O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.
Cláudia Marczak
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...
Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...
Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...
Florbela Espanca
Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no de abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mas beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
E dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.
Jorge de Sena
Para me conquistar
É preciso exalar um cheiro
íntimo, conhecido, costumeiro
Desses que sinto e enfraqueço...
Que faz tremer a voz, as pernas
Dá nós nas tripas e nas ideias....
Tens ideia?
Perguntas-me: A que vens?
Venho com todas
as boas e más intenções
Tentações, recriações,
Bolinações, entremeios...
O que eu faria?
Convidar-te-ia para ida ao cinema
Ver película interessante,
Instigante que acalma os nervos...
Sei que preferirias um jantar
À luz de velas, com preparo
cuidadoso
Vinho tinto à temperatura exacta
João Gilberto a cantar
Minha voz a sussurrar
Melindres, indecências
Em tua consciência...
Mas, do teu mundo previsível fujo
Eu opto pelo devaneio de teus dias
Por tua agonia diária, insaciável
Buscando sinais de minha presença
Eu opto por te tirar do comezinho
Da disciplina cotidiana,
De tua razão insana...
Sou tua surpresa constante
Usando saias e blusas coladas
No corpo delgado que se alinha
Em minhas curvas as quais te
curvas....
Sei que gostas dos ruídos do quarto
Dos gemidos que escutas
Dos grunhidos que provocas
Sei que gostas de rolar teu corpo
Que recebe de bom grado
o meu sobre o seu,
que quando se tocam
trocam segredos de alcova...
Sei que guardas na memória
Toda minha textura
E vê candura, onde há só luxúria
de fêmea louca que a ti provoca
mal estar, gosto na boca...
E que a cada movimento
Um contentamento roubado
Tu me olhas calado,
Extasiado que estás com a exploração
Mão safada que te escapas
Que confusão!
Sei que preferirias roubar-me toda
E não mais voltar, beijar-me a boca
e não mais calar todo o desejo retido,
todo o prazer contido em membro rijo
a explodir caudalosamente,
silenciosamente....
Mas hoje não! Hoje te rapto ao
cinema
Numa secção plena de erotismo
Do armário sai lingerie branca
Com rendas que rendem cenas
De dentes, mãos, dedos, segredos...
Tu não te lembrarás de close algum,
Talvez sobre na memória alguma
melodia,
da boa fotografia tu não terás
opinião,
perderás a razão, a postura
E não saberás nada sobre o roteiro,
Director, actor, clímax da acção...
Nada te restará para recordação
Por que rescrevi o script
Revolvi todas as formas de prazeres
Vou-te fazer um strip
Para tu nunca mais esqueceres...
Gueixa
Se é por mim que traço
o teu retrato,
a sobrancelha, a boca
o pensamento
É por ti, também
que já o guardo
e o demoro naquilo que eu
invento
A mão descida ali
o ombro inclinado
Os dedos descuidados
o gesto de que me lembro
Se é por mim que faço
o teu retrato
dizendo de ti mais do que
entendo
É por ti que o testemunho
e faço:
o nariz, a face dissimulando os dentes
Deixo para o fim os lábios
os olhos deste mar
com a cor do luar
a meio de Agosto
Se desvendo de ti o sol-posto
é porque vejo o coração
amar
e nada mais me dá tamanho gosto
Maria Teresa Horta
O cheiro
O sabor
da tua boca
A baunilha
a camélia desfolhada
A saliva a saber
a leite morno
Escutando o rumor
das tuas asas
Maria Teresa Horta
Em sua boca florescem os vocábulos
o leite e o mel inundam suas coxas
ela sabe a ternura e o perdão
consola o justo e o pecador
em seu corpo o corpo se purifica
em seu amor o espírito se redime
em sua perdição está nossa única e santa
salvação.
Beijarei sua carne de inocência
quem nunca amou atire
a primeira pedra.
Manuel Alegre
(Foto de Katia Chausheva)
Serves-me o fruto,
na mão o tenho de bandeja.
Como-o, desfruto.
Mancha-me o peito,
a vida, o leito.
É vermelho como uma cereja,
rubro como o vinho.
Alvo e cheio como o ovo,
e escorre pela boca
e faz-me sentir mais novo.
Bebo a gosto a tua seiva,
sou conduzido por uma louca,
que me engana o caminho.
Mário L. Soares
Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.
Ricardo Reis
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Alexandre O’Neill
Escalar-te lábio a lábio,
percorrer-te: eis a cintura
o lume breve entre as nádegas
e o ventre, o peito, o dorso
descer aos flancos, enterrar
os olhos na pedra fresca
dos teus olhos,
entregar-me poro a poro
ao furor da tua boca,
esquecer a mão errante
na festa ou na fresta
aberta à doce penetração
das águas duras,
respirar como quem tropeça
no escuro, gritar
às portas da alegria,
da solidão.
porque é terrivel
subir assim às hastes da loucura,
do fogo descer à neve.
abandonar-me agora
nas ervas ao orvalho -
a glande leve.
Eugénio de Andrade
Quando não posso contemplar teu rosto,
contemplo os teus pés.
Teus pés de osso arqueado,
teus pequenos pés duros.
Eu sei que te sustentam
e que teu doce peso
sobre eles se ergue.
Tua cintura e teus seios,
a duplicada purpura
dos teus mamilos,
a caixa dos teus olhos
que há pouco levantaram voo,
a larga boca de fruta,
tua rubra cabeleira,
pequena torre minha.
Mas se amo os teus pés
é só porque andaram
sobre a terra e sobre
o vento e sobre a água,
até me encontrarem.
Pablo Neruda
(foto retirada de http://semadocante.blogs.sapo.pt/ - desconheço o autor)
Viajo até o ponto mais arrepiante da tua nuca
Percebo o endurecimento do seu corpo
Teus seios
Teus braços
Tua boca
Arrepios
Calafrios
Minha mão decorando teus poros
A ponto de contá-los
Um a um
Conheço o gosto de cada centímetro
Beijos
Cheiros
Misturas
Sinto tremores
Amores
Fisgadas
Calafrios
Minha mão decorando teus pelos
Conheço-os um a um
Cobertura delicada
Da meiga e rija vulva
Que sabe dizer o meu nome
Que me beija
Já não sei onde fica a sua boca
Língua
Mistura
Carnes em estado de fusão
Corpos em estado de tesão
Gozo
Gritos
Beijos
Mentiras
Promessas falsas
Traição
Silvio Helder Lencioni Senne
("Lábios" de Sara Amaral - mais fotos da autora em www.olhares.com/Domaris )
Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.
No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.
Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.
Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.
Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.
Eugénio de Andrade
(foto retirada da internet - desconheço o autor)
Ela passa,
a papoila rubra,
esvoaçando graça,
a sorrir...
Original tentação
de estranho sabor:
a sua boca - romã luzente,
a refulgir!...
As mãos pálidas, esguias,
dolorosas soluçando,
vão recortando
em ritmos de beleza
gestos de ave endoidecida...
Preces, blasfémias,
cálidas estesias
passam delirando!...
Mordendo-lhe o seio
túrgido e perfurante,
delira a flama sangrenta
dos rubis...
E a cinta verga, flexuosa,
na luxuria dominante
dos quadris...
Um jeito mais quebrado no andar...
Um pouco mais de sombra no olhar
bistrado de lilás...
E ela passa
entornando dor,
a agonizar beleza!...
Um sonho de volúpia
que logo se desfaz,
em ruivas gargalhadas
dispersas... desgrenhadas!...
Magoam-se os meus sentidos
num cálido rubor...
E nos seus braços endoidecem
as anilhas d'oiro refulgindo
num feérico clamor!...
E ela passa...
Fulva, esguia, incoerente...
Flor de vicio
esvoaçando graça
na noite tempestuosa
do meu olhar!...
Como uma brasa ardente,
e infernal e dolorosa,
... a bailar...
a bailar!...
Judith Teixeira
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