Ai, como eu te queria toda de violetas
E flébil de cetim...
Teus dedos longos, de marfim,
Que os sombreassem jóias pretas...
E tão febril e delicada
Que não pudesse dar um passo -
Sonhando estrelas, transtornada,
Com estampas de cor no regaço...
Queria-te nua e friorenta,
Aconchegando-te em zibelinas -
Sonolenta,
Ruiva de éteres e morfinas...
Ah! que as tuas nostalgias fossem guizos de prata -
Teus frenesis, lantejoulas;
E os ócios em que estiolas,
Luar que se desbarata...
……………
Teus beijos, queria-os de tule,
Transparecendo carmim -
Os teus espasmos, de seda...
— Água fria e clara numa noite azul,
Água, devia ser o teu amor por mim...
Mário de Sá-Carneiro
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
Chico Buarque
O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.
Cláudia Marczak
Noite!
Noite rasgando o caminho
Por onde descalça apago
Estrelas no meu destino!
Noite!
Noite de bocas escuras!
Famintas de criaturas
Que sem se verem, e sentirem,
levam o mesmo descaminho.
Natália Correia
Já o silêncio não é de oiro: é de cristal;
redoma de cristal este silêncio imposto.
Que lívido museu! Velado, sepulcral.
Ai de quem se atrever a mostrar bem o rosto!
Um hálito de medo embaciando o vidrado
dá-nos um estranho ar de fantasmas ou fetos.
Na silente armadura, e sobre si fechado,
ninguém sonha sequer sonhar sonhos completos.
Tão mal consegue o luar insinuar-se em nós
que a própria voz do mar segue o risco de um disco...
Não cessa de tocar; não cessa a sua voz.
Mas já ninguém pretende exp'rimentar-lhe o risco!
David Mourão-Ferreira
Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão
Em mim não é amor; filha, é adoração!
Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora.
Quando da minha noite eu te contemplo, aurora,
E, estrela da manhã, um beijo teu perpassa
Em meus lábios, oh! quando essa infinita graça
do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante
Eu sinto? virgem linda, inefável, radiante,
Envolta num clarão balsâmico da lua,
A minh'alma ajoelha, trémula, aos pés da tua!
Adoro-te!... Não és só graciosa, és bondosa:
Além de bela és santa; além de estrela és rosa.
Bendito seja o deus, bendita a Providência
Que deu o lírio ao monte e à tua alma a inocência,
O deus que te criou, anjo, para eu te amar,
E fez do mesmo azul o céu e o teu olhar!...
Guerra Junqueiro
Hei-de morrer inocente
exactamente
como nasci.
Sem nunca ter descoberto
o que há de falso ou de certo
no que vi.
Entre mim e a Evidência
paira uma névoa cinzenta.
Uma forma de inocência,
que apoquenta.
Mais que apoquenta:
enregela
como um gume
vertical.
E uma espécie de ciúme
de não poder ser igual.
António Gedeão
Fortunately you have got
Someone who relies on you
We started out as friends
But the thought of you just caves me in
The symptoms are so deep
It is so much too late to turn away
We started out as friends
Sign your name
Across my heart
I want you to be my baby
Sign your name
Across my heart
I want you to be my lady
Time I'm sure will bring
Disappointments in so many things
It seems to be the way
When your gambling cards on love you play
I'd rather be in Hell with you baby
Than in cool Heaven
It seems to be the way
Sign your name
Across my heart
I want you to be my baby
Sign your name
Across my heart
I want you to be my lady
Birds never look into the sun
Before the day is gone
But the light shines brighter
On a peaceful day
Stranger blue leave us alone
We don't want to deal with you
We'll shed our stains showering
In the room that makes the rain
All alone with you
Makes the butterflies in me arise
Slowly we make love
And the Earth rotates
To our dictates
Slowly we make love
Sign your name
Across my heart
I want you to be my baby
Sign your name
Across my heart
I want you to be my lady
Terence Trent D'Arby
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, como grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo, de repente
Hei-de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Moraes
Acordei de manhã
Ainda meio baralhado
De teres sido tu a estrela
Daquele filme alugado
Deixámos o Bruce Lee
Entregue às artes marciais
Quando olhaste para mim
Sem efeitos especiais
A Marte, vou a Marte
Se é o que tu queres
Eu vou a Marte!
Fui ter contigo ao café
Não me cansei de olhar para ti
Disseste mata-me a sede
Tira-me daqui
E o mercúrio subiu
E eu não sou de pedra
P’ra uma Vénus como tu
Não há água nesta terra!
A Marte, vou a Marte
Se é o que tu queres
Eu vou a Marte!
Estou em terra
Se não me engano
Fizeste de mim
Um verdadeiro marciano
A Marte, vou a Marte
Se é o que tu queres
Eu vou a Marte!
João Só e Abandonados
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...
Fernando Pessoa
Será enfrentar o medo ou conseguir vencer a dor. Pode ser vencer obstáculos. É tornear o perigo de frente. É fazer ou dizer alguma coisa conseguindo superar uma ameaça subjacente à acção ou consequente ao que foi dito.
Sendo o medo um sentimento gerado por um estímulo externo ou interno provocado por uma ameaça, dor (física ou psicológica) ou traumas do passado, que gera reacções de alerta e atenção no corpo humano com injecção de adrenalina e cortisol, preparando-o para resistir à agressão “medo” – a coragem é a acção ou reacção originada por essa alteração hormonal, e que defende o ser humano do que o atormenta.
Filosoficamente, a coragem é um acto altruísta que (como indica) tem como objectivo a defesa ou luta por algo superior a quem o faz, ou cujo ganho é externo a quem o faz. Dessa forma a coragem é um sentimento que tem características únicas e que nos leva a superarmos as nossas limitações e levarmos um pouco mais longe as nossas acções.
Nos filmes e na música, a coragem é um dos mais fortes sentimentos a ser descritos, pela sua sempre originalidade e particular distinção perante os outros sentimentos.
Poeticamente, a coragem foi, desde sempre descrita e exaltada. Desde os heróis romanos e gregos, envolvidos em mitologia e divindades, até aos anónimos nas guerras, passando pelo comum dos mortais, que também pode ser herói.
E na nossa vida? Quem tem coragem para ter coragem? Que tem coragem de mudar de vida? Quem o quer fazer, e não tem coragem? Quem não gostava, às vezes, de ter coragem?
Tenhamos coragem! Tenhamo-la!
A vida é curta, e devemos seguir o nosso coração. Abracemos o futuro com sorrisos, lágrimas e medo (sim, medo), mas sem olhar para trás! Com confiança e principalmente – coragem.
Força para todos!
Mário L. Soares
(Colorado Headwaters Fall)
A vida
às portas da vida
e o azul masculino de um rio
Amor Ardente
de forma distinta
Mário Cesariny de Vasconcelos
Espalhem a notícia
do mistério da delícia
desse ventre
Espalhem a notícia
do que é quente e se parece
com o que é firme e com o que é vago
esse ventre que eu afago
que eu bebia de um só trago
se pudesse
Divulguem o encanto
o ventre de que canto
que hoje toco
a pele onde à tardinha desemboco
tão cansado
esse ventre vagabundo
que foi rente e foi fecundo
que eu bebia até ao fundo
saciado
Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
bonita…
A terra tremeu ontem
não mais do que anteontem
pressenti-o
O ventre de que falo como um rio
transbordou
e o tremor que anunciava
era fogo e era lava
era a terra que abalava
no que sou
Depois de entre os escombros
ergueram-se dois ombros
num murmúrio
e o sol, como é costume, foi um augúrio
de bonança
sãos e salvos, felizmente
e como o riso vem ao ventre
assim veio de repente
uma criança
Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo de mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
bonita…
Falei-vos desse ventre
quem quiser que acrescente
da sua lavra
que a bom entendedor meia palavra
basta, é só
adivinhar o que há mais
os segredos dos locais
que no fundo são iguais
em todos nós
Eu fui ao fim do mundo
eu vou ao fundo do mim
vou ao fundo do mar
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
vou ao fundo do mar
no corpo de uma mulher
bonita…
Sérgio Godinho
Todas as noites ela me cingia
Nos braços, com brandura gasalhosa;
Todas as noites eu adormecia,
Sentindo-a desleixada a langorosa.
Todas as noites uma fantasia
Lhe emanava da fronte imaginosa;
Todas as noites tinha uma mania,
Aquela concepção vertiginosa.
Agora, há quase um mês, modernamente,
Ela tinha um furor dos mais soturnos,
Furor original, impertinente...
Todas as noites ela, ah! sordidez!
Descalçava-me as botas, os coturnos,
E fazia-me cócegas nos pés...
Cesário Verde
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