Domingo, 7 de Junho de 2009

Exame

 

 

Feiticeiro sem deuses, reconheço

O limite dos meus encantamentos.

Só em raros momentos

De inspiração

Eu consigo o milagre dum poema,

Teorema

Indemonstrável pela multidão.

 

Mas é desse limite que me ufano:

Ser humano

E poeta.

Humildemente,

Com toda a paciência da terra,

Com toda a impaciência do mar,

Aguardo o transe, a hora desmedida;

E é o próprio rosto universal da vida

Que se ilumina,

Quando o primeiro verso me fulmina.

 

Miguel Torga

 

publicado por Lagash às 16:01
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Quinta-feira, 15 de Janeiro de 2009

Mar!

 

(Mar Revolto, da autoria de José Santinho) 

 

Mar!

Tinhas um nome que ninguém temia:

Era um campo macio de lavrar

Ou qualquer sugestão que apetecia...

 

Mar!

Tinhas um choro de quem sofre tanto

Que não pode calar-se, nem gritar,

Nem aumentar nem sufocar o pranto...

 

Mar!

Fomos então a ti cheios de amor!

E o fingido lameiro, a soluçar,

Afogava o arado e o lavrador!

 

Mar!

Enganosa sereia louca e triste!

Foste tu quem nos veio namorar,

E foste tu depois que nos traíste!

 

Mar!

E quando terá fim o sofrimento!

E quando deixará de nos tentar

O teu encantamento!

 

Miguel Torga em Poemas Ibéricos - 1965

 

publicado por Lagash às 16:26
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Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Súplica

 
(foto retirada da internet - desconheço o autor) 
 

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

 

Miguel Torga

 

publicado por Lagash às 16:09
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Domingo, 13 de Julho de 2008

Viagem

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aparelhei o barco da ilusão

 

E reforcei a fé de marinheiro.

Era longe o meu sonho, e traiçoeiro

O mar…

(Só nos é concedida

Esta vida

Que temos;

E é nela que é preciso

Procurar

O velho paraíso

Que perdemos).

Prestes, larguei a vela

E disse adeus ao cais, à paz tolhida.

Desmentida,

A revolta imensidão

Transforma dia a dia a embarcação

Numa errante e alada sepultura…

Mas corto as ondas sem desanimar.

Em qualquer aventura,

O que importa é partir, não é chegar.

 

Miguel Torga

 

 

 

publicado por Lagash às 17:12
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Sexta-feira, 27 de Junho de 2008

Recomeça...

 

 

Recomeça....

Se puderes

Sem angústia

E sem pressa.

E os passos que deres,

Nesse caminho duro

Do futuro

Dá-os em liberdade.

Enquanto não alcances

Não descanses.

De nenhum fruto queiras só metade.

 

Miguel Torga

 

publicado por Lagash às 20:30
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Segunda-feira, 28 de Abril de 2008

Canção para o Alentejo



Alentejo, Alentejo,
Vastidão de Portugal
Futuro, continental!
Terra lavrada, que vejo
A ser mar mas sem ter sal.

Ondas de trigo maduro
Onde mais ninguém se afoga:
Danças alegres da roga
Que vindima no meu Doiro
E vem colher o pão loiro
Da inteira fraternidade
Que falta a esta metade
De coração largo e moiro...

Miguel Torga

publicado por Lagash às 14:07
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Sexta-feira, 21 de Março de 2008

Anunciação

Surdo murmúrio do rio,
a deslizar, pausado, na planura.
Mensageiro moroso
dum recado comprido,
di-lo sem pressa ao alarmado ouvido
dos salgueirais:
a neve derreteu
nos píncaros da serra;
o gado berra
dentro dos currais,
a lembrar aos zagais
o fim do cativeiro;
anda no ar um perfumado cheiro
a terra revolvida;
o vento emudeceu;
o sol desceu;
a primavera vai chegar, florida.


 

 

Miguel Torga

publicado por Lagash às 23:55
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Primavera

 

GLÓRIA


Depois do Inverno, morte figurada,
A primavera, uma assunção de flores.
A vida
Renascida
E celebrada
Num festival de pétalas e cores.

 

Miguel Torga

publicado por Lagash às 23:40
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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