Ah! Não me enterrem vivo!
Não me fechem num caixão com o silêncio.
Ao lado do Grito.
Quando eu morrer
estendam-me numa rocha nua.
E deixem-me ser devorado pelas pedras.
Pelos bicos das nuvens.
Morte é liberdade.
Ar.
José Gomes Ferreira
O amor tem mais que o nada do mundo
Viver a morte, viver o sofrimento
Viver uma vida sofrida e amargurada…
É a morte lenta e sem sentido.
Temos um prenúncio, um caminho
Saber a senda que nos foi designada
É auguro de poucos, e loucos…
Os olhos vêem mais que o que está à vista.
Vê! Há mais no coração que apenas frio.
Há mais na vida do que a morte!
Vê! Vive o teu dia e avança.
Vê! Há mais no mundo, tem esperança
Há mais na alma que as pedras da vida!
Vê! Ama a vida… e sorri.
Mário L. Soares
Quero-te ao pé de mim na hora de morrer.
Quero, ao partir, levar-te, todo suavidade,
Ó doce olhar de sonho, ó vida dum viver
Amortalhado sempre à luz duma saudade!
Quero-te junto a mim quando o meu rosto branco
Se ungir da palidez sinistra do não ser,
E quero ainda, amor, no meu supremo arranco
Sentir junto ao meu seio teu coração bater!
Que seja a tua mão tão branda como a neve
Que feche o meu olhar numa carícia leve
Em doce perpassar de pétala de lis...
Que seja a tua boca rubra como o sangue
Que feche a minha boca, a minha boca exangue!...
.......................................................................
Ah, venha a morte já que eu morrerei feliz!...
Florbela Espanca
in “O Livro D’ele”
(Foto: GettyImages)
A vizinha do número catorze ria hoje da porta
De onde há um mês saiu o enterro do filho pequeno.
Ria naturalmente com a alma na cara.
Está certo: é a vida.
A dor não dura porque a dor não dura.
Está certo.
Repito: está certo.
Mas o meu coração não está certo
O meu coração romântico faz enigmas do egoísmo da vida.
Cá está a lição, ó alma da gente!
Se a mãe esquece o filho que saiu dela e morreu,
Quem se vai dar ao trabalho de se lembrar de mim?
Estou só no mundo, como um pião de cair.
Posso morrer como o orvalho seca.
Por uma arte natural de natureza solar,
Posso morrer à vontade da deslembrança,
Posso morrer como ninguém…
Mas isto dói,
Isto é indecente para quem tem coração…
Isto..
Sim, isto fica-me nas goelas como uma sanduíche com lágrimas…
Glória? Amor? O anseio de uma alma humana?
Apoteose às avessas…
Dêem-me Água de Vidago, que eu quero esquecer a Vida!
Álvaro de Campos
(foto de Oliver Ross)
Estão barradas as portas
Blocos grandes de cimento
Cobrem de negro rosas mortas
Que jazem no chão eternamente
São vidas perdidas, paradas…
Pára o sangue que está a morrer,
Pede perdão às pedras suadas
E uma nova razão de viver!
A mão que rasga o tijolo rugoso,
Que empurra a murro a pedra imóvel
Que lava de lágrimas o concreto orgulhoso.
Bate no coração que quer viver
Volve dentro do peito de raiva!
Será ele que o irá vencer…
Mário L. Soares
(foto de Sergei Ponomarev)
Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.
E, quando à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar… guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.
Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.
E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.
Pedro Homem de Mello
(quadro a óleo de Marianela de Vasconcelos)
Dou-vos hoje um poema que tive a honra de ler publicamente no passado Sábado na inauguração da exposição de pintura da poeta, escritora, pintora e jornalista... e mãe de duas bonitas pessoas que lançaram a fotobiografia "da mãe" também neste Sábado - o Eduardo e a Tânia.
Tanto a fotobiografia como a exposição da Marianela de Vasconcelos poderão visitar em Loulé na galeria de Arte do Convento Espírito Santo, até ao dia 28 de Março.
Parabéns aos filhos da Marianela, tenho a certeza que "a mãe" está orgulhosa de vós. (perdoem-me a ousadia de publicar um poema dela aqui...)
Pisco Lógico
Se te queres matar…
(sempre te queres matar?),
escolhe um lugar fresco e abrigado,
longe da estrada e do teu povoado
onde apodreças sem deixar vestígio;
não digas a ninguém do teu intento,
liquida os teus negócios
cem
por cento
e organiza um suicídio
de prestígio.
Não se pode morrer de qualquer jeito.
Tem de haver senso,
tem de haver respeito;
a morte não nos pode deixar mal.
E se é forçoso que venha no jornal
ainda temos de pensar melhor.
Nada de armas brancas, nem pistola,
nada de pós que façam mal à tola,
tudo tranquilo, tudo com rigor.
Longe o veneno para o escaravelho!
Eu sei que és feio
e estás a ficar velho,
mas não és nada p’ra deitar ao lixo.
Não te exponhas a morrer morto de dores,
roto de medo,
cheio de tremores, de vómito e excremento,
como um bicho!
Pára e pensa e telefona, se quiseres,
porque seja o que for que me disseres,
eu entendo,
eu aceito,
eu já sabia.
Enfrasca-te em rosé ou chá de tília,
não abras o teu jogo p’ra família
e vai dormir co’a mãe da tua tia.
E depois dá uma festa memorável,
compra uma loura
e um descapotável
e diverte-te à grande
e faz poemas
e canta a marselhesa e as tuas penas
e desperta a atenção das raparigas!
Quando cair a noite vai p’ra cama,
E faz amor com alma
E faz amor com gana
… e manda o teu suicídio pr’ás urtigas!
Marianela de Vasconcelos
Sitios interessantes (ou não)
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Não asses mais carapaus fritos
PCP - Partido Comunista Português
PSD - Partido Social Democrata
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