Tocas-te suavemente no quente dos lençóis, e o suor inunda o quarto. As janelas embaciadas apenas deixam entrar a luz do nascer do dia por entre as pequenas aberturas das persianas por onde entram também os olhares de um ou outro passeante que por ali tenha a sorte de andar.
O cheiro eleva-se no ar e mistura-se com o da torrada queimada que fizeste há pouco e com a barra de incenso de ontem já apagada no apoio, murcha e sem vida.
Um bafo de gata assanhada meio abafado faz-se ouvir seguido de duas ou três inspirações rápidas pelo meio dos dentes e interrompidas por espasmos…
Mais um pouco de movimento e mais um gemido.
Viras-te para cima e olhas o céu que está para lá do telhado da casa junto dos teus pensamentos mais fantasiosos. A mão esquerda toda o peito, esfregando os mamilos como se de limpeza precisassem e estes respondem apontando o infinito. A direita lá em baixo, peganhenta e molhada, atolando-se nos folhos do teu íntimo. Fechas os olhos outra vez e viras a cara para o lado direito, com o queixo na clavícula e a boca entreaberta que baba saliva para o ombro, sequiosa por abocanhar os fantasmas que a mente produz em catadupa só para este momento.
Descobres o corpo lançando o lençol com os pés a um mar no chão que banha a areia da tua cama e te refresca com uma lufada de ar fresco…
Esticas a perna esquerda. A direita, dobrada, apoia e abres-te ao mundo o mais possível.
Esticas o dedo grande do pé direito em direcção ao fundo da cama formando uma linha recta com o pé e a canela como se em pontas dançasses. O outro pé pelo contrário, está flectido e os dedos para trás, abertos, como as tuas duas pernas que arqueiam agora e elevam as nádegas ao tecto… onde tu já estás… perdida, leve e flutuante, em prazer… um grito abafado de quente…
Inspiras rápido, expiras fundo e forte. Contrais os músculos do abdómen e das nádegas, e prendes a respiração… mexes rápido os dedos em todas as direcções como um DJ num disco, abanas e gritas três vezes em impulsos para cima e para baixo como se empurrasses o tecto com as ancas…
Respiras e relaxas…
Será que os vizinhos te ouviram? - Que vergonha…
É manhã e vais tomar banho.
Mário L. Soares
De Anónimo a 23 de Maio de 2009 às 16:50
Ainda não percebi se a pobre rapariga está sózinha com os seus dedos ou se está acompanhada por alguém que dorme a sono solto. Espero que ela nao tenha visto a Manuela Moura Guedes na sua libidinosa e porcalhona acção jornalistica e tenha então ficado dessa maneira. De qualquer forma foi bom ler e imaginar a pequenita nessa doce aflição. Mina
De
Lagash a 25 de Maio de 2009 às 01:01
Tal acto que a "pobre" abraçou, prima pelo inocente egoísmo adocicado pelo "doce" de um momento só dela, bem passado, e que ninguém tem nada com isso, seja ele motivado pela "solidão" - que desconhecemos a existência - ou por mero querer gostar de si. A pressuposta falta de um "quelque je ne sais quoi" de alguém que dormindo não o sabe, seria motivo para outra dissertação que a devida altura farei, se tiver para aí virado, claro.
Sem dúvida alguma, ver a Manuela Moura Guedes na sua normal actuação provocaria em qualquer mente evoluida de sec. XXI uma vontade de suicidio ou de homicidio, e nunca estímulo ao prazer. De qualquer forma é sempre bom ver como a imaginação pode fazer ligar tais coisas...
Mário L. Soares
De Zinha a 24 de Maio de 2009 às 17:10
Gostei do texto, acho-o bonito e bem escrito e a pequenita (como dizia o comentário anterior) não parecia nada aborrecida. Eu diria que ela ficara sozinha com os dedos porque o companheiro, provavelmente corrido do quarto, devia dizer pérolas como "Consideramos as flores bonitas, provavelmente, porque não falam! És tão bela, se ao menos Deus te tivesse feito muda..." ou, pelo menos, concordava com o amigo que as escrevia. Sempre achei o povo de uma grande sabedoria ... "mais vale só que mal acompanhada".
De
Lagash a 25 de Maio de 2009 às 00:48
Malta terrível, hein...

A solidão é boa quando há sempre uma boa companhia por perto. De resto, serve para tanto, como duche em dia de chuva.
Mário L. Soares
De Zinha a 25 de Maio de 2009 às 12:21
Conclusão: não se deve tomar banho (ou só duche??) quando chove....
De
Lagash a 25 de Maio de 2009 às 14:33
Lavagem no geral é sempre boa... há quem diga que gasta a pele. Mas eu sou dos antigos - lavagem é que é bom - voto a favor.
Duche ou banho? depende... se tiver companhia banho, se tiver sozinho, duche no dia a dia, banhinho para relaxar.
Em dia de chuva deviamos aproveitar e levar o sabonete e champoo para a rua, poupar e desfrutar da rega do S. Pedro... e fazer qualquer coisa como "singing in the rain" sem música, sem roupa e esfregando as partes baixas a fim de remover as impurezas. Como tal concluo que, duche ou banho é uma questão prática ou de gosto, e quando há chuva passa a questão de civismo ecológico e económico.
Beijinhos para ti
Mário L. Soares
De Zinha a 25 de Maio de 2009 às 16:29
Parece-me bem... para quem estuda Gestão a questão ecológica e económica faz todo o sentido... que tal a análise da viabilidade económica de tal projecto? Sim! porque as coimas de tomar banho na rua são exemplo de custos, ou não?
Já agora, aproveita esse banho para lavar tudo, não só as partes baixas...
Beijinho
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