São crianças aquelas
Que vês ao fundo
No caminho que velas
Na trilha do mundo
Brilham os olhos
Lágrimas de amor
E abraços aos molhos
Pedaços sem dor
É amor o que vendem
E sonhos escondidos
São as coisas que sentem
São os choros sentidos
E a alegria que aprendem
No coração garantidos
Mário L. Soares
Será que é aquilo que parece?
Ou poderá o que fosse, não ser,
E ser aquilo que me apetece
Em vez daquilo que estou a ver?
Não será o que é, por certo,
Nem poderá ser aquilo que penso,
Está mesmo aqui tão perto,
Que os meus olhos não venço.
Que pode ser que vê a mente
Que nem o coração ver quer,
E o peito rebenta quando sente.
É apenas o que quero perceber:
Será aquilo que não vê a gente,
Mas aquilo que se quer ver?
Mário L. Soares
IV
Conclusão a sucata!... Fiz o cálculo,
Saiu-me certo, fui elogiado...
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expõe um pequeno animálculo
A microscópio de desilusões
Findei, prolixo nas minúcias fúteis...
Minhas conclusões práticas, inúteis...
Minhas conclusões teóricas, confusões...
Que teorias há para quem sente
O cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou?
Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou...
Álvaro de Campos
I
Sou vil, sou reles, como toda a gente,
Não tenho ideais, mas não os tem ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas mente.
Quem diz que busca é porque não os tem.
É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.
Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo e leio.
Justificar-me? Sou quem todos são...
Modificar-me? Para meu igual? ...
- Acaba lá com isso, ó coração!
Álvaro de Campos
Penso em ti
e no teu abraço,
no teu beijo
no nosso laço.
Gosto de amar
e em ti sorrir
de te olhar
e o céu abrir.
De o corpo suar
e de alma oferecida
no éter pairar.
Oh, minha querida!
Sinto o coração voar
no meu peito, p’la tua vida.
Mário L. Soares
Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!
Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!
"Amo-te!" Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...
Florbela Espanca
Confio no sorriso de uma criança,
creio no ser melhor todos os dias.
Acredito no cume da montanha
que toca o céu com as mãos.
Confio naquele olhar infinito,
no porvir mais desejado,
na sinceridade dos Homens,
e na verdade da Palavra.
Confio no saber e nos livros,
no bem sobre o mal,
no coração de um mendigo,
mesmo que falseie o seu mundo.
Confio em ti e no momento,
e no que sentes assim.
Confio-te o meu ser – agora.
Confio na tua mão e no amor.
Mário L. Soares
Dar-te-ia o meu coração
no momento em que te vi.
Mas deixá-lo-ias cair ao chão,
no escuro piso de alcatrão,
tal é o peso do meu amor por ti.
É para evitar essa maçada
que te entrego antes este beijo.
É mais leve e não dói nada!
E prometo que quando fores beijada
será com todo o meu desejo.
Pelo sim, pelo não,
vem ai um camião,
vamos é fugir da estrada,
antes que a gente morra atropelada
e fica o beijo para outro dia.
Vicente Roskopt
in http://osedutorfarsolas.blogspot.com
Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão. -
Por não ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras?
Tudo.
Que desejas?
Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.
A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?
Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)
Quero solidão.
Cecília Meireles
(foto de Oliver Ross)
Estão barradas as portas
Blocos grandes de cimento
Cobrem de negro rosas mortas
Que jazem no chão eternamente
São vidas perdidas, paradas…
Pára o sangue que está a morrer,
Pede perdão às pedras suadas
E uma nova razão de viver!
A mão que rasga o tijolo rugoso,
Que empurra a murro a pedra imóvel
Que lava de lágrimas o concreto orgulhoso.
Bate no coração que quer viver
Volve dentro do peito de raiva!
Será ele que o irá vencer…
Mário L. Soares
O amor ao amante amado e desejado é a sensação do coração, que a mente tenta compreender, o corpo tenta controlar, os olhos tentam observar, os ouvidos escutar, as mãos palpar, o pintor recriar, o músico harmonizar, o poeta em palavras falar. Mas nenhum algum dia conseguirá recitar a mais bela pintura, que harmoniza pelo ar, impossível de recriar, um som inaudível, transparente e no entanto sempre lá, incontrolável e incompreensível, que é o amor.
Mário L. Soares
Uma torrada e um sumo de laranja, por favor…
Uma vida e todo o seu sentido, bem fresco…
Um galão e uma tosta mista, faz favor…
A tua mão e toda a tua liberdade, bem quente…
Um fino e uma bola de Berlim p’ro miúdo…
Um vício e um tormento diário, para todos…
Um prego no pão e um bagaço, para o balcão!
Anos de vida sem passado nem futuro!
Uma ginjinha e um croissant aquecido
Uma nikita e uma broa de mel!
A cabeça de João Baptista numa bandeja!
Uma bifana com queijo e uma bica cheia…
Uma italiana e um pastel de bacalhau!
O meu coração cortado às postas!
Mário L. Soares
Tens um odor encantado,
Meu objeto adorado,
Colibri dos dias meus...
Se me beijas como à flor,
Eu me entrego com ardor
Ao sabor dos lábios teus.
Nosso caso, apimentado,
Com tempero de pecado,
Transborda em excitação.
No vai-vem dos nossos laços,
No roçar de nossos braços,
Explode esta relação.
O momento mais bonito
É quando vibro e grito
De tanta satisfação...
Nada embota este prazer
Que é a ti pertencer,
Corpo, alma e coração...
Piero Valmart
Parar o mundo e dormir
Colocar uma pausa na música
Burburinho a tinir…
Cobrir o céu com a túnica
Silenciar os pássaros a voar,
Calar as bocas que falam,
Segurar assobio no ar.
Param as coisas que estalam…
Tudo está calmo e parado,
Todos somos nós e os outros,
Nada está mais que calado.
Todo o som nos dá calma,
Só o coração bate aos socos,
E o silêncio, a música da alma.
Mário L. Soares
Não sei se um coração basta
Para que bata sozinho,
Não sei se o amor
Leva a água ao moinho,
Não sei se o beijo
Apazigua paixões.
Nem se é isso
Que altera emoções.
Sei apenas que és quem vai voltar.
És tu o meu amar.
Mário L. Soares
Sitios interessantes (ou não)
CDS - Centro Democrático Social
Não asses mais carapaus fritos
PCP - Partido Comunista Português
PSD - Partido Social Democrata
Vida de um Português - grande brother!
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