Quinta-feira, 10 de Setembro de 2009

O Anjo Caído

 

(Estátua de Lúcifer - "El Ángel Caído" em Madrid no Parque del Retiro) 

 

Era um anjo de Deus

Que se perdera dos céus

E terra a terra voava.

A seta que lhe acertava

Partira de arco traidor,

Porque as penas que levava

Não eram penas de amor.

 

O anjo caiu ferido,

E se viu aos pés rendido

Do tirano caçador.

De asa morta e sem ‘splendor

O triste, peregrinando

Por estes vales de dor,

Andou gemendo e chorando.

 

Vi-o eu, o anjo dos céus,

O abandonado de Deus,

Vi-o, nessa tropelia

Que o mundo chama alegria,

Vi-o a taça do prazer

Pôr ao lábio que tremia...

E só lágrimas beber.

 

Ninguém mais na terra o via,

Era eu só que o conhecia...

Eu que já não posso amar!

Quem no havia de salvar?

Eu, que numa sepultura

Me fora vivo enterrar?

Loucura! ai, cega loucura!

 

Mas entre os anjos dos céus

Faltava um anjo ao seu Deus;

E remi-lo e resgatá-lo,

Daquela infâmia salvá-lo

Só força de amor podia.

Quem desse amor há-de amá-lo,

Se ninguém o conhecia?

 

Eu só, - e eu morto, eu descrido,

Eu tive o arrojo atrevido

De amar um anjo sem luz.

Cravei-a eu nessa cruz

Minha alma que renascia,

Que toda em sua alma pus,

E o meu ser se dividia,

 

Porque ele outra alma não tinha,

Outra alma senão a minha...

Tarde, ai! tarde o conheci,

Porque eu o meu ser perdi,

E ele à vida não volveu...

Mas da morte que eu morri

Também o infeliz morreu.

 

Almeida Garrett

 

publicado por Lagash às 16:14
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Domingo, 2 de Agosto de 2009

O Encoberto

 

 

Que símbolo fecundo

Vem na aurora ansiosa?

Na Cruz Morta do Mundo

A Vida, que é a Rosa.

 

Que símbolo divino

Traz o dia já visto?

Na Cruz, que é o Destino,

A Rosa que é o Cristo.

 

Que símbolo final

Mostra o sol já desperto?

Na Cruz morta e fatal

A Rosa do Encoberto.

 

Fernando Pessoa

in “A Mensagem”

 

publicado por Lagash às 16:27
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Domingo, 10 de Agosto de 2008

Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam

 

 

 

 

Nove cavaleiros cavalgaram em passo decidido,

Os nove encontraram o medo perdido,

Agarraram a vida e o conhecimento vivido,

Pela humanidade perdida no mundo esquecido.

 

Imponentes e firmes peregrinos guardaram,

Outros companheiros, mestres tornaram,

Para a Sua gloria e amor glorificaram,

E hoje ainda, os há, quem sabe ficaram?

 

Fortes e ricos eram em vida, o querer,

Na mão tinham, terras, reinos e poder,

Nada tinham no fundo, era apenas o ser,

Riqueza de dentro, amor e prazer.

 

Na morte, p’la cruz, a rosa e a vida,

O sangue derrama na terra pérfida,

Além ascendem com a alma aquecida,

O amor pelo próximo, sempre em cada investida.

 

Com espada de fogo combatem o mal,

Rodopiam pelo ar que provoca a espiral,

De branco tingidos de água e cal,

A terra de sangue em cruz por igual.

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:03
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