Sexta-feira, 30 de Maio de 2008

Moinhos da minha vida

 

 

 

 

 

 

 

Luto Quixote contra moinhos?

Quem são os moinhos que me enfrentam?

Gigantes, algo assim, parecidos…

São ventos de longe que avançam.

 

Luto com esperança Dulcineia

Não ficarei senão pela vitória

A força rebenta-me a veia…

Dos fracos não reza a história.

 

Que bela esta história, engraçada…

Bonita até, pobre louco…

Se de verdade, no entanto for chorada,

Então muda tudo um pouco.

 

Quem sabemos que vive assim?

Quem e quantos somos nós?

Na verdade não sei se para mim,

Não parece estarmos sós…

 

Sancho que me ajudas,

Gritas moinhos e rogas a Deus,

Não vês tu que ou estás e mudas

Ou não tenho gigantes meus?

 

Comigo contra eles avança!

Vamos fiel amigo!

Olha-os e vem Sancho Pança,

Vem morrer comigo…

 

Amada Dulcineia, minha história,

Tenho-te a honra, tenho vergonha

Levo-te vento, Levo-te a glória,

Não te tenho, sou o que sonha…

 

Mário L. Soares

(desenho de Julio Pomar)

publicado por Lagash às 01:55
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Elogio da Loucura

 

 

"Todas as coisas humanas têm dois aspectos... para dizer a verdade todo este mundo não é senão uma sombra e uma aparência; mas esta grande e interminável comédia não pode representar-se de um outro modo. Tudo na vida é tão obscuro, tão diverso, tão oposto, que não podemos nos assegurar de nenhuma verdade."
 

Erasmo – Elogio da Loucura, 1509


publicado por Lagash às 01:19
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Poema em linha recta


 

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

 

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

 

Alvaro de Campos

publicado por Lagash às 01:04
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Quinta-feira, 22 de Maio de 2008

O amor é...

  

 

O amor é um misto

de prazer

e dor.

 

É um amalgamar

do viver

cheio de cor.

 

É um chorar

sem nada querer

e sem favor.

 

É o beijar

mais do que ver

e mais que amor.

 

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 10:31
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Terça-feira, 20 de Maio de 2008

Poema abandonado num comentário

Eu pensei que a lua não brilhasse,
sob os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilha
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
mas brilha.

Pensei também que o pássaro não cantasse,
se o lavrador não colhe o que planta,
se uma família vai dormir sem janta,
com um sorriso preso na garganta,
mas canta.

Imaginei que a água não lavasse,
o chicote que em sangue se deprava,
quando de forma mostruosa e brava,
abre trilhas de dor na pele escrava,
mas lava.

Duvidei que simples borboleta,
por ser um vivo exemplo de esperança,
dançaria contente leve e mansa,
sobre o túmulo em flor de uma criança,
mas dança.

Também pensei que não faria mais poema algum,
Após tanto embaraço, tanta decepção,
Tanto cansaço,
Tanta espera em vão por teu abraço,
mas faço.

 

António Fernandes

publicado por Lagash às 01:43
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Entre o sono e o sonho

 
 
Entre o sono e sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim. 
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem. 
 
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou. 
 
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre –
Esse rio sem fim.

 

 

 
Fernando Pessoa
publicado por Lagash às 01:16
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Segunda-feira, 19 de Maio de 2008

Momento de Amar

 
 
Quem dera o tempo
poder parar,
porque o tempo...
O tempo é sempre um momento
quando te estou a olhar!
Sonho contigo
ao dormir...
Acordada.
Vivo a sonhar.
O que será esse fascínio? 
Que terá esse teu olhar?
Será veneno?
Ou encanto?
Apenas sei...
Amo-te tanto.
 
Maria Fernanda Ruela
publicado por Lagash às 16:46
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Terça-feira, 13 de Maio de 2008

Diferenças...

 

 

Diferenças pessoais,

Vontade de viver,

Pecados transicionais,

Atenção ao nosso ser,

Incertezas em jornais,

Escravização do querer,

Olhos nos sinais,

Não queremos o tudo perder.

 

Perecer do estar

Sofrer o sentir,

Desejar o lar,

Manter o existir,

Ter tanto para dar,

Tanto para rir,

E tudo para amar.

 

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 18:11
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Sexta-feira, 9 de Maio de 2008

És tudo para mim

"A vida é feita de pequenos nadas..."

 

É verdade, no entanto, parece-me ser correcto dizer que,

 

A vida é feita de pequenos "tudos"!

 

"Tudos" esses que nos dão o extra,

 

para vivermos extraordinariamente.

 

Tu és o meu "tudo"!

 

És "tudo" para mim...

 

 

 

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 23:34
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Segunda-feira, 5 de Maio de 2008

Obrigado

 

  

Obrigado por existires,

Obrigado por estares presente,

Obrigado por rires,

Agradeço-te…

 

Sinto que estás cá…

Sinto-te no meu peito,

Sinto onde quer que vá,

Sinto…

 

Olho-te no meu espelho…

Olho e a ti te vejo,

Olho para os teus olhos.

Vejo-te…

 

Cheiro-te, sinto-te, vejo-te.

Sei que embora estejas longe,

Estás comigo, e eu amo-te…

 

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 13:50
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Todas as cartas de amor são ridículas

 

 

Todas as cartas de amor são
Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

 

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

 

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

 

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

 

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

 

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

 

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

 

 

Álvaro de Campos

publicado por Lagash às 13:34
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Domingo, 4 de Maio de 2008

Homens inprescindíveis

Há homens que lutam um dia e são bons;

Há outros que lutam um ano e são melhores.

Há os que lutam muitos anos e são muito bons.

Mas há os que lutam toda a vida, e estes são imprescindíveis!

 

Bertold Brecht

 

("obviamente demito-o")

publicado por Lagash às 23:19
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Destinos

 

 

Lígia Pereira de Sousa, 75 anos, solteira, prima em terceiro grau da Condessa de Ourique, moradora de um T5 no Restelo. Vive na companhia de Tareco, gato, cinco anos, rafeiro, sem parentes conhecidos, um presente de Octávio Francisco Magalhães de Almeida e Sousa, 43 anos, "bon vivant" e sobrinho querido.

Lígia tem a mania da limpeza e costuma banhar o Tareco uma vez por dia. neste momento, Ligia está a pôr o Tareco, todo molhado do seu último duche, a secar dentro de um forno de microondas. Tareco ainda protesta mas Lígia não se incomoda. Fecha a porta do microondas. Liga-o no máximo.

Enquanto isto, no Algarve, Paulo Monsanto de Carvalho, quatro anos, mais conhecido como Baby, está a construir um castelo de areia na Praia do Gigi. É neste preciso momento que, Tomás Cardoso de Oliveira, sete anos, sardento, caixa-d'óculos e mau carácter, prepara-se para chutar o castelo de Baby. Tomás não sabe, mas Baby jamais irá esquecer o dia em que o seu castelo foi destruído. O trauma por ver uma obra sua deitada, literalmente, abaixo transformará Baby num homem eternamente ressentido, incapaz de acabar um curso, formar uma família, fazer uma carreira e que acabará por entregar-se ao álcool.

Passados 30 anos deste fatídico dia, Baby encontrará casualmente Tomás, executivo bem sucedido, presidente de uma empresa importadora de bananas africanas, numa rua escura, ali pelos lados de Alfama. Não me pergunte o porquê mas Baby estará armado com uma pistola de alto calibre. Baby reconhecerá as sardas e os óculos de Tomás imediatamente. Tomás mal terá tempo de pedir perdão. Em segundos, estará no chão como o castelo que neste exacto momento ele chuta.

Enquanto isto, Alfredo Redondinho Costa, 33 anos, publicitário e “serial killer”, devora o seu pequeno almoço num café ao pé do Marquês de Pombal. O sonho de Alfredo era ser um artista plástico reconhecido internacionalmente. Porém, devido ao intenso ritmo do seu trabalho, a criar anúncios para vender lixívia de uma marca branca de supermercado ou hambúrgueres de uma conhecida rede de “fast food”, feitos a partir de restos de carne de porco, cavalo e papel jornal, nunca encontra tempo para dedicar-se à arte.

Para compensar essa frustação, Alfredo costuma assassinar desconhecidos. Executa-os usando com uma certa violência um taco de basebol. Depois esfola as suas peles, arranca os seus cabelos e com esse material constrói uma instalação na porão da sua casa. Alfredo tem o hábito de escolher as suas vítimas pela manhã no café onde está neste momento.

E é por isso que ele concentra a sua atenção em Vanessa Pires Moutinho, 27 anos, mulata brasileira de compleição física avantajada, nascida Sebastião Pires Moutinho, objecto de uma cirurgia de mudança de sexo na Suécia. Vanessa repara nos olhares de Alfredo e corresponde. Passados alguns minutos trocam os telefones.

Alfredo fica empolgado com a possibilidade de acrescentar um tom de pele mais escura à sua já imensa obra prima. Não sabe que Sebastião, digo, Vanessa, antes de se tomar dançarina de um bar de strippers da 24 de Julho, era porteiro de uma boate em Recife. Dona de uma força descomunal, será simples para Vanessa empalar, via anal, o psicopata com o seu próprio taco de basebol. Surpreendentemente, Alfredo morrerá com dor, mas morrerá feliz.

Enquanto isto, Pedro Saldanha Soares, 38 anos, filósofo formado numa universidade francesa, caminha pelo centro da cidade. Está a reflectir sobre a sua tese de doutoramento baseada no conceito da não existência do destino. Pedro defende que o homem, através do raciocínio dialéctico e da argumentação entrópica, pode controlar todos os passos da sua vida.

Pedro acredita que o destino não passa de uma invenção das almas ingénuas, uma herança abstracta da origem tribal da humanidade. Ele está a pensar nisso enquanto atravessa a rua sem perceber que um autocarro da linha Chelas-Rossio vem na sua direcção. Joaquim da Silva, 44 anos, ex-interno da Casa Pia, motorista, ainda tenta travar o autocarro mas é tarde demais.

Enquanto isto, Tareco arranha o vidro do microondas e dá a sua miada final.


Edson Athayde

publicado por Lagash às 18:57
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Gostos

Gosto de tantas coisas inuteis e futeis. Gosto de coisas que os outros gostam.

 

Mas gosto também de poesia e de amar. Gosto da chuva e do sol e consequente arco iris.

 

Gosto de existir e ser notado. De estar com os outros e fazer diferença.

 

Gosto de ter alguem para ligar no Sábado à noite. Alguém que me visite também no Domingo à tarde. E alguèm que me ligue na Segunda-feira pela manhã.

 

Gosto de beijar os filhos dos amigos e desejar ter um igual. Gosto de imaginar que sou feliz e nada pode mudar isso. Mesmo não o sendo.

 

Gosto de ajudar um amigo, mesmo que o tenha conhecido há 2 segundos. E gostava que todos os seres vivos fossem meus amigos.

 

Gosto de pensar que evoluo e que aprendo com os meus erros. Olho os outros e gosto de ter a certeza que estou a retirar o maior sumo deles e aprender com as suas falhas.

 

Gosto de trabalhar e de não fazer nada. De me divertir e de chorar num filme.

 

Gosto de teatro e de actuar. De inventar histórias e pô-las num palco. Gosto das palmas e da emoção de um publico.

 

Gosto de ter tudo arrumado, mas detesto ter de arrumar.

 

Gosto de vegetar no sofá e ler um livro.

 

Gosto de beijos nocturnos e envergonho-me com os matinais pelo meu hálito.

 

Gosto de chocolates e de pão com manteiga e queijo. Tarteletes e tostas mistas. Cervejas e sumos compal. Whisky e leite mimosa.

 

Gosto do mundo e quero-o todo.

 

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 18:10
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Coimbra

 

(A torre da cabra desaparecida que tantos inpirou e 'desinspirou') 

 

A todos os estudantes de coimbra, com o desejo de sucesso nas vossas carreiras, de outro estudante mais a sul.

 

De Coimbra, fica um rio e uma saudade
Cavaleiros andantes, dulcineias
De Coimbra, fica a breve eternidade
Do Mondego, a correr em nossas veias

De Coimbra, fica o sonho, fica a graça
Antero de revolta, capa à solta
De Coimbra, fica um tempo que não passa
Neste passar de um tempo que não volta

 

Manuel Alegre - 1978

publicado por Lagash às 18:01
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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