Fluxo e refluxo eterno...
João de Deus.
Dorme a noite encostada nas colinas.
Como um sonho de paz e esquecimento
Desponta a lua. Adormeceu o vento,
Adormeceram vales e campinas...
Mas a mim, cheia de atracções divinas,
Dá-me a noite rebate ao pensamento.
Sinto em volta de mim, tropel nevoento,
Os Destinos e as Almas peregrinas!
Insondável problema!... Apavorado
Recua o pensamento!... E já prostrado
E estúpido à força de fadiga,
Fito inconsciente as sombras visionárias,
Enquanto pelas praias solitárias
Ecoa, ó mar, a tua voz antiga.
Antero de Quental
Natal. Na província neva.
Nos lares aconchegados
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.
Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só, e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei.
Fernando Pessoa
(Ermelinda Miranda - Verão de 2005)
O pensamento
Nada é mais misterioso
Do que o pensamento
Nada é mais livre
Nada é mais sonante
É tão musical
Tão cortante
Tão amante
Tão veloz
Tão inconstante
Mistério tão
Sem valor
Mas assim
Nasce o amor
Ermelinda Miranda
Para a minha mãe. Que faz hoje 75 anos. Que belo número. Nasceste a 2 de Setembro de 1934.
E que belo poema este que escreveste. O amor que tenho por ti, nasceu assim há 36 anos, tão misterioso como a vida que nasceu nesse momento. Para ti tenho mais que um pensamento. Tenho o respeito da vida que me deste e dás. A devoção à família que só compreenderei quando de mim nascer um mistério. Como o pelicano que dá a sua própria carne às suas crias em momentos de escassez, assim tu te anulas em função dos que amas. Sinto-o e isso por vezes, revolta-me por não conseguir ser assim. Quero sê-lo, porque assim é que é belo. Assim se vive no céu. Dando, uns aos outros. Tu dás, sem querer retorno. Nada pedes, nada queres para ti. O sublime altruísmo. Somos a tua extensão. Sou os teus braços. Eu estou contigo, no teu coração. E tu estás comigo no meu…
És para mim o exemplo do que deve ser a vida.
Do pensamento nasce o amor, é verdade mamã! Penso em ti neste momento. Neste dia. Parabéns!
Mário L. Soares
“De tempos a tempos é bom fecharmos os olhos, e naquele escuro dizer para nós próprios, ‘Eu sou o feiticeiro, e quando abrir os meus olhos verei o mundo que criei, e para com o qual eu, e apenas eu, sou completamente responsável.’ Lentamente, então, as pestanas abrem-se como as cortinas de um palco. E seguramente, estará lá o nosso mundo, tal e qual como o construímos.”
Richard Bach
in “A ponte para o sempre” de 1984. A tradução é minha a partir do Inglês.
Se é por mim que traço
o teu retrato,
a sobrancelha, a boca
o pensamento
É por ti, também
que já o guardo
e o demoro naquilo que eu
invento
A mão descida ali
o ombro inclinado
Os dedos descuidados
o gesto de que me lembro
Se é por mim que faço
o teu retrato
dizendo de ti mais do que
entendo
É por ti que o testemunho
e faço:
o nariz, a face dissimulando os dentes
Deixo para o fim os lábios
os olhos deste mar
com a cor do luar
a meio de Agosto
Se desvendo de ti o sol-posto
é porque vejo o coração
amar
e nada mais me dá tamanho gosto
Maria Teresa Horta
Perco tempo que não existe
nos caminhos da escura
vida que cerca a metrópole
do nosso corpo.
Olho para o infinito
sem pensar no que penso
e ali fico até acordar
do sono sem sonho
e da vida sem vida.
Ando pelas ruas amargas
dos pensamentos sem
sentido, e vou com sentido
pelo mesmo trilho.
Chego a qualquer lado
Que não sei o que é…
E apenas sei que é
o destino que encontrei.
Será bom?
Será mau?
Será por bem?
Será para o mal?
Bem será se correr pelo melhor…
Pois claro.
Mário L. Soares
E se um sonho, tudo isto for?
Se não passar tudo, de ideias e pensamento?
Tudo o que é e não é, agora sem cor,
E a vida não ser, e o tudo, ser fingimento.
Tudo é, o que queremos que seja,
A flor que voa no campo,
O pássaro que os olhos beija,
O mar ser um quente manto…
As imagens que iluminamos, são luz de candeias
Saem pela mente para a tela branca
As sombras à frente, são as vozes alheias
É o sonho que ordena o espaço,
A vida não passa de éter,
Que temos na mão e levamos p’lo braço.
Mário L. Soares
O Yin-Yang, branco e negro, a noite e o dia, morte e vida, a luz e a escuridão, o belo e o feio.
“O que era a noite sem o dia?
E a luz sem a escuridão?
O contraste é a razão
Porque a gente os avalia.
Tendo por esta medida,
Tudo para um mesmo fim,
Até tu, a própria vida,
Não eras nada sem mim.”
Disse António Aleixo no Auto da Vida e da Morte, na personagem da “morte” dirigindo-se à “vida”.
Assim funciona o mundo.
Podemos olha-lo como o belo e o feio. Quando olhamos para uma bela mulher (ou homem), temo-la como bela porquê? Porque temos padrões de beleza definidos pela nossa cultura no geral, e educação e meio onde vivemos em particular. A mais ínfima variável vai para os gostos pessoais que são insignificantes quando analisarmos o caso à distância.
Mas como podemos “saber” se a mulher que vemos é bela ou não? – Apenas e só pela distinção. O cérebro através de vários processos “compara” as imagens que captamos pelos olhos com as nossas memórias numa “pasta de ficheiros” imaginária com o nome “mulheres que já vi” que estará hierarquizado por ordem de “beleza” (uma será mais bela que outra) e enquadrará a mulher que vemos agora com a “lista”. Como é obvio este processo é instantâneo e imperceptível. Pela comparação temos o “contraste” do Aleixo.
Vemos o mundo também pelo conceito económico de satisfação / utilidade como no paradoxo copo de água / diamante, onde se por um lado a teoria valor trabalho dá mais “valor” ao diamante, torna-se completamente inversa quando estamos no meio do deserto e a água passa a ter toda a importância e nenhum valor imediato no diamante. Também será variável de acordo com a satisfação - se bebermos vários copos de água, a sua utilidade marginal vai diminuindo ao ponto de a curva descer e chegar a ser negativa, quando já deitamos água pelos olhos de tanto beber. Temos então as necessidades dos clássicos da economia de Adam Smith, Ricardo e Marx, a definir os nossos critérios de diferenciação. O bom do menos bom é definido assim.
Então e quando temos apenas bom e não temos mau? Pois. Aí temos uma requalificação e um imediato reordenamento da lista. No exemplo das mulheres, se apenas conhecermos mulheres belas e nenhuma feia (e muito importante – nunca poderíamos ter conhecido nenhuma mulher feia – caso contrário teríamos uma referência anterior), ao olhar duas belas mulheres, como serão diferentes, estarão sujeitas a uma hierarquização similar, mas como não há grau inferior, a feia será a menos bela aos nossos olhos e a mais bela será bela apenas e começara um novo processo.
Vendo neste prisma as coisas, o bem e o mal serão calibrados um pelo outro, co-existindo e tornando-se mutuamente necessários para a qualificação dos mesmos.
Sem as mortes horrendas da guerra daríamos o mesmo valor à paz? Sem o ódio, como seria o amor? Sem a injustiça, faríamos justiça? A ausência de luz seria a escuridão?
Deixo-vos com este pensamento, na esperança de que haja esperança quando olharmos o mundo e vermos o mal a surgir. Considerando o perfeito equilíbrio da natureza pela forma como a vemos. Esse mal fará o bom ser melhor, com certeza.
Mário L. Soares
Eu não procuro nada em ti,
nem a mim próprio, é algo em ti
que procura algo em ti
no labirinto dos meus pensamentos.
Eu estou entre ti e ti,
a minha vida, os meus sentidos
(principalmente os meus sentidos)
toldam de sombras o teu rosto.
O meu rosto não reflecte a tua imagem,
o meu silêncio não te deixa falar,
o meu corpo não deixa que se juntem
as partes dispersas de ti em mim.
Eu sou talvez
aquele que procuras,
e as minhas dúvidas a tua voz
chamando do fundo do meu coração.
Manuel António Pina
A riqueza mede-se em mim pela quantidade de sorrisos que distribuí ao longo do dia. Hoje fui rico!
Mário L. Soares
Acredito que todo o Homem, na sua essência, no seu âmago tem o bom, o bem e a bondade. Ninguém no seu perfeito juízo poderá, ou sem outros mottos terá a necessidade ou a vontade de fazer mal. O Homem não é assim!
Foi criado à imagem de Deus – e essa premissa é essencial para a coerência desta exortação – sem crer nela não fará sentido tudo o resto. Não é que o Homem seja divino, mas sim que tem os traços gerais do divino… no seu mais profundo ser, os seus princípios são nobres – e de uma nobreza máxima e sem igual.
É o Homem portanto o ser que tem no mundo o rosto de Deus. Sente (ou deverá sentir) essa responsabilidade. Com o cargo vem o trabalho. Com o poder vem a responsabilidade. Com a vida vem a morte. Com a humanidade vem o ser (entenda-se verbo ser) humano. Com a nobreza vem a obrigação.
Noblesse oblige
Mário L. Soares
Nada é mais misterioso
Do que o pensamento
Nada é mais livre
Nada é mais sonante
É tão musical
Tão cortante
Tão amante
Tão veloz
Tão inconstante
Mistério tão
Sem valor
Mas assim
Nasce o amor
Ermelinda Miranda
(Tenho por este poema um carinho muito especial, ou melhor, não em particular pelo poema - que é eterno - mas pela poetisa! A MINHA MÃE!)
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PCP - Partido Comunista Português
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