Já o silêncio não é de oiro: é de cristal;
redoma de cristal este silêncio imposto.
Que lívido museu! Velado, sepulcral.
Ai de quem se atrever a mostrar bem o rosto!
Um hálito de medo embaciando o vidrado
dá-nos um estranho ar de fantasmas ou fetos.
Na silente armadura, e sobre si fechado,
ninguém sonha sequer sonhar sonhos completos.
Tão mal consegue o luar insinuar-se em nós
que a própria voz do mar segue o risco de um disco...
Não cessa de tocar; não cessa a sua voz.
Mas já ninguém pretende exp'rimentar-lhe o risco!
David Mourão-Ferreira
És a minha foz
de lava e lume
Eu sou o rio
de águas separadas
Tu és a seta
de vício e de veneno
Eu sou a voz
onde invento o nada
Tu és o meu lavor
eu sou a bordadeira
És o meu anjo
de asas decepadas
Eu sou a distância
tu és a colmeia
Tu és o silêncio
e eu sou a tua espada
Maria Teresa Horta
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