Fluxo e refluxo eterno...
João de Deus.
Dorme a noite encostada nas colinas.
Como um sonho de paz e esquecimento
Desponta a lua. Adormeceu o vento,
Adormeceram vales e campinas...
Mas a mim, cheia de atracções divinas,
Dá-me a noite rebate ao pensamento.
Sinto em volta de mim, tropel nevoento,
Os Destinos e as Almas peregrinas!
Insondável problema!... Apavorado
Recua o pensamento!... E já prostrado
E estúpido à força de fadiga,
Fito inconsciente as sombras visionárias,
Enquanto pelas praias solitárias
Ecoa, ó mar, a tua voz antiga.
Antero de Quental
Doce sonho, suave e soberano,
se por mais longo tempo me durara!
Ah! quem de sonho tal nunca acordara,
pois havia de ver tal desengano!
Ah! deleitoso bem! ah! doce engano,
se por mais largo espaço me enganara!
Se então a vida mísera acabara,
de alegria e prazer morrera ufano.
Ditoso, não estando em mim, pois tive,
dormindo, o que acordado ter quisera.
Olhai com que me paga meu destino!
Enfim, fora de mim, ditoso estive.
Em mentiras ter dita razão era,
pois sempre nas verdades fui mofino.
Luís Vaz de Camões
V
Há quanto tempo, Portugal, há quanto
Vivemos separados! Ah, mas a alma,
Esta alma incerta, nunca forte ou calma,
Não se distrai de ti, nem bem nem tanto.
Sonho, histérico oculto, um vão recanto...
O rio Furness, que é o que aqui banha,
Só ironicamente me acompanha,
Que estou parado e ele correndo tanto...
Tanto? Sim, tanto relativamente...
Arre, acabemos com as distinções,
As subtilezas, o interstício, o entre,
A metafísica das sensações —
Acabemos com isto e tudo mais...
Ah, que ânsia humana de ser rio ou cais!
Álvaro de Campos
Já perdi
Já ganhei
Já sorri
Já chorei
Sou feliz
Ou não sou?
Sou carente
E amor dou
Quando precisas de mim
Se algo me pedes digo sim
Eu estou sempre presente
Quantas alegrias eu dou
E se me chamas eu vou
Gosto de ti, está assente
Ermelinda Miranda
(Sonho de ver o mundo parado)
Casa.
Aqui o sonho é mais exacto,
quase real
— espanto de fluido e cal.
Encosto a face
ao vidro da chuva
com a sensação quente do abandono
que me esfria a cara.
Lá fora o vento desfaz-se.
E os homens, os prédios, os mortos
vogam no sono...
Cá dentro
por um momento
tudo pára.
José Gomes Ferreira
Há um vazio dentro de mim
do tamanho de todas as pessoas
do mundo. De volume gigante,
de olhos negros e mortos.
Sem vida está o meu coração.
Não sinto. Estou dormente.
Durmo sobre um molho de
recordações sem sentido
e velhas. Também sem vida.
Acordo com vontade de dormir
e seguir um sonho falso, irreal,
que revela o desejo escondido
de felicidade.
Como me posso preencher?
Qual é o sentido?
Para quê?
Mário L. Soares
E se um sonho, tudo isto for?
Se não passar tudo, de ideias e pensamento?
Tudo o que é e não é, agora sem cor,
E a vida não ser, e o tudo, ser fingimento.
Tudo é, o que queremos que seja,
A flor que voa no campo,
O pássaro que os olhos beija,
O mar ser um quente manto…
As imagens que iluminamos, são luz de candeias
Saem pela mente para a tela branca
As sombras à frente, são as vozes alheias
É o sonho que ordena o espaço,
A vida não passa de éter,
Que temos na mão e levamos p’lo braço.
Mário L. Soares
Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo – triste e lento –
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração, que tumultua,
Tu vertes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando, entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!
Antero de Quental
Pelo Sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama
Ela é tão linda
Um encanto de gente
Que faz da vida da gente
Um feliz infinito
Por ela eu me derreto
Eu me enfeito de amor
Para alegrar o seu dia
Ela é obra de arte
Que inebria os olhos
Invade a alma de beleza
E faz pulsar corações
De deslumbramento
Ela é mesmo assim
Um sim de vento
Um reluzir de chuva
Um barco a vela
No alto mar da felicidade
Ela é de sonho
Ela é de seda
Ela é do clube dos Diários
Ela é do suor da cajuína
Tão Farta
Quanto à mãe
Tão safada
Quanto o pai
Tão bela
E Tão terna
Da noite de Março
Do inverno chuvoso
Que não se esquece mais.
Arnaldo Eugênio
Falta-nos acreditar… Falta-nos fé… Não em divindades e coisas sobrenaturais,
Mas sim em nós próprios.
Vamos acreditar que conseguimos. Vamos sonhar com o topo. Se tivermos o topo em vista, então o topo é possível alcançar. Se apenas metade da montanha almejarmos então o melhor que conseguiremos é essa metade! E nunca o topo!
O mal de não conseguir está no querer pouco, ou querer muito e desejar pouco. O sonho comanda a vida.
O sonho, o objectivo, a meta é o que nos move.
Força Portugal – eu acredito!
Mário L. Soares
Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorta de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
António Gedeão (Rómulo de Carvalho) In Movimento Perpétuo, 1956
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