(Foto de Katia Chausheva)
Serves-me o fruto,
na mão o tenho de bandeja.
Como-o, desfruto.
Mancha-me o peito,
a vida, o leito.
É vermelho como uma cereja,
rubro como o vinho.
Alvo e cheio como o ovo,
e escorre pela boca
e faz-me sentir mais novo.
Bebo a gosto a tua seiva,
sou conduzido por uma louca,
que me engana o caminho.
Mário L. Soares
(foto de Katia Chausheva)
Encontrei muita vez, vagando ao acaso,
Um perfil de mulher no qual se adivinha
Como em exílio uma infeliz Rainha,
Um sol nascente e quase já no ocaso! ...
Lembrou me um jaspe, um delicado vaso.
Onde vegeta a custo uma florinha.
Ansiosa por florir, mas que, mesquinha,
Tem o espaço estreito e o chão árido e raso.
Certa tarde, já quase ao fim do dia.
Baixava o sol na última agonia.
Via lenta vagando em certa praça.
Perguntei-lhe o seu nome, incivilmente...
Cravou-me um triste olhar, e tristemente.
Digna, mui digna, respondeu: Desgraça.
Gomes Leal
Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;
Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.
Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.
Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.
Ricardo Reis
Bebo o vinho do teu corpo
Devagar como se a boca
Fosse uma flor onde o tempo
Desenha um mapa da vida
Corre o vinho do teu corpo
Nos lençóis da madrugada
E há carícias debruçadas
À janela do silêncio
Bebo o vinho do teu corpo
Bebo até morrer de sede
Bebo o vinho do teu corpo
Bebo até morrer de sede
E provo o vinho do teu corpo
Gota a gota e beijo a beijo
Como quem recolhe o sonho
De entre os dedos de um sorriso
Corre o vinho do teu corpo
Nos regatos do luar
Que hão-de vir desaguar
Mansamente nos meus braços
Bebo o vinho do teu corpo
Bebo até morrer de sede
Bebo o vinho do teu corpo
Bebo até morrer de sede
Bebo o vinho do teu corpo
Devagar e quase a medo
Na surpresa dos segredos
Copos cheios de prazer
Bebo o vinho do teu corpo
Bebo até morrer de sede
Bebo o vinho do teu corpo
Bebo até morrer de sede
Gota a gota beijo a beijo
Neruda
Obrigado ao Toxico, que por acaso é da minha terra natal, e que fez o que ninguém ainda tinha feito – transcrever a letra desta música e partilhá-la com o mundo no seu blog - http://naoassesmaiscarapausfritos.blogspot.com/
Parabéns aos Neruda, que têm aqui um grande êxito e que augura um futuro fantástico. Parabéns a eles, continuem e a todos os que gostaram como eu, comprem o CD. Visitem também o myspace da banda onde têm outras boas músicas como ”As queixas que a natureza nos faz” - http://profile.myspace.com/index.cfm?fuseaction=user.viewprofile&friendid=446661481
Mário L. Soares
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, nasceu em Lisboa em 28 de Março de 1810 e morreu em Santarém a 13 de Setembro de 1877, tinha 67 anos.
Alexandre Herculano nasceu, no Pátio do Gil, à Rua de S. Bento, numa modesta família de origem popular; a mãe, Maria do Carmo de São Boaventura, filha e neta de pedreiros da Casa Real; o pai, Teodoro Cândido de Araújo, era funcionário da Junta dos Juros (Junta do Crédito Público).
Na sua infância e adolescência não pode ter deixado de ser profundamente marcado pelos dramáticos acontecimentos da sua época: as invasões francesas, o domínio inglês e o influxo das ideias liberais, vindas sobretudo da França, que conduziriam à Revolução de 1820. Até aos 15 anos frequentou o Colégio dos Padres Oratorianos de S. Filipe de Néry, então instalados no Convento das Necessidades em Lisboa, onde recebeu uma formação de índole essencialmente clássica, mas aberta às novas ideias científicas. Impedido de prosseguir estudos universitários (o pai cegou em 1827, ficando impossibilitado de prover ao sustento da família) ficou disponível para adquirir uma sólida formação literária que passou pelo estudo de inglês, francês, italiano e alemão, línguas que foram decisivas para a sua obra literária.
Com apenas 21 anos, participará, em circunstâncias nunca inteiramente esclarecidas, na revolta de 21 de Agosto de 1831 do Regimento nº 4 de Infantaria de Lisboa contra o governo ditatorial de D. Miguel I, o que o obrigará, após o fracasso daquela revolta militar, a refugiar-se num navio francês fundeado no Tejo, nele passando à Inglaterra e, posteriormente, à França (Rennes), indo depois juntar-se ao exército Liberal de D. Pedro IV, na Ilha Terceira (Açores).
Alistado como soldado no Regimento dos Voluntários da Rainha, como Garrett, é um dos 7 500 "Bravos do Mindelo", assim designados por terem integrado a expedição militar comandada por D. Pedro IV que desembarcou, em 8 de Julho de 1832,na praia do Mindelo (na verdade, um pouco mais a sul, na praia de Arnosa de Pampelido, um pouco a Norte do Porto - hoje "praia da Memória"), a fim de cercar e tomar a cidade do Porto. Como soldado, participou em acções de elevado risco e mérito militar.
Passado à disponibilidade pelo próprio D. Pedro IV, foi por este nomeado segundo bibliotecário da Biblioteca do Porto. Aí permaneceu até ter sido convidado a dirigir a Revista Panorama, de Lisboa, revista de carácter artístico e científico de que era proprietária a Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, patrocinada pela própria rainha D. Maria II, de que foi redactor principal de 1837 a 1839.
Em 1842 retomou o papel de redactor principal e publicou o Eurico o Presbítero, obra maior do Romance Histórico em Portugal no século XIX. Mas a obra que vai transformar Alexandre Herculano no maior português do século XIX é a sua História de Portugal, cujo primeiro volume é publicado em 1846. Obra que introduz a historiografia científica em Portugal, não podia deixar de levantar enorme polémica, sobretudo com os sectores mais conservadores, encabeçados pelo clero. Atacado pelo clero por não ter admitido como verdade histórica o célebre Milagre de Ourique – segundo o qual Cristo aparecera ao rei Afonso Henriques naquela batalha -, Herculano acaba por vir a terreiro em defesa da verdade científica da sua obra, desferindo implacáveis golpes sobre o clero ultramontano, sobretudo nos opúsculos Eu e o Clero e Solemnia Verba.
O prestígio que a História de Portugal lhe granjeara leva a Academia das Ciências de Lisboa a nomeá-lo seu sócio efectivo (1852) e a encarregá-lo do projecto de recolha dos Portugaliae Monumenta Historica (recolha de documentos valiosos dispersos pelos cartórios conventuais do país), projecto que empreende em 1853 e 1854.
Herculano permanecerá fiel aos seus ideais políticos e à Carta Constitucional, que o impedira de aderir ao Setembrismo. Apesar de estreitamente ligado aos círculos do novo poder Liberal (foi deputado às Cortes e preceptor do futuro Rei D. Pedro V), recusou fazer parte do primeiro Governo da Regeneração, chefiado pelo Duque de Saldanha. Recusou honrarias e condecorações e, a par da sua obra literária e científica, de que nunca se afastou inteiramente, preferiu retirar-se progressivamente para um exílio que tinha tanto de vocação como de desilusão.
Numa carta a Almeida Garrett confessara ser seu mais íntimo desejo ver-se entre quatro serras, dispondo de algumas leiras próprias, umas botas grosseiras e um chapéu de Braga. Ainda desempenhando o cargo de Presidente da Câmara de Belém (1854, 1855), cargo que abandona rapidamente.
Em 1857, após o seu casamento com D. Mariana Meira, retira-se definitivamente para a sua quinta de Vale Lobos (Azóia, Santarém) para se dedicar (quase) inteiramente à agricultura e a uma vida de recolhimento espiritual - ancorado no porto tranquilo e feliz do silêncio e da tranquilidade, como escreverá na advertência prévia ao primeiro volume dos Opúsculos.
Em Vale de Lobos, Herculano exerce um autêntico magistério moral sobre o País. Na verdade, este homem frágil e pequeno, mas dono de uma energia e de um carácter inquebrantáveis era um exemplo de fidelidade a ideais e a valores que contrastavam com o pântano da vida pública portuguesa. “Isto dá vontade de morrer!”, exclamara ele, decepcionado pelo espectáculo torpe da vida pública portuguesa, que todos os seus ideais vilipendiara.
Aquando da segunda viagem do Imperador do Brasil a Portugal, em 1867, Herculano entendeu retribuir, em Lisboa, a visita que o monarca lhe fizera em Vale de Lobos, mas devido à sua débil saúde contraiu uma pneumonia dupla de que viria a falecer, em Vale de Lobos, em 13 de Setembro de 1877.
Estudou Latim, Lógica e Retórica no Palácio das Necessidades e, mais tarde, na Academia da Marinha Real, estudou matemática com a intenção de seguir uma carreira comercial. Descontente com o governo de Miguel I de Portugal, exilou-se na França, onde escreveu os seus melhores poemas. Voltou a Portugal, em 1832, continuou a fazer poesia, como A Voz do Profeta em 1836 e A Harpa do Crente em 1838. No jornal Panorama por volta de 1840; publicou obras de ficção, como Eurico, o Presbítero de 1844, e ganhou fama como historiador; publicou a História de Portugal, em quatro volumes, e História da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal.
Herculano foi o responsável pela introdução e pelo desenvolvimento da narrativa histórica em Portugal.
Juntamente com Almeida Garrett, é considerado o introdutor do Romantismo em Portugal, desenvolvendo os temas da incompatibilidade do homem com o meio social.
Herculano deixou ensaios sobre diversas questões polémicas da época, que se somam à sua intensa actividade jornalística. A parte mais significativa da obra literária de Herculano se concentra em seis textos em prosa, dedicados principalmente ao género conhecido como narrativa histórica. Esse tipo de narrativa combina a erudição do historiador, necessária para a minuciosa reconstituição de ambientes e costumes de épocas passadas, com a imaginação do literato, que cria ou amplia tramas para compor seus enredos. Dessa forma, o autor situa acção num tempo passado, procurando reconstituir uma época. Para isso, contribuem descrições pormenorizadas de quadros antigos, como festas religiosas, indumentárias, ambientes e aposentos, topografias de cidades. São frequentes as intervenções do narrador, que tece comentários filosóficos, sociais ou políticos, muitas vezes relacionando o passado narrado com o quotidiano do século XIX.
A narrativa de carácter histórico foi desenvolvida inicialmente por Walter Scott (1771-1832), poeta e novelista escocês que escreveu A Balada do Último Menestrel e Ivanhoé, entre outros trabalhos. Também o francês Vitor Hugo (1802-1885) serviu de modelo a Herculano: Hugo escreveu o romance histórico Nossa Senhora de Paris, em que surge Quasímodo, o famoso “Corcunda de Notre-Dame”. A partir desses modelos, desenvolveu-se a narrativa histórica de Herculano, que pode ser considerada o ponto inicial para o desenvolvimento da prosa de ficção moderna em Portugal.
As Lendas e Narrativas são formadas por textos mais ou menos curtos, que se podem considerar contos e novelas. Herculano abordou vários períodos da história da Península Ibérica. É evidente a preferência do autor pela Idade Média, época em que, segundo ele, se encontravam as raízes da nacionalidade portuguesa.
O trabalho literário de Herculano foi, juntamente com as Viagens na Minha Terra, de Garrett, o ponto inicial para o desenvolvimento da prosa de ficção moderna em Portugal. Assim, a partir disto, as narrativas históricas foram gradativamente enfocando épocas cada vez mais próximas do século XIX.
Fonte: Wikipédia (com algumas alterações de minha autoria)
("A Mensagem" de Fernando Pessoa, pelo grupo de teatro TAL)
Onde se solta estrangulado grito
Humaniza-se a vida e sobe o pano.
Chegam aparições dóceis ao rito
Vindas do fosso mais fundo do humano.
Ilumina-se a cena e é soberano,
no palco, o real oculto no conflito.
É tragédia? É comédia? É, por engano,
O sequestro de um deus num barro aflito?
É o teatro: a magia que descobre
O rosto que a cara do homem cobre,
E reflectidos no teu espelho - o actor -
Os teus fantasmas levam-te para onde
O tempo puro que te corresponde
Entre horas ardidas está em flor.
Natália Correia
I was her she was me
We were one we were free
And if there's somebody calling me on
She's the one
If there's somebody calling me on
She's the one
We were young we were wrong
We were fine all along
If there's somebody calling me on
She's the one
When you get to where you wanna go
And you know the things you wanna know
You're smiling
When you said what you wanna say
And you know the way you wanna play
You'll be so high you'll be flying
Though the sea will be strong
I know we'll carry on
Cos if there's somebody calling me on
She's the one
If there's somebody calling me on
She's the one
When you get to where you wanna go
And you know the things you wanna know
You're smiling
When you said what you wanna say
And you know the way you wanna say it
You'll be so high you'll be flying
I was her she was me
We were one we were free
If there's somebody calling me on
She's the one
If there's somebody calling me on
She's the one
If there's somebody calling me on
She's the one
Yeah she's the one
If there's somebody calling me on
She's the one
She's the one
If there's somebody calling me on
She's the one
Robbie Williams
Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras
Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada
De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse
Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra
Sophia de Mello Breyner Andresen, em "O Nome das Coisas"
Ce matin, 3000 licenciés, grève des sapeurs pompiers,
Embouteillage et pollution pour Paris agglomération.
Ce matin, l'Abbé Pierre est mort, on l'enterre sur TF1,
2 clochards retrouvés morts près du canal St Martin.
Ce matin, le CAC va de l'avant, 2 soldats de moins pour l'occident,
10 civiles de tués à Bagdad dans les bras sanglants des Giads.
Toi et moi, dans tout ça, on n'apparaît pas,
On se contente d'être là, on s'aime et puis voilà on s'aime.
Ce matin, menace de grippe aviaire, trop de fascisme en Bavière,
L'Iran travaille au nucléaire et Areva squatte le Niger.
Ce matin, rapport sur le climat, il ne survivrait que les rats,
Fonte des glaces en Alaska et grosses chaleurs en Angola.
Toi et moi, dans tout ça, on n'apparaît pas,
On se contente d'être là, on s'aime et puis voilà on s'aime.
Toi et moi dans le temps, au milieu de nos enfants,
Plus personne, plus de gens,
Plus de vent, on s'aime
Ce matin
Ce matin, pendaison de Saddam, l'ONU crie au scandale,
Le Tibet se meurt sous les balles, d'une Chine qui fait son capital.
Toi et moi, dans tout ça, on n'apparaît pas,
On se contente d'être là, on s'aime et puis voilà on s'aime.
Toi et moi dans le temps, au milieu de nos enfants,
Plus personne, plus de gens,
Plus de vent, on s'aime
Ce matin, il fait presque beau, ça tombe bien je me suis levé tôt
Avec le coq et les oiseaux sans journaux et sans météo.
Ce matin, j'attaque un autre jour,
Avec toi mon amour cette journée durera toujours
On n'en fera jamais le tour
Toi et moi, dans tout ça, on n'apparaît pas,
On se contente d'être là, on s'aime et puis voilà on s'aime.
Toi et moi dans le temps, au milieu de nos enfants,
Plus personne, plus de gens,
Plus de vent, on s'aime.
Tryo
(foto de Sergei Ponomarev)
Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E, quando à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar… guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.
E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.
Pedro Homem de Mello
Grande filme, grande música… por Michael Nyman
Poesia é a soma de coisas várias
que no total é resultado original.
É a adição de ideias sumárias
que dão um todo especial.
De nada vale poesia sem pensamento,
tal como uma prosa sem memória,
seria tentar contar um argumento,
sem dar importância à história.
É ler o que está além da imagem,
perder de vista as palavras no sentido,
sentir o aroma de uma vagem,
ao lado de uma frase, perdido.
Como é belo o som das letras do momento,
e a magia do que parece, sem parecer.
Lindas são as palavras e o sentimento.
A poesia é o subtil disfarce do ser.
Mário L. Soares
Quero apenas cinco coisas…
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o Outono
A terceira é o grave Inverno
Em quarto lugar o Verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da Primavera para que continues me olhando.
Pablo Neruda
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!
Florbela Espanca
"Se há no mundo alguma coisa especialmente díficil e para a qual, apesar disso, nos sentimos preparados, é a arte de criticar." J. L. Martín Descalzo
Dizia Dale Carnegie que “a critica é fútil”. Disse também que ao criticarmos alguém ferimos o orgulho dessa pessoa, magoamos o seu íntimo. Não quis, nem se quer para este efeito, analisar o merecimento da crítica ou a pertinência da mesma. Ou até, da intenção da crítica, que pode em determinadas circunstâncias ser a única medida para solucionar um problema. Apenas disse que o era. E é!
Não me cabe a mim a elaborada missão de criticar quem critica, se assim o fosse, estaria a incorrer no erro já anteriormente criticado. Não. Antes farei uma incursão pelos momentos deliciosos da crítica, que todos nós já experimentámos e que continuamos a fazer, diariamente sem dó nem piedade.
Que sentimos quando apontamos o dedo a um político? Governante? Polícia? Funcionário público? Professor? Colega de trabalho? Ou um mero condutor que se cruza no nosso caminho na estrada? Satisfação? Poder? Ódio? Raiva?
Tem tudo a ver com a transferência de energias, diz James Redfield no seu romance best-seller “A profecia Celestina”, e que a crítica será uma das armas de ataque contra o oponente a enfrentar e derrotar, a fim de sugar a sua energia pela vitória, pelo cansaço e aniquilação. Há mestres na crítica e no confronto. Esses bem falantes que conseguem reinar dividindo ("Divide et regna" – como já era usado por Luis XI de França, Filipe II da Macedónia, ou até pelos Césares da Roma imperial) e agraciando o seu próprio ego com a taça de vitória sobre o oponente vencido.
O curioso é que a transferência energética fará mais sentido, quando analisada como um fenómeno científico possível, no confronto directo e pessoal, e não à cobarde distância. Ora, sabemos que se pode criticar alguém mesmo quando essa pessoa está ausente, ou simplesmente não nos pode ouvir, certo? Então que tipo de energia é transferida? - a do ouvinte! Ele dá-nos a energia de bom grado. Vejamos um exemplo simples: estou com um qualquer Manel no café e digo – “estes turistas conduzem mal que se farta!”, o outro poderá dizer – “tens toda a razão, pá! Os gajos são uns aselhas!”. Isto criará entre mim e o Manel uma sensação de cumplicidade pela partilha de uma opinião comum. O Manel dá-me um pouco da sua energia e eu agradeço e retribuo, com um sorriso que indicia – “nós é que somos bons condutores – os turistas não prestam!” e partilho um pouco da minha energia. A energia é partilhada e não subtraída aos outros – que coitados (ou não) nem sabem que lhe “cortam a casaca”.
A crítica contra terceiros ausentes (chamemos-lhe assim) é muito comum e normalmente resulta numa animada troca de críticas subsequentes que têm exactamente o mesmo objectivo da primeira, como por exemplo (e no seguimento do exemplo dos turistas), “então e os lisboetas? Nem queiras saber, pá!”. E assim por diante na bondade da partilha de cúmplices opiniões contra os outros.
Imaginemos agora outra situação de confronto que pode resultar do ”síndrome dos turistas maus condutores”, que é quando o outro diz: “eu sou turista, pá!” (que todos somos ou fomos) ou mais comummente “eu sou lisboeta, pá!” para o caso do alvo serem os ditos. O que pode ter como consequência uma de duas coisas: ou o Manel retrata-se e corrige “nem todos os lisboetas, é os velhos que eu me refiro, pá!” ou então vai à luta e diz “sim pá, tu és um banana ao volante!” o que direcciona a uma discussão directa (com troca de energias a subtrair) e que pode ter mil resultados, entre eles o insulto e a violência, mas que não terá um desfecho muito diferente de vencedor e vencido.
Qualquer que seja a situação a crítica tem como objectivo imediato e necessário a satisfação da necessidade de afirmação e poder perante o outro e si próprio de um egoísmo puro e básico.
Sugiro a quem possa interessar, onde me incluo a mim próprio, e sem qualquer crítica, que possamos elogiar, louvar, criar, engrandecer, estimar e acariciar, o que está bem e quem temos pela frente, em vez de criticar.
Mário L. Soares
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