Pela flor pelo vento pelo fogo
Pela estrela da noite tão límpida e serena
Pelo nácar do tempo pelo cipreste agudo
Pelo amor sem ironia – por tudo
Que atentamente esperamos
Reconheci a tua presença incerta
Tua presença fantástica e liberta
Sophia de Mello Breyner Andresen
O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que eu na alma vejo,
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.
Como de dous ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.
Ditosa aquela flama, que se atreve
A apagar seus ardores e tormentos
Na vista de que o mundo tremer deve!
Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos.
Luis Vaz de Camões
Pudesse uma só lágrima apagar todo esse fogo
que consome de ódio os negros corações,
que obriga a estar em alertas os olhos cansados,
que provoca a guerra entre as nações.
Pudesse todo este fogo ser apenas
a chama de uma vela quente e sensual,
que ilumina o espírito dos sábios
na eterna luta do bem contra o mal.
Pudesse ser todo o horror do atentado
apenas uma breve e falsa ilusão,
uma noite encharcada de suores e frio,
nunca um caudal de morte e destruição.
Pudesse ser este poema uma alegria,
uma mensagem grandiosa de amor,
pudesse não ter nas suas palavras
a lembrança do ódio e do horror.
Pudesse ser este poema o suficiente
para todos podermos agradecer
o esforço dos soldados da paz
que encontram na solidariedade o seu dever.
Luís Costa Pires
Nove cavaleiros cavalgaram em passo decidido,
Os nove encontraram o medo perdido,
Agarraram a vida e o conhecimento vivido,
Pela humanidade perdida no mundo esquecido.
Imponentes e firmes peregrinos guardaram,
Outros companheiros, mestres tornaram,
Para a Sua gloria e amor glorificaram,
E hoje ainda, os há, quem sabe ficaram?
Fortes e ricos eram em vida, o querer,
Na mão tinham, terras, reinos e poder,
Nada tinham no fundo, era apenas o ser,
Riqueza de dentro, amor e prazer.
Na morte, p’la cruz, a rosa e a vida,
O sangue derrama na terra pérfida,
Além ascendem com a alma aquecida,
O amor pelo próximo, sempre em cada investida.
Com espada de fogo combatem o mal,
Rodopiam pelo ar que provoca a espiral,
De branco tingidos de água e cal,
A terra de sangue em cruz por igual.
Mário L. Soares
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