Enfermidade da vida
E a vida própria perdida
Que é o que temos
E é o que dentro tememos
Fugimos do amor e do sorriso
Corremos ao Inferno, esquecido o paraíso
Choramos a vida e o sal
Abraçamos o sofrer e o mal
Amamos o ouro, jóias e cimento
Todas as posses e poder
E vis coisas de tormento
Queremos, para não mais saber
Parar a vida no firmamento
Abrir os olhos e deixar de ver.
Mário L. Soares
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão. -
Por não ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras?
Tudo.
Que desejas?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
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