Lembro-me agora que tenho de marcar um
encontro contigo, num sítio em que ambos
nos possamos falar, de facto, sem que nenhuma
das ocorrências da vida venha
interferir no que temos para nos dizer. Muitas
vezes me lembrei que esse sítio podia
ser, até, um lugar sem nada de especial,
como um canto de café, em frente de um espelho
que poderia servir até de pretexto
para reflectir a alma, a impressão da tarde,
o último estertor do dia antes de nos despedirmos,
quando é preciso encontrar uma fórmula que
disfarce o que, afinal, não conseguimos dizer. É
que o amor nem sempre é uma palavra de uso,
aquela que permite a passagem à comunicação
mais exacta de dois seres, a não ser que nos fale,
de súbito, o sentido da despedida, e cada um de nós
leve, consigo, o outro, deixando atrás de si o próprio
ser, como se uma troca de almas fosse possível
neste mundo. Então, é natural que voltes atrás e
me peças: «Vem comigo!», e devo dizer-te que muitas
vezes pensei em fazer isso mesmo, mas era tarde,
isto é, a porta tinha-se fechado até outro
dia, que é aquele que acaba por nunca chegar, e então
as palavras caem no vazio, como se nunca tivessem
sido pensadas. No entanto, ao escrever-te para marcar
um encontro contigo, sei que é irremediável o que temos
para dizer um ao outro: a confissão mais exacta, que
é também a mais absurda, de um sentimento; e, por
trás disso, a certeza de que o mundo há-de ser outro no dia
seguinte, como se o amor, de facto, pudesse mudar as cores
do céu, do mar, da terra, e do próprio dia em que nos vamos
encontrar; que há-de ser um dia azul, de verão, em que
o vento poderá soprar do norte, como se fosse daí
que viessem, nesta altura, as coisas mais precisas,
que são as nossas: o verde das folhas e o amarelo
das pétalas, o vermelho do sol e o branco dos muros.
Nuno Júdice
Não falei contigo
Com medo que os montes e vales que me achas
Caíssem a teus pés...
Acredito e entendo
Que a estabilidade lógica
De quem não quer explodir
Faça bem ao escudo que és...
Saudade é o ar
Que vou sugando e aceitando
Como fruto de verão
Nos jardins do teu beijo...
Mas sinto que sabes que sentes também
Que num dia maior serás trapézio sem rede
A pairar sobre o mundo
Em tudo o que vejo...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua
Desconfio que ainda não reparaste
Que o teu destino foi inventado
Por gira-discos estragados
Aos quais te vais moldando...
E todo o teu planeamento estratégico
De sincronização do coração
São leis como paredes e tectos
Cujos vidros vais pisando...
Anseio o dia em que acordares
Por cima de todos os teus números
Raízes quadradas de somas subtraídas
Sempre com a mesma solução...
Podias deixar de fazer da vida
Um ciclo vicioso
Harmonioso ao teu gesto mimado
E à palma da tua mão...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro
Que a minha bola de cristal é folha de papel
Nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.
Desculpa se te fiz fogo e noite
Sem pedir autorização por escrito
Ao sindicato dos deuses...
Mas não fui eu que te escolhi.
Desculpa se te usei
Como refúgio dos meus sentidos
Pedaço de silêncios perdidos
Que voltei a encontrar em ti...
É que hoje acordei e lembrei-me
Que sou mago feiticeiro...
...nela te pinto nua, nua
Numa chama minha e tua.
Numa chama minha e tua.
Ainda magoas alguém
O tiro passou-me ao lado
Ainda magoas alguém...
Se não te deste a ninguém
Magoaste alguém
A mim... passou-me ao lado.
A mim... passou-me ao lado.
Toranja
Ridículo!
Estas palavras são ridículas! Como todas as palavras de amor são ridículas!
Não seriam de amor se não fossem ridículas! Estas, de tão ridículas, por analisarem o amor, são duplamente ridículas. Tão ridiculamente ridículas que é ridículo o quanto elas são!
Mas ridículo é aquele que nunca amou, não foi ridículo, e que não experimentou o ridículo do ciúme e a dor do amor ridículo!
Já fui ridículo, e ainda sou ridículo.
Serei sempre ridículo, porque mesmo que dure apenas um momento, prefiro um momento ridículo, que uma eternidade a chamar ridículo aos outros!
Mário L. Soares
(inspirado em "Todas as cartas de amor são ridículas" de Álvaro de Campos - heterónimo de Fernando Pessoa)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).
Álvaro de Campos
Caro amigo deus,
O que é que me dizes da política? Qual é a tua opinião sobre o meio ambiente, e o aquecimento global? A fome em África? A sobrepopulação na Índia e na China? O abate de árvores na amazónia e o derrame de petróleo nos mares? A guerra do Iraque e o Comunismo? Os Estados Unidos como polícias do mundo? Qual é a tua opinião sobre isto?
Acho sinceramente que os Americanos às vezes abusam, são muito prepotentes e acham que tudo gira à volta deles. Se há qualquer coisa mal no mundo falam como se o país deles fosse o mundo! Dá voltas ao estômago… o mundo não é os Estados Unidos! E às vezes decidir por nós todos é um pouco anti-democrático! Não passei nenhuma procuração ao presidente deles para que tomasse decisões por mim. Até porque, acho que não é o bem-estar da humanidade que é o objectivo da política externa dos EUA, petróleo é mais o seu mote. Estarei errado? Às vezes sinto-me esquisito pensar assim, mas estou a ser sincero e o mais altruísta possível. Tu deverás ter a tua opinião… ou melhor tu tens com certeza a razão e sabes o que deve ou não ser feito. Porque não?
Aquecem os pólos, os pinguins e os ursos estão ameaçados, se tudo derrete, ficamos debaixo de água. Será isso que deve acontecer? É essa a nossa sina, o nosso fado? Estaremos a pagar os erros e abusos de séculos de maldade? Que culpa têm os que nascem hoje, relativamente àquilo que os outros fizeram antes? É isso justo? Não quero querer. Não acredito que sejas cruel a esse ponto. Penso em ti como o bem encarnado num ente incorpóreo, e não num político sem escrúpulos que pensa em mal menores quando enfrenta valores irrepreensíveis.
Vemos todos os dias desgraças nas notícias. Crianças morrem pela fome, pela doença, pela guerra, pela indiferença humana. O que fazer? Somos nós pequeninos que devemos fazer alguma coisa? Devemos comer menos quando enchemos o prato piramidalmente e nos enfartamos com comida? Ou então não deixar nada no prato para “não desperdiçar comida” como dizem os antigos? Será que fazer alguma das duas vai fazer alguma diferença para o pequeno João que morre à fome em Angola? Eu não posso ir a correr apanhar o avião para mandar o resto da minha comida para ele! Nem penso que deva ter culpa mortal por ter calculado mal a quantidade de arroz que pus no tacho.
Será que devo tornar-me voluntário numa dessas acções internacionais para ajudar os carenciados? Farei a diferença? Se salvar uma criança farei é certo… mas e os ricos? Quero dizer, os muito ricos, estou a referir-me aos muito ricos mesmo? Esses que apenas com os juros das suas poupanças podem tanto? Esses vão para o inferno, por não terem partilhado, se calhar, e com razão… mas o João morre na mesma… porque é que não ages nessas situações?
Os muito ricos, agem em acções de caridade, por vezes, é certo. Dão quantias enormes de quando em quando (quando as finanças lhes caiem em cima) e nós ficamos muito sensibilizados e até ficamos com vontade de comprar mais produtos informáticos por causa disso. Mas será que dão o que podem? Será que eu dou o que posso? Deverei preocupar-me comigo apenas? Eu contribuo, tu sabes disso! Dou o que posso, quando posso. E sabes bem que nunca vivi “à larga”. Será o suficiente? Não acho.
Ajuda-nos. Ajuda-me! Dá-me uma mão e decide por mim!
Sabes o que há no nosso coração. Sabes o quanto de bom e o quanto de obscuro temos no nosso coração – então age em conformidade. Pune os que nada de bom têm! Os que de bom têm, então ajuda e encaminha. Peço-te isso.
Com todo o respeito e admiração, e sem que queira, de alguma maneira alterar o teu humor, peço-te perdão.
Com os melhores cumprimentos
Mário L. Soares
Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás de por mim morrer,
Morrer muito contente.
Lançastes, no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!
Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:
Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.
Teus olhos sensuais,
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.
As grandes comoções
Tu neles, sempre, espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...
Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais
Que muitas bibliotecas!
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PCP - Partido Comunista Português
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