Quinta-feira, 24 de Setembro de 2009

Poema XXII de Elementos

 

(Dolmen de Ballykeel na Irlanda) 

 

Ah! Não me enterrem vivo!

Não me fechem num caixão com o silêncio.

Ao lado do Grito.

Quando eu morrer

estendam-me numa rocha nua.

E deixem-me ser devorado pelas pedras.

Pelos bicos das nuvens.

Morte é liberdade.

Ar.

 

José Gomes Ferreira

 

publicado por Lagash às 16:15
link | comentar | favorito
Sexta-feira, 4 de Setembro de 2009

Sofrimento

 

 

O amor tem mais que o nada do mundo

Viver a morte, viver o sofrimento

Viver uma vida sofrida e amargurada…

É a morte lenta e sem sentido.

 

Temos um prenúncio, um caminho

Saber a senda que nos foi designada

É auguro de poucos, e loucos…

Os olhos vêem mais que o que está à vista.

 

Vê! Há mais no coração que apenas frio.

Há mais na vida do que a morte!

Vê! Vive o teu dia e avança.

 

Vê! Há mais no mundo, tem esperança

Há mais na alma que as pedras da vida!

Vê! Ama a vida… e sorri.

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:09
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Sábado, 15 de Agosto de 2009

Desejo

 

 

Quero-te ao pé de mim na hora de morrer.

Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade,

Ó doce olhar de sonho, ó vida dum viver

Amortalhado sempre à luz duma saudade!

 

Quero-te junto a mim quando o meu rosto branco

Se ungir da palidez sinistra do não ser,

E quero ainda, amor, no meu supremo arranco

Sentir junto ao meu seio teu coração bater!

 

Que seja a tua mão tão branda como a neve

Que feche o meu olhar numa carícia leve

Em doce perpassar de pétala de lis...

 

Que seja a tua boca rubra como o sangue

Que feche a minha boca, a minha boca exangue!...

.......................................................................

Ah, venha a morte já que eu morrerei feliz!...

 

Florbela Espanca

in “O Livro D’ele”

 

publicado por Lagash às 16:26
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Sábado, 6 de Junho de 2009

Diluente

 

(Foto: GettyImages) 

 

A vizinha do número catorze ria hoje da porta

De onde há um mês saiu o enterro do filho pequeno.

Ria naturalmente com a alma na cara.

Está certo: é a vida.

A dor não dura porque a dor não dura.

Está certo.

Repito: está certo.

Mas o meu coração não está certo

O meu coração romântico faz enigmas do egoísmo da vida.

 

Cá está a lição, ó alma da gente!

Se a mãe esquece o filho que saiu dela e morreu,

Quem se vai dar ao trabalho de se lembrar de mim?

Estou só no mundo, como um pião de cair.

Posso morrer como o orvalho seca.

Por uma arte natural de natureza solar,

Posso morrer à vontade da deslembrança,

Posso morrer como ninguém…

Mas isto dói,

Isto é indecente para quem tem coração…

Isto..

Sim, isto fica-me nas goelas como uma sanduíche com lágrimas…

Glória? Amor? O anseio de uma alma humana?

Apoteose às avessas…

Dêem-me Água de Vidago, que eu quero esquecer a Vida!

 

Álvaro de Campos

 

publicado por Lagash às 16:20
link | comentar | ver comentários (2) | favorito
Quinta-feira, 21 de Maio de 2009

As Barreiras da Vida

 

(foto de Oliver Ross) 

 

Estão barradas as portas

Blocos grandes de cimento

Cobrem de negro rosas mortas

Que jazem no chão eternamente

 

São vidas perdidas, paradas…

Pára o sangue que está a morrer,

Pede perdão às pedras suadas

E uma nova razão de viver!

 

A mão que rasga o tijolo rugoso,

Que empurra a murro a pedra imóvel

Que lava de lágrimas o concreto orgulhoso.

 

Bate no coração que quer viver

Volve dentro do peito de raiva!

Será ele que o irá vencer…

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:16
link | comentar | favorito
Segunda-feira, 23 de Março de 2009

Não choreis os mortos

 

(foto de Sergei Ponomarev)

 

Não choreis nunca os mortos esquecidos

Na funda escuridão das sepulturas.

Deixai crescer, à solta, as ervas duras

Sobre os seus corpos vãos adormecidos.

 

E, quando à tarde, o Sol, entre brasidos,

Agonizar… guardai, longe, as doçuras

Das vossas orações, calmas e puras,

Para os que vivem, nudos e vencidos.

 

Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,

Da multidão sem fim dos que são vivos,

Dos tristes que não podem esquecer.

 

E, ao meditar, então, na paz da Morte,

Vereis, talvez, como é suave a sorte

Daqueles que deixaram de sofrer.

 

Pedro Homem de Mello

 

publicado por Lagash às 16:05
link | comentar | favorito
Terça-feira, 17 de Fevereiro de 2009

Pisco Lógico

 

(quadro a óleo de Marianela de Vasconcelos) 

 

Dou-vos hoje um poema que tive a honra de ler publicamente no passado Sábado na inauguração da exposição de pintura da poeta, escritora, pintora e jornalista... e mãe de duas bonitas pessoas que lançaram a fotobiografia "da mãe" também neste Sábado - o Eduardo e a Tânia. 

 

Tanto a fotobiografia como a exposição da Marianela de Vasconcelos poderão visitar em Loulé na galeria de Arte do Convento Espírito Santo, até ao dia 28 de Março.

 

Parabéns aos filhos da Marianela, tenho a certeza que "a mãe" está orgulhosa de vós. (perdoem-me a ousadia de publicar um poema dela aqui...)

 

 

Pisco Lógico

 

Se te queres matar…

(sempre te queres matar?),

escolhe um lugar fresco e abrigado,

longe da estrada e do teu povoado

onde apodreças sem deixar vestígio;

não digas a ninguém do teu intento,

liquida os teus negócios

cem

por cento

e organiza um suicídio

de prestígio.

 

Não se pode morrer de qualquer jeito.

Tem de haver senso,

tem de haver respeito;

a morte não nos pode deixar mal.

E se é forçoso que venha no jornal

ainda temos de pensar melhor.

Nada de armas brancas, nem pistola,

nada de pós que façam mal à tola,

tudo tranquilo, tudo com rigor.

 

Longe o veneno para o escaravelho!

Eu sei que és feio

e estás a ficar velho,

mas não és nada p’ra deitar ao lixo.

Não te exponhas a morrer morto de dores,

roto de medo,

cheio de tremores, de vómito e excremento,

como um bicho!

 

Pára e pensa e telefona, se quiseres,

porque seja o que for que me disseres,

eu entendo,

eu aceito,

eu já sabia.

Enfrasca-te em rosé ou chá de tília,

não abras o teu jogo p’ra família

e vai dormir co’a mãe da tua tia.

 

E depois dá uma festa memorável,

compra uma loura

e um descapotável

e diverte-te à grande

e faz poemas

e canta a marselhesa e as tuas penas

e desperta a atenção das raparigas!

 

Quando cair a noite vai p’ra cama,

E faz amor com alma

E faz amor com gana

 

… e manda o teu suicídio pr’ás urtigas!

 

Marianela de Vasconcelos

 

publicado por Lagash às 16:14
link | comentar | favorito

Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

mais sobre mim

procurar em Lagash

 

Março 2010

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31

posts recentes

Poema XXII de Elementos

Sofrimento

Desejo

Diluente

As Barreiras da Vida

Não choreis os mortos

Pisco Lógico

arquivos

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

Novembro 2009

Outubro 2009

Setembro 2009

Agosto 2009

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Janeiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

tags

todas as tags

links

blogs SAPO

subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub