Sexta-feira, 20 de Março de 2009

O prazer da crítica

 

 

 

"Se há no mundo alguma coisa especialmente díficil

e para a qual, apesar disso,

nos sentimos preparados,

é a arte de criticar."

 

J. L. Martín Descalzo

 

Dizia Dale Carnegie que “a critica é fútil”. Disse também que ao criticarmos alguém ferimos o orgulho dessa pessoa, magoamos o seu íntimo. Não quis, nem se quer para este efeito, analisar o merecimento da crítica ou a pertinência da mesma. Ou até, da intenção da crítica, que pode em determinadas circunstâncias ser a única medida para solucionar um problema. Apenas disse que o era. E é!

 

Não me cabe a mim a elaborada missão de criticar quem critica, se assim o fosse, estaria a incorrer no erro já anteriormente criticado. Não. Antes farei uma incursão pelos momentos deliciosos da crítica, que todos nós já experimentámos e que continuamos a fazer, diariamente sem dó nem piedade.

 

Que sentimos quando apontamos o dedo a um político? Governante? Polícia? Funcionário público? Professor? Colega de trabalho? Ou um mero condutor que se cruza no nosso caminho na estrada? Satisfação? Poder? Ódio? Raiva?

 

Tem tudo a ver com a transferência de energias, diz James Redfield no seu romance best-seller “A profecia Celestina”, e que a crítica será uma das armas de ataque contra o oponente a enfrentar e derrotar, a fim de sugar a sua energia pela vitória, pelo cansaço e aniquilação. Há mestres na crítica e no confronto. Esses bem falantes que conseguem reinar dividindo ("Divide et regna" – como já era usado por Luis XI de França, Filipe II da Macedónia, ou até pelos Césares da Roma imperial) e agraciando o seu próprio ego com a taça de vitória sobre o oponente vencido.

 

O curioso é que a transferência energética fará mais sentido, quando analisada como um fenómeno científico possível, no confronto directo e pessoal, e não à cobarde distância. Ora, sabemos que se pode criticar alguém mesmo quando essa pessoa está ausente, ou simplesmente não nos pode ouvir, certo? Então que tipo de energia é transferida? - a do ouvinte! Ele dá-nos a energia de bom grado. Vejamos um exemplo simples: estou com um qualquer Manel no café e digo – “estes turistas conduzem mal que se farta!”, o outro poderá dizer – “tens toda a razão, pá! Os gajos são uns aselhas!”. Isto criará entre mim e o Manel uma sensação de cumplicidade pela partilha de uma opinião comum. O Manel dá-me um pouco da sua energia e eu agradeço e retribuo, com um sorriso que indicia – “nós é que somos bons condutores – os turistas não prestam!” e partilho um pouco da minha energia. A energia é partilhada e não subtraída aos outros – que coitados (ou não) nem sabem que lhe “cortam a casaca”.

 

A crítica contra terceiros ausentes (chamemos-lhe assim) é muito comum e normalmente resulta numa animada troca de críticas subsequentes que têm exactamente o mesmo objectivo da primeira, como por exemplo (e no seguimento do exemplo dos turistas), “então e os lisboetas? Nem queiras saber, pá!”. E assim por diante na bondade da partilha de cúmplices opiniões contra os outros.

 

Imaginemos agora outra situação de confronto que pode resultar do ”síndrome dos turistas maus condutores”, que é quando o outro diz: “eu sou turista, pá!” (que todos somos ou fomos) ou mais comummente “eu sou lisboeta, pá!” para o caso do alvo serem os ditos. O que pode ter como consequência uma de duas coisas: ou o Manel retrata-se e corrige “nem todos os lisboetas, é os velhos que eu me refiro, pá!” ou então vai à luta e diz “sim pá, tu és um banana ao volante!” o que direcciona a uma discussão directa (com troca de energias a subtrair) e que pode ter mil resultados, entre eles o insulto e a violência, mas que não terá um desfecho muito diferente de vencedor e vencido.

 

Qualquer que seja a situação a crítica tem como objectivo imediato e necessário a satisfação da necessidade de afirmação e poder perante o outro e si próprio de um egoísmo puro e básico.

 

Sugiro a quem possa interessar, onde me incluo a mim próprio, e sem qualquer crítica, que possamos elogiar, louvar, criar, engrandecer, estimar e acariciar, o que está bem e quem temos pela frente, em vez de criticar.

 

Mário L. Soares

 

 

publicado por Lagash às 16:17
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Quinta-feira, 19 de Março de 2009

Ao meu pai

 

(Joaquim Soares) 

 

És a Força da minha vida,

pilar do meu sustento,

dás a seiva nunca perdida,

para manter o movimento.

 

És a Beleza que ornamenta,

que tudo torna saboroso,

que dá gosto e alimenta,

e faz o sentir harmonioso.

 

És a Sabedoria que me conduz,

és a alavanca de todo o saber,

que ensina, dirige e é a luz,

e o combustível que é o poder.

 

Por seres o tudo para mim,

assim te dou este obrigado.

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 16:15
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Segunda-feira, 2 de Fevereiro de 2009

Recomeço

 

Em aprumo aponto o dedo

No espelho olho o que me dá medo

Corro aos papéis em segredo

E escrevo sem enredo

 

Vou em frente e entro pelo meu caminho

A minha mente manda ou não estou sozinho

Crio rápido sem qualquer alinho

Não penso no que sou nem que definho

 

Sinto ganas de recomeçar

Vontade de não parar

Força para me elevar

Energia para me levantar

 

Volvo ao que era antes de ser

Retorno a mim mesmo sem poder

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 16:13
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Terça-feira, 28 de Outubro de 2008

Do cimo do meu trono

 

(foto de Glacus M. Arantes)

 

 

Horas de lânguida pasmaceira,

Olhando o infinito do cimo de um trono

Rei de um reino pequeno e meu

Silêncio nas planícies e montes

 

De meu sitio tudo o que vejo me pertence

Tenho-o na mão e toco…

Estou oco, mas sinto, leve, mas vejo…

Bato com a mão na barriga minha e digo: Eu!

 

Nada tenho na verdade! Nada!

Não o posso ter porque é sem posse

Que se tem e se possui com vaidade

E sendo olhada, posso ter um pouco, mas sem a ter roubada…

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:25
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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