e até que tudo ficasse esclarecido, nem ela desistiria da busca, nem ele deixaria de ter medo.
Ele pensou sobre isso; sobre o porquê da mente inventar as coisas e estas parecerem ser de verdade. “Deviam explicar isto na escola”, comentou tentando distrair-se. Mas, na escola só explicavam coisas sem importância, que de nada serviriam para acalmá-lo naquele momento de medo. De que lhe servia, por exemplo, saber naquele instante, qual a distância em quilómetros entre a terra e a lua; ou quantos planetas existem no espaço?
Olhou para cima e viu dezenas de pontinhos brilhantes, que chamavam estrelas, e estes pontinhos mais pareciam rir da sua incapacidade em vencer o seu próprio medo. Ali, naquele espaço inalcançável, tudo parecia tranquilo, e a existência dos seus problemas, da sua angústia em não saber resolver aquela questão, nada para eles significava. Escutou ao longe os latidos dos cães à noite, que pareciam combinar entre si quando deviam iniciar e parar a algazarra, na maioria das vezes sem motivo nenhum. Bastava um começar, e logo os outros o imitavam, como se aquilo fosse uma conversação de longa distância entre eles. Se calhar até era isso mesmo.
Como estava numa rua principal, andou mais um pouco e entrou num beco. Ali permaneceu quieto e oculto na escuridão do beco, enquanto aguardava a passagem do seu suposto seguidor. Depois pensou se não seria pior, pois ao passar diante do beco, ele com certeza que o veria logo. Escondeu-se atrás de uns sacos de lixo que estavam ali próximos e lá permaneceu, enquanto sua mente fazia de tudo para o atormentar com suas ideias mais esquisitas.
Do ponto onde se encontrava, podia ver um pequeno trecho iluminado da rua principal, como se fosse uma janela. Então escutou os passos, e como estava imóvel, respirando a longos intervalos para não atrapalhar a sua audição, aquele barulho de modo algum podia ter como origem ele próprio. Se ficou aliviado em saber finalmente que os passos não eram coisa da sua imaginação, logo os seus pensamentos, como se fossem um conselheiro cruel que o detestava, iniciaram um novo processo para tentar explicar o que viria a seguir. “Se pelo menos eles se aquietassem, ajudaria tanto...”, referiu-se amargurado em relação aos seus pensamentos.
E à medida que os passos se aproximavam da entrada do beco, mais a sua mente brincava a torturá-lo com as mais estranhas e horripilantes fantasias. Observando melhor, percebeu que a meio da enxurrada de pensamentos que brigavam entre si por um pouco de atenção, nada havia para motivá-lo, para lhe dar ânimo, mas apenas para dar-lhe desânimo, aflição e cada vez mais medo.
Viu uma sombra se aproximando lentamente da entrada do beco e o seu coração disparou, enquanto já imaginava em que direcção deveria correr para escapar do perigo. Mas, de repente, a poucos passos da entrada do beco, a sombra projectada no chão, parou de se mover e ali permaneceu como que de vigília. De olhos fixos, ele observava a sombra para ver se se movia, e foi nesse momento que aconteceu um verdadeiro milagre.
Ele descobriu que aquele beco era onde era a sua casa; lembrou-se ao sentir o peculiar cheiro de lixo sobre o qual a sua mãe dizia sempre: “Não é toda a gente que tem o privilégio que nós temos! Enquanto os outros precisam andar muito para encontrar um caixote do lixo, nós já moramos em frente a um enorme. Só imundície fina...”. E animado ele viu o buraco onde morava, e entrou lá sossegado. Afinal de contas, aquilo podia ser muito bem um gato, que é o pior pesadelo de um rato.
Alberto S. Grimm
Nesta altura do ano, quer-se agradar a todos os mais queridos e presenteá-los com bonitas e caras prendas.
Sob o divino auspício do todo-poderoso Pai Natal, queremos comprar este mundo e o outro para poder chegar ao coração dos nossos familiares, colegas de trabalho e amigos. Sabemos quem nos vai dar presentes e obrigamo-nos a retribuir, de preferência com um presente de igual valor, para não parecer mal e para não ficar mal visto. Damos, pelo acto e facto de “ter de ser” sob pena de irmos para o inferno do pós vida e para o inferno da vida actual, que não é mais que a tal lista dos “desgraçados que não me deram nada pelo Natal”, ou aquela lista dos que “eu dei-lhe um presente tão bonito, e não recebi nada em troca…”.
O Natal é mais do que isso. É tempo de lembrar os mais queridos. É tempo de querer estar com essas pessoas. É tempo da palavra saudade e de amor. É altura de estarmos bem, sentirmos quente, comer e beber, contar histórias antigas, rir e cantar. Esse é espírito do Natal.
Natal é quando o Homem quer? Sim, mas mais do que isso, Natal é o que o Homem quiser. E isso significa que podemos fazer do nosso Natal um dia de compras, consumismo e materialização do capitalismo, ou, independentemente dessa premissa, podemos adicionar-lhe o nosso amor pelo próximo e transformá-lo num dia de alegria. Assim, dando amor, e sendo esse o nosso principal presente, podemos fazer dos Natais de todos os lares de todo o mundo, um centro de troca de energias positivas e de crescimento espiritual, intelectual, emocional e psíquico.
Troque uma história bonita com o seu pai, mãe, irmão, amigo ou quem quer que esteja consigo neste Natal. Dê ao próximo um sorriso e espere o mesmo de volta. Faça rir quem está à sua volta – é fácil – lembre-se de como era quando era criança… infantil? Sim, mas tão bom… Dê um beijo a quem ama. Assim, simplesmente – um beijo. Verá que outros olhos estarão à sua frente. Adicione um abraço quente e sincero. Embrulhe tudo com um carinho e palavras de amor ridículas… Um sucesso!
As prendas deviam ser assim. Mas, à falta de melhor, ofereça umas peúgas… fica sempre bem e é muito económico.
Beijos e abraços e desejos de um bom Natal.
Mário L. Soares
Quem quer que seja de algum modo um poeta sabe muito bem quão mais fácil é escrever um bom poema (se os bons poemas se acham ao alcance do homem) a respeito de uma mulher que lhe interessa muito do que a respeito de uma mulher pela qual está profundamente apaixonado. A melhor espécie de poema de amor é, em geral, escrita a respeito de uma mulher abstracta.
Uma grande emoção é por demais egoísta; absorve em si própria todo o sangue do espírito, e a congestão deixa as mãos demasiado frias para escrever. Três espécies de emoções produzem grande poesia - emoções fortes e profundas ao serem lembradas muito tempo depois; e emoções falsas, isto é, emoções sentidas no intelecto. Não a insinceridade, mas sim, uma sinceridade traduzida, é a base de toda a arte.
Fernando Pessoa
Deixo-vos esta reflexão de Fernando Pessoa no 74º aniversário da sua morte. Este que é o maior poeta de todos os tempos e de todas as nações. É também um pensador, um filósofo, um amante da arte e do estudo, do saber e do Homem.
Uma personagem única, uma imagem única, uma mente e intelecto únicos, um Homem único.
Mário L. Soares
("Olhando o céu", foto de João Viegas - http://olhares.aeiou.pt/joaoviegas )
Era um rapazinho estranho, pensavam os colegas e a família, pouco à vontade, caminhando de mansinho, cerimonioso, na vida, e às vezes como que esquecido dela. Não entrava no esquema, e as pessoas que o rodeavam sentiam-se frustradas e até impotentes, irritadas às vezes, perante a sua inércia e o seu desinteresse, mais ainda perante o seu leve, quase inexistente interesse por coisas que eram decerto erradas porque as ignoravam. Dir-se-ia que ele se ia perdendo aos poucos, ao longo dos dias. O seu olhar redondo parecia às vezes ficar pegado, ali e além, mas sempre num ali e num além desinteressantes para os outros, perigosos, e quando um grito ou uma repreensão obrigava o olhar a soltar-se, a criança parecia de repente magoada, perplexa e só, num mundo desconhecido.
Na escola aprendia com dificuldade e o computador que dava mensalmente as notas, com a sua gelada isenção de máquina, queixava-se sempre dele em cartão perfurado. Não gostava de números, o que afligia os pais, porque os números eram a única solução para os homens e ninguém podia ganhar a vida sem conviver com eles intimamente. Também não se interessava muito pelos jogos nem mesmo pela televisão que tinha no quarto, e passavam-se dias em que nem sequer tocava nos botões do aparelho maravilhoso. O «écran» era programado para a sua idade e para os gostos que alguém muito sabedor, sem a menor hesitação lhe atribuía. Cada pessoa tinha a sua televisão, programada de um modo especial, assim eram feitas as casas. O «écran» acendia-se numa espécie de altar, porque se tratava de um só deus omnipresente embora tivesse um rosto e uma voz para cada um dos seus adoradores. Como, de resto, todos os deuses de todos os tempos.
O rapazinho deambulava pois pela escola ou pela casa, como um corpo sem alma. À noite, enquanto o pai e a mãe olhavam em êxtase para os «écrans» respectivos, não se punha outra hipótese, o rapazinho metia-se no elevador e ia até ao terraço que ficava no quinquagésimo andar. Ali acabara o reino das moscas e o único f í era luminoso e parecia suspenso no tecto côncavo da abóbada celeste, porque era poeira de estrelas. E então escrevia no ar e apagava o que escrevia e escrevia de novo.
Um dia a mãe seguiu-o, Se queria adoecer, disse-lhe. Já que gostava de ver o céu, por que não ligava para o programa das nove horas? Era a mesma coisa, era mesmo muito melhor e a casa estava aquecida.
Corou, envergonhado ou até assustado, sem saber porquê mas com a consciência intranquila de estar a cometer uma interdição, e essa intranquilidade vinha-lhe do facto de não conhecer ninguém que perdesse tempo a olhar para o céu. A mãe tinha razão. Os rapazes da escola e as raparigas, claro, falavam desse programa. E havia também os planetários e os grandes telescópios públicos. Mas aí está, nada, disso o interessava. Era multo científico e sem mistério. Ele gostava era daquele pozinho de luz, suspenso sobre a sua cabeça. Mas nessa noite a mãe acusa-o de a tomar infeliz, e o rapazinho, que gostava muito dela, prometeu emendar-se e ficar atento às coisas da vida.
Cumpriu na medida do possível. Aprendeu a lidar com os números, tão áridos, e soube mexer com relativo à-vontade nos mil botões das muitas máquinas indispensáveis ao dia-a-dla das criaturas. Os pais, tranquilizados, respiraram fundo. O filho estava finalmente a preparar-se para a vida.
Um dia, porém, ele fez um poema. Não sabia que era um poema porque coisas dessas, inúteis ao bem-estar e ao progresso, já não se aprendiam nas escolas. Mas o rapazinho estava sentado à sua máquina electrónica para traçar o esboço de um relatório e em vez disso fez um poema em que se tratava de uma prisão invisível, da proibição de viver a de morrer, da obrigatoriedade de esperar uma vida inteira, se necessário fosse, por coisa nenhuma. Era um poemazinho ingénuo, mas ele sentiu-se tão assustado como quando a mãe o surpreendera a olhar para as estrelas. E escondeu-o, bem escondido, no fundo de uma gaveta,
Um dia alguém bem pensante da família achou o poema e foi mostrá-lo à mãe, que o leu, angustiada. Ela sabia daquele mal antigo e persistente cuja cura só fora descoberta havia umas dezenas de anos. A cura, quando a doença estava no princípio. Estaria no princípio a doença do filho? Não teria já nascido doente sem ela o saber?
A noite falou com o marido e no dia seguinte levaram o rapazinho à clínica dos casos urgentes. O médico fez multas perguntas, leu o texto muitas vezes para o perceber bem, quis saber o que a criança sentira ao escrevê-lo, porque o escrevera, para quê, tomou notas, forneceu-as ao computador-ajudante. Aquilo de ter ido ao último andar olhar o céu — quantas vezes? Quando fora a primeira? — era um sintoma aborrecido. O exame durou uma hora. Depois o médico sentou-se à sua mesa de trabalho, leu a resposta, fechou os olhos, abriu-os, declarou aos pais em pânico: «O que ele tem chama-se poesia.»
«Era o que eu receava», disse o pai. «Era o que eu receava», repetiu.
«Houve alguém na família...» ia perguntar o médico.
A mãe precipitou-se: «Não, não, ninguém. Somos todos absolutamente normais.»
«Então há esperança. Se fizer o tratamento com regularidade, há esperança.»
Fez o tratamento e curou-se. Uma pílula azul e outra verde pela manhã, um comprimido à tarde, uma injecção semanal. Durante três meses. Quando voltou ao médico estava curado.
Dai em diante deu-se todo às máquinas e ergueu muros que impediam toda e qualquer fuga para além do quotidiano. Sentiu-se, de resto, muito bem no esquema que passou a considerar certo. E entre outras coisas converteu-se ao deus caseiro. Foi um homem como os outros homens, portanto feliz, que mais se podia desejar?
Maria Judite de Carvalho
O ‘post’ de hoje, resolvi que deveria ser diferente… Hoje é dia 9 de Setembro (9) de 2009, e são (milagres da tecnologia) 9 horas e 9 minutos.
O número nove é um número mágico que tem significados variados, alguns até sinistros. No entanto cabe lembrar alguns interessantes:
· O número 9 quando multiplicado por qualquer outro algarismo de 1 a 9, produz um resultado que somando os seus algarismos entre si retorna novamente ao número 9, por exemplo, 9x2=18 e 1+8=9, 9x3=27 e 2+7=9, e por aí fora até chegarmos novamente ao nove.
· 9 x 12345679 = 12345678987654321
· O número 9 é um dos números da sorte para os chineses…
· O número 9 é o número de Adão. As 9 esferas celestes, e os 9 espíritos elevados que as governam (para outras formas de ver o mundo).
· Os 9 meses de gravidez, os orifícios corporais…
· A estrela de 9 pontas e a perfeição do número 9 para a fé Bahá'í que unifica as religiões do mundo.
· O número 9 é o princípio da luz divina e é o número dos iniciados.
· O número 9 num relógio de ponteiros forma um ângulo recto, que tem por si só uma série de significados .
Portanto hoje o pensamento é 9…
Mário L. Soares
“De tempos a tempos é bom fecharmos os olhos, e naquele escuro dizer para nós próprios, ‘Eu sou o feiticeiro, e quando abrir os meus olhos verei o mundo que criei, e para com o qual eu, e apenas eu, sou completamente responsável.’ Lentamente, então, as pestanas abrem-se como as cortinas de um palco. E seguramente, estará lá o nosso mundo, tal e qual como o construímos.”
Richard Bach
in “A ponte para o sempre” de 1984. A tradução é minha a partir do Inglês.
A Primavera chegou.
Dois jovens enamorados passeavam nas margens de um rio caudaloso.
Inesperadamente um ramo de miosótis surgiu flutuando nas águas revoltas.
A jovem, encantada com as flores, quis tirá-las do rio.
O jovem, de forma destemida, atirou-se à água para as apanhar e dar à sua amada como prova do seu amor.
Mas a forte corrente do rio não permitiu que ele pudesse regressar à margem.
Sentindo-se sem forças e na eminência de se afogar, ainda gritou:
- Não me esqueças, ama-me sempre!
Desde então, o miosótis floresce nas margens dos rios e simboliza: Não-me-esqueças...
Lenda popular
A história recente atribuiu-lhe ainda outro significado, não menos importante ou dramático e com uma carga emocional fortíssima.
Logo após a tomada do poder de Hitler, os maçons alemães perceberam que a maçonaria estava em perigo na Alemanha. Mais tarde viram que estaria em perigo também pelo resto da Europa e pelo mundo, bem como a própria vida dos maçons. Assim, como forma de reconhecimento imediato e aberto, em substituição do tradicional esquadro e compasso, a Grande Loja da Alemanha decidiu substitui-lo por uma flor – o miosótis, já que o outro símbolo era amplamente conhecido pelo regime Nazi. Era usado na lapela do casaco.
Serviu desta forma para que os maçons se reconhecessem e para mantê-los ligados entre si.
Actualmente os maçons usam o “Forget me not” na lapela em memória dos mortos da grande guerra e como forma de repudio às atrocidades do holocausto. Significa assim, “nunca esquecerei”. Pode ser usado também em memória de um irmão que partiu.
Mário L. Soares
Eu não sei se é o acaso que sabe seduzir, ou se é o encontro entre duas possibilidades cortantes, jamais saciadas, que nos faz violentar o pacato sossego do casto, em prol da urgente e consentida arrogância de querer. Agora, quiçá pra sempre! O querer é violento e rouba fidelidade das mais nobres intenções. Estupor para com o pecado alheio. Em sendo o nosso, não haverá nunca demérito numa cama dividida. E bem dividida! "Te acaricio a margem neutra dos cabelos enquanto te lambo a virilha". A frase aquecida de sentido-instinto é feto de desenvolvimento instantâneo: já nasce na concepção. E tua pressa dentro de mim rosnando amanhãs. E tudo mais é o amanhã. Caminhos supostos, valores imbricados uns nos outros, como as telhas de um telhado, ou as escamas do peixe. A pressa de dizer o que é o certo, enquanto se tira a roupa de baixo para o banho. Não haverá crime de que eu não me arrependa. Não haverá crime que eu não volte a cometer. É lancinante o verbo da manhã acordando o sol num despertar magnífico de pássaros; meio raio, meio gente, instigando o teu jeito manso de me dizer sim. À borda do cálice de intrigas, peço um espumante e trago comigo a fumaça do grito de alerta. Ontem à noite foi ontem à noite. Resta o amanhã entre o ontem e o presente. Eu vou ser é mais elipse, mais anacoluto, esquecer a condicional porque se eu te merecesse, eu não te idealizaria. E as cortinas ventam soluços esquecidos num momento de senão. E a horda toda roça esse emplastro-medo de viver na cara da gente. Medicamento que amolece e adere no corpo, adere na alma, mas não se converte no remendo que remendei. Remédio fajuto. Há de ser o medo do sono, o medo de sonhar. Uso minha cama pra dizer adeus. E vou.
Beta
Faço projectos, planos, planificações;
Sou membro de assembleias, conselhos, reuniões;
Escrevo actas, relatórios e relações;
Faço inventários, requerimentos e requisições;
Escrevo actas, faço contactos e comunicações;
Consulto ordens de serviço, circulares, normativos e legislações;
Preencho impressos, grelhas, fichas e observações;
Faço regimentos, regulamentos, projectos, planos, planificações;
Faço cópias de tudo, dossiers, arquivos e encadernações;
Participo em actividades, eventos, festividades e acções;
Faço balanços, balancetes e tiro conclusões;
Apresento, relato, critico e envolvo-me em auto-avaliações;
Defino estratégias, critérios, objectivos e consecuções;
Leio, corrijo, aprovo, releio múltiplas redacções;
Informo-me, investigo, estudo, frequento formações;
Redijo ordens, participações e autorizações;
Lavro actas, escrevo, participo em reuniões;
E mais actas, planos, projectos e avaliações;
E reuniões e reuniões e mais reuniões!...
E depois ouço,
alunos, pais, coordenadores, directores, inspectores,
observadores, secretários de estado, a ministra
e, como se não bastasse, outros professores,
e a ministra!...
Elaboro, verifico, analiso, avalio, aprovo;
Assino, rubrico, sumario, sintetizo, informo;
Averiguo, estudo, consulto, concluo,
Coisas curriculares, disciplinares, departamentais,
Educativas, pedagógicas, comportamentais,
De comunidade, de grupo, de turma, individuais,
Particulares, sigilosas, públicas, gerais,
Internas, externas, locais, nacionais,
Anuais, mensais, semanais, diárias e ainda querem mais?
- Querem que eu dê aulas!?...
(desconheço o autor do texto)
Não querendo politizar um bom texto e sem concordar com algumas manifs que se têm feito, sem qualquer alternativa ao mau sistema existente, nem a outra alternativa à nova introduzida, não pude deixar de publicar esta tão pertinente opinião sobre (um / este) sistema de ensino.
A todos os professores, os meus cumprimentos.
Mário L. Soares
Não partas já. Fica até onde a noite se dobra
para o lado da cama e o silêncio recorta
as margens do tempo. É aí que os livros
começam devagar e as cores nos cegam
e as mãos fazem de norte na viagem. Parte apenas
quando amanhã se ferir nos espelhos do quarto
em estilhaços de luz; e um feixe de poeiras
rasgar as janelas como uma ave desabrida.
Alguém murmurará então o teu nome, vagamente,
como a gastar os dedos na derradeira página.
E então, sim, parte, para que outra história se
invente mais tarde, quando os pássaros gritarem
à primeira lua e os gatos se deitarem sobre
o muro, de olhos acesos, fingindo que perguntam.
Maria do Rosário Pedreira
Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.
Nuno Júdice
O que quer que faças, fá-lo com garra, com vontade, com determinação e querer. A diferença entre o ir fazer, o fazer e o estar feito, é o tempo, e esse tempo deve ser passado da melhor maneira possível porque tudo é o que fazes. Todo tempo que passa é o tempo que tu passas. Todos os momentos que passam são os momentos teus que tu passas. Tudo o que é feito é o que tu fazes. Não serás digno de fazer coisas bem feitas? E saboreá-las?
Faz de ti o melhor que podes, pois és aquilo que fazes e o que tu fazes é o que és. A tua acção traduz em concreto o teu pensamento. Se pensas no bem, fazes coisas boas. Se pensas no mal, não o devias…
És tu o motor da tua vida. A tua vida é os momentos que tens, com as pessoas e coisas com que interages. É o que lês e comes. O que bebes e vês. O que ouves e sentes. O que beijas e amas. Faz valer o teu motor.
Mas faz… não pares porque não queres falhar. Falha, faz e repete, se puderes. Se não puderes, faz na mesma. Parte os copos que tiveres que partir, mas não deixes de beber o teu vinho com o medo de os partir, porque o teu copo é apenas o recipiente que usas para transportar o teu vinho. Não lhe dês demasiada importância.
Age!
Mário L. Soares
Sitios interessantes (ou não)
CDS - Centro Democrático Social
Não asses mais carapaus fritos
PCP - Partido Comunista Português
PSD - Partido Social Democrata
Vida de um Português - grande brother!
Universidade
Motores de Busca
Dicionários e Enciclopédias