(almofadas de "pedra" Livingstones da Smarindesign)
Na pedra mais branca
recosto a cabeça.
Que ninguém me impeça
de ver nela as penas
de mil almofadas.
Marítimas penas
de gaivotas mansas,
rasando enseadas
numa lenta dança.
Que hoje me adormeça
esta luz quebrada,
esta eterna esperança.
Maresias plenas
só o sonho alcança.
Na pedra mais pura
que o vento esculpiu,
encontro o enlace,
revelo o segredo
descoberto a medo
com dedos de frio:
inscrevo-lhe um nome,
como se o calasse.
Se o tempo parasse
agora, o navio
que na noite escura
contigo partiu,
talvez me levasse,
talvez naufragasse
na pedra mais dura
que jamais se viu.
Nas pedras que vejo
descanso o olhar.
Pedras muitas, tantas,
tão silenciosas
e tão preciosas
que só um desejo
as sabe contar.
Ana Vidal
(foto retirada da internet - desconheço o autor)
E no entanto, meu amigo, não é de evidências, mas de intangíveis, que se faz essa fugaz matéria a que chamamos amor. Faz-se de uma substância estranha, mutante e imprevisível, apenas materializada na surpresa que de repente nos devolve o espelho: um corpo que desconhecíamos, um olhar perplexo. Faz-se de um súbito sobressalto que nos invade as entranhas, um imperioso capricho da pele, um inapelável desassossego. Faz-se de um gesto irreprimível, todo languidez e impotência. Faz-se da essência dos rios, correndo em curso livre até se precipitarem num mar que nunca viram, mas sabem ser o seu único destino. E faz-se da placidez dos lagos. Faz-se da beleza terrível de um incêndio, da voragem de um tornado, do mortífero poder de um raio. Faz-se de clarividência e de cegueira, de lucidez e de loucura. Faz-se de júbilo e de angústia. Faz-se de pudor e de lascívia. Faz-se do mais magnífico festim e da mais insuportável solidão. Faz-se de glória e de miséria, de riso e de pranto, de cobardia e de audácia, de música e de silêncio, de luz e de sombra. Faz-se de guerra e de paz. De vida e de morte. De tudo. De nada.
Ana Vidal
http://portadovento.blogs.sapo.pt/
("Praia das Maçãs" de José Malhoa - 1918)
A névoa estendeu o manto
rasgam-se os olhos de espanto
tudo é bruma
tudo é espuma e maresia
Hoje não veio a bonança
a areia ensaia uma dança
de torpor
ao sabor da ventania
Praia das Maçãs
onde ladrilho a saudade
em nebulosas manhãs
A nortada não acalma
um remoinho na alma
pé-de-vento
ao relento da alvorada
A falésia tinge de ouro
o imenso sorvedouro
do passado
no brado da madrugada
Praia das Maçãs
onde é agreste a verdade
de mil ventos tecelã
Senhora das tempestades
leva contigo as saudades
de outros dias
litanias de cetim
Enleia em algas molhadas
as lembranças condenadas
e os presságios
dos naufrágios que há em mim
Praia das Maçãs
onde só o mar invade
os incertos amanhãs
Ana Vidal
http://violinosnotelhado.blogspot.com/
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