Terça-feira, 2 de Fevereiro de 2010

Luta

 

 

Fluxo e refluxo eterno...

João de Deus.

 

Dorme a noite encostada nas colinas.

Como um sonho de paz e esquecimento

Desponta a lua. Adormeceu o vento,

Adormeceram vales e campinas...

 

Mas a mim, cheia de atracções divinas,

Dá-me a noite rebate ao pensamento.

Sinto em volta de mim, tropel nevoento,

Os Destinos e as Almas peregrinas!

 

Insondável problema!... Apavorado

Recua o pensamento!... E já prostrado

E estúpido à força de fadiga,

 

Fito inconsciente as sombras visionárias,

Enquanto pelas praias solitárias

Ecoa, ó mar, a tua voz antiga.

 

Antero de Quental

 

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Domingo, 27 de Dezembro de 2009

Natal

 

 

Natal. Na província neva.

Nos lares aconchegados

Um sentimento conserva

Os sentimentos passados.

 

Coração oposto ao mundo,

Como a família é verdade!

Meu pensamento é profundo,

Estou só, e sonho saudade.

 

E como é branca de graça

A paisagem que não sei,

Vista de trás da vidraça

Do lar que nunca terei.

 

Fernando Pessoa

 

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Quarta-feira, 2 de Setembro de 2009

Parabéns à melhor mãe... a minha (75º aniversário)

 

 

 

(Ermelinda Miranda - Verão de 2005) 

 

O pensamento

 

Nada é mais misterioso

Do que o pensamento

Nada é mais livre

Nada é mais sonante

É tão musical

Tão cortante

Tão amante

Tão veloz

Tão inconstante

Mistério tão

Sem valor

Mas assim

Nasce o amor

 

Ermelinda Miranda

 

Para a minha mãe. Que faz hoje 75 anos. Que belo número. Nasceste a 2 de Setembro de 1934.

 

E que belo poema este que escreveste. O amor que tenho por ti, nasceu assim há 36 anos, tão misterioso como a vida que nasceu nesse momento. Para ti tenho mais que um pensamento. Tenho o respeito da vida que me deste e dás. A devoção à família que só compreenderei quando de mim nascer um mistério. Como o pelicano que dá a sua própria carne às suas crias em momentos de escassez, assim tu te anulas em função dos que amas. Sinto-o e isso por vezes, revolta-me por não conseguir ser assim. Quero sê-lo, porque assim é que é belo. Assim se vive no céu. Dando, uns aos outros. Tu dás, sem querer retorno. Nada pedes, nada queres para ti. O sublime altruísmo. Somos a tua extensão. Sou os teus braços. Eu estou contigo, no teu coração. E tu estás comigo no meu…

 

És para mim o exemplo do que deve ser a vida.

 

Do pensamento nasce o amor, é verdade mamã! Penso em ti neste momento. Neste dia. Parabéns!

 

Mário L. Soares

 

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Segunda-feira, 3 de Agosto de 2009

Fechar os olhos

 

 

“De tempos a tempos é bom fecharmos os olhos, e naquele escuro dizer para nós próprios, ‘Eu sou o feiticeiro, e quando abrir os meus olhos verei o mundo que criei, e para com o qual eu, e apenas eu, sou completamente responsável.’ Lentamente, então, as pestanas abrem-se como as cortinas de um palco. E seguramente, estará lá o nosso mundo, tal e qual como o construímos.”

 

Richard Bach

in “A ponte para o sempre” de 1984. A tradução é minha a partir do Inglês.

 

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Sexta-feira, 19 de Junho de 2009

Invenção

 

("Maja desnuda" de Goya) 

 

 

Se é por mim que traço

o teu retrato,

a sobrancelha, a boca

o pensamento

 

É por ti, também

que já o guardo

e o demoro naquilo que eu

invento

 

A mão descida ali

o ombro inclinado

 

Os dedos descuidados

o gesto de que me lembro

 

Se é por mim que faço

o teu retrato

dizendo de ti mais do que

entendo

 

É por ti que o testemunho

e faço:

o nariz, a face dissimulando os dentes

 

Deixo para o fim os lábios

os olhos deste mar

com a cor do luar

a meio de Agosto

 

Se desvendo de ti o sol-posto

é porque vejo o coração

amar

e nada mais me dá tamanho gosto

 

Maria Teresa Horta

 

publicado por Lagash às 16:15
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Quinta-feira, 11 de Junho de 2009

Caminho

 

 

Perco tempo que não existe

nos caminhos da escura

vida que cerca a metrópole

do nosso corpo.

Olho para o infinito

sem pensar no que penso

e ali fico até acordar

do sono sem sonho

e da vida sem vida.

Ando pelas ruas amargas

dos pensamentos sem

sentido, e vou com sentido

pelo mesmo trilho.

Chego a qualquer lado

Que não sei o que é…

E apenas sei que é

o destino que encontrei.

Será bom?

Será mau?

Será por bem?

Será para o mal?

Bem será se correr pelo melhor…

Pois claro.

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:26
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Domingo, 10 de Maio de 2009

Sonho

 

 

E se um sonho, tudo isto for?

Se não passar tudo, de ideias e pensamento?

Tudo o que é e não é, agora sem cor,

E a vida não ser, e o tudo, ser fingimento.

 

Tudo é, o que queremos que seja,

A flor que voa no campo,

O pássaro que os olhos beija,

O mar ser um quente manto…

 

As imagens que iluminamos, são luz de candeias

Saem pela mente para a tela branca

As sombras à frente, são as vozes alheias

 

É o sonho que ordena o espaço,

A vida não passa de éter,

Que temos na mão e levamos p’lo braço.

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:19
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Sexta-feira, 8 de Maio de 2009

A dualidade entre o bem e o mal

 

 

 

O Yin-Yang, branco e negro, a noite e o dia, morte e vida, a luz e a escuridão, o belo e o feio.

 

“O que era a noite sem o dia?

E a luz sem a escuridão?

O contraste é a razão

Porque a gente os avalia.

 

Tendo por esta medida,

Tudo para um mesmo fim,

Até tu, a própria vida,

Não eras nada sem mim.”

 

Disse António Aleixo no Auto da Vida e da Morte, na personagem da “morte” dirigindo-se à “vida”.

 

Assim funciona o mundo.

 

Podemos olha-lo como o belo e o feio. Quando olhamos para uma bela mulher (ou homem), temo-la como bela porquê? Porque temos padrões de beleza definidos pela nossa cultura no geral, e educação e meio onde vivemos em particular. A mais ínfima variável vai para os gostos pessoais que são insignificantes quando analisarmos o caso à distância.

 

Mas como podemos “saber” se a mulher que vemos é bela ou não? – Apenas e só pela distinção. O cérebro através de vários processos “compara” as imagens que captamos pelos olhos com as nossas memórias numa “pasta de ficheiros” imaginária com o nome “mulheres que já vi” que estará hierarquizado por ordem de “beleza” (uma será mais bela que outra) e enquadrará a mulher que vemos agora com a “lista”. Como é obvio este processo é instantâneo e imperceptível. Pela comparação temos o “contraste” do Aleixo.

 

Vemos o mundo também pelo conceito económico de satisfação / utilidade como no paradoxo copo de água / diamante, onde se por um lado a teoria valor trabalho dá mais “valor” ao diamante, torna-se completamente inversa quando estamos no meio do deserto e a água passa a ter toda a importância e nenhum valor imediato no diamante. Também será variável de acordo com a satisfação - se bebermos vários copos de água, a sua utilidade marginal vai diminuindo ao ponto de a curva descer e chegar a ser negativa, quando já deitamos água pelos olhos de tanto beber. Temos então as necessidades dos clássicos da economia de Adam Smith, Ricardo e Marx, a definir os nossos critérios de diferenciação. O bom do menos bom é definido assim.

 

Então e quando temos apenas bom e não temos mau? Pois. Aí temos uma requalificação e um imediato reordenamento da lista. No exemplo das mulheres, se apenas conhecermos mulheres belas e nenhuma feia (e muito importante – nunca poderíamos ter conhecido nenhuma mulher feia – caso contrário teríamos uma referência anterior), ao olhar duas belas mulheres, como serão diferentes, estarão sujeitas a uma hierarquização similar, mas como não há grau inferior, a feia será a menos bela aos nossos olhos e a mais bela será bela apenas e começara um novo processo.

 

Vendo neste prisma as coisas, o bem e o mal serão calibrados um pelo outro, co-existindo e tornando-se mutuamente necessários para a qualificação dos mesmos.

 

Sem as mortes horrendas da guerra daríamos o mesmo valor à paz? Sem o ódio, como seria o amor? Sem a injustiça, faríamos justiça? A ausência de luz seria a escuridão?

 

Deixo-vos com este pensamento, na esperança de que haja esperança quando olharmos o mundo e vermos o mal a surgir. Considerando o perfeito equilíbrio da natureza pela forma como a vemos. Esse mal fará o bom ser melhor, com certeza.

 

Mário L. Soares

 

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Sábado, 2 de Maio de 2009

Eu não procuro nada em ti

 

(Venus e Cupido com um espelho - "Rockeby Venus" de Velazquez) 

 

Eu não procuro nada em ti,

nem a mim próprio, é algo em ti

que procura algo em ti

no labirinto dos meus pensamentos.

 

Eu estou entre ti e ti,

a minha vida, os meus sentidos

(principalmente os meus sentidos)

toldam de sombras o teu rosto.

 

O meu rosto não reflecte a tua imagem,

o meu silêncio não te deixa falar,

o meu corpo não deixa que se juntem

as partes dispersas de ti em mim.

 

Eu sou talvez

aquele que procuras,

e as minhas dúvidas a tua voz

chamando do fundo do meu coração.

 

Manuel António Pina

 

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Segunda-feira, 16 de Fevereiro de 2009

Riqueza

 

 

A riqueza mede-se em mim pela quantidade de sorrisos que distribuí ao longo do dia. Hoje fui rico!

 

Mário L. Soares

 

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Quarta-feira, 26 de Novembro de 2008

Noblesse Oblige

 

(pintura de Michelangelo no tecto da Capela Sistina no Palácio Apostólico na Cidade do Vaticano) 

 

Acredito que todo o Homem, na sua essência, no seu âmago tem o bom, o bem e a bondade. Ninguém no seu perfeito juízo poderá, ou sem outros mottos terá a necessidade ou a vontade de fazer mal. O Homem não é assim!

 

Foi criado à imagem de Deus – e essa premissa é essencial para a coerência desta exortação – sem crer nela não fará sentido tudo o resto. Não é que o Homem seja divino, mas sim que tem os traços gerais do divino… no seu mais profundo ser, os seus princípios são nobres – e de uma nobreza máxima e sem igual.

 

É o Homem portanto o ser que tem no mundo o rosto de Deus. Sente (ou deverá sentir) essa responsabilidade. Com o cargo vem o trabalho. Com o poder vem a responsabilidade. Com a vida vem a morte. Com a humanidade vem o ser (entenda-se verbo ser) humano. Com a nobreza vem a obrigação.

 

Noblesse oblige

 

Mário L. Soares

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Quinta-feira, 13 de Novembro de 2008

O pensamento

 

(Ermelinda Miranda no Verão de 2005 em Loulé - foto de minha autoria) 

 

Nada é mais misterioso

Do que o pensamento

Nada é mais livre

Nada é mais sonante

É tão musical

Tão cortante

Tão amante

Tão veloz

Tão inconstante

Mistério tão

Sem valor

Mas assim

Nasce o amor

 

Ermelinda Miranda

(Tenho por este poema um carinho muito especial, ou melhor, não em particular pelo poema - que é eterno - mas pela poetisa! A MINHA MÃE!) 

 

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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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