Terça-feira, 2 de Fevereiro de 2010

Luta

 

 

Fluxo e refluxo eterno...

João de Deus.

 

Dorme a noite encostada nas colinas.

Como um sonho de paz e esquecimento

Desponta a lua. Adormeceu o vento,

Adormeceram vales e campinas...

 

Mas a mim, cheia de atracções divinas,

Dá-me a noite rebate ao pensamento.

Sinto em volta de mim, tropel nevoento,

Os Destinos e as Almas peregrinas!

 

Insondável problema!... Apavorado

Recua o pensamento!... E já prostrado

E estúpido à força de fadiga,

 

Fito inconsciente as sombras visionárias,

Enquanto pelas praias solitárias

Ecoa, ó mar, a tua voz antiga.

 

Antero de Quental

 

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Terça-feira, 12 de Janeiro de 2010

Doce sonho suave e soberano

 

 

Doce sonho, suave e soberano,

se por mais longo tempo me durara!

Ah! quem de sonho tal nunca acordara,

pois havia de ver tal desengano!

 

Ah! deleitoso bem! ah! doce engano,

se por mais largo espaço me enganara!

Se então a vida mísera acabara,

de alegria e prazer morrera ufano.

 

Ditoso, não estando em mim, pois tive,

dormindo, o que acordado ter quisera.

Olhai com que me paga meu destino!

 

Enfim, fora de mim, ditoso estive.

Em mentiras ter dita razão era,

pois sempre nas verdades fui mofino.

 

Luís Vaz de Camões

 

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Sábado, 19 de Dezembro de 2009

Barrow-on-furness V

 

 

 

Há quanto tempo, Portugal, há quanto 

Vivemos separados! Ah, mas a alma, 

Esta alma incerta, nunca forte ou calma, 

Não se distrai de ti, nem bem nem tanto. 

 

Sonho, histérico oculto, um vão recanto... 

O rio Furness, que é o que aqui banha, 

Só ironicamente me acompanha, 

Que estou parado e ele correndo tanto... 

 

Tanto? Sim, tanto relativamente... 

Arre, acabemos com as distinções,  

As subtilezas, o interstício, o entre, 

A metafísica das sensações — 

 

Acabemos com isto e tudo mais... 

Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!

 

Álvaro de Campos

 

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Terça-feira, 3 de Novembro de 2009

Sonho da Felicidade

 

(Ermelinda Miranda em 26 de Abril de 2009) 

 

 

Já perdi

Já ganhei

Já sorri

Já chorei

 

Sou feliz

Ou não sou?

Sou carente

E amor dou

 

Quando precisas de mim

Se algo me pedes digo sim

Eu estou sempre presente

 

Quantas alegrias eu dou

E se me chamas eu vou

Gosto de ti, está assente

 

Ermelinda Miranda

 

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Sexta-feira, 18 de Setembro de 2009

Casa

 

("Janela" - foto de José João Bica - 1º prémio ACERT - Concurso Internacional de Fotografia)  

 

(Sonho de ver o mundo parado)

 

Casa.

 

Aqui o sonho é mais exacto,

quase real

— espanto de fluido e cal.

 

Encosto a face

ao vidro da chuva

com a sensação quente do abandono

que me esfria a cara.

 

Lá fora o vento desfaz-se.

E os homens, os prédios, os mortos

vogam no sono...

 

Cá dentro

por um momento

tudo pára.

 

José Gomes Ferreira

 

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Sábado, 1 de Agosto de 2009

Vazio

 

 

Há um vazio dentro de mim

do tamanho de todas as pessoas

do mundo. De volume gigante,

de olhos negros e mortos.

Sem vida está o meu coração.

Não sinto. Estou dormente.

Durmo sobre um molho de

recordações sem sentido

e velhas. Também sem vida.

Acordo com vontade de dormir

e seguir um sonho falso, irreal,

que revela o desejo escondido

de felicidade.

Como me posso preencher?

Qual é o sentido?

Para quê?

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:03
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Domingo, 10 de Maio de 2009

Sonho

 

 

E se um sonho, tudo isto for?

Se não passar tudo, de ideias e pensamento?

Tudo o que é e não é, agora sem cor,

E a vida não ser, e o tudo, ser fingimento.

 

Tudo é, o que queremos que seja,

A flor que voa no campo,

O pássaro que os olhos beija,

O mar ser um quente manto…

 

As imagens que iluminamos, são luz de candeias

Saem pela mente para a tela branca

As sombras à frente, são as vozes alheias

 

É o sonho que ordena o espaço,

A vida não passa de éter,

Que temos na mão e levamos p’lo braço.

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:19
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Quarta-feira, 6 de Maio de 2009

Nocturno

 

 

Espírito que passas, quando o vento

Adormece no mar e surge a Lua,

Filho esquivo da noite que flutua,

Tu só entendes bem o meu tormento...

 

Como um canto longínquo – triste e lento –

Que voga e subtilmente se insinua,

Sobre o meu coração, que tumultua,

Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...

 

A ti confio o sonho em que me leva

Um instinto de luz, rompendo a treva,

Buscando, entre visões, o eterno Bem.

 

E tu entendes o meu mal sem nome,

A febre de Ideal, que me consome,

Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

 

Antero de Quental

 

publicado por Lagash às 16:00
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Sexta-feira, 20 de Fevereiro de 2009

Do Sonho

(Praia em Aruba) 

 

Pelo Sonho é que vamos,

comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não haja frutos,

pelo sonho é que vamos.

 

Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

com a mesma alegria,

ao que desconhecemos

e ao que é do dia a dia.

 

Chegamos? Não chegamos?

 

Partimos. Vamos. Somos.

 

Sebastião da Gama

 

publicado por Lagash às 16:05
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Sábado, 8 de Novembro de 2008

Do Suor da Cajuína

 

(foto retirada da internet - desconheço o autor) 

 

Ela é tão linda

Um encanto de gente

Que faz da vida da gente

Um feliz infinito

Por ela eu me derreto

Eu me enfeito de amor

Para alegrar o seu dia

Ela é obra de arte

Que inebria os olhos

Invade a alma de beleza

E faz pulsar corações

De deslumbramento

Ela é mesmo assim

Um sim de vento

Um reluzir de chuva

Um barco a vela

No alto mar da felicidade

Ela é de sonho

Ela é de seda

Ela é do clube dos Diários

Ela é do suor da cajuína

Tão Farta

Quanto à mãe

Tão safada

Quanto o pai

Tão bela

E Tão terna

Da noite de Março

Do inverno chuvoso

Que não se esquece mais.

 

Arnaldo Eugênio

 

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Quarta-feira, 20 de Agosto de 2008

Acreditar

 

 

Falta-nos acreditar… Falta-nos fé… Não em divindades e coisas sobrenaturais,

Mas sim em nós próprios.

 

Vamos acreditar que conseguimos. Vamos sonhar com o topo. Se tivermos o topo em vista, então o topo é possível alcançar. Se apenas metade da montanha almejarmos então o melhor que conseguiremos é essa metade! E nunca o topo!

 

O mal de não conseguir está no querer pouco, ou querer muito e desejar pouco. O sonho comanda a vida.

 

O sonho, o objectivo, a meta é o que nos move.

 

Força Portugal – eu acredito!

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 10:30
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Quarta-feira, 6 de Agosto de 2008

Pedra Filosofal

 

 

 

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso

em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos

que em verde e oiro se agitam,

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.

 

eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma, é fermento,

bichinho álacre e sedento,

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.

 

Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel,

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa-dos-ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

pára-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra-som, televisão,

desembarque em foguetão

na superfície lunar.

 

Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida,

que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança.

 

António Gedeão (Rómulo de Carvalho) In Movimento Perpétuo, 1956

publicado por Lagash às 16:17
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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