Pela flor pelo vento pelo fogo
Pela estrela da noite tão límpida e serena
Pelo nácar do tempo pelo cipreste agudo
Pelo amor sem ironia – por tudo
Que atentamente esperamos
Reconheci a tua presença incerta
Tua presença fantástica e liberta
Sophia de Mello Breyner Andresen
Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crónica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.
Carlos Drummond de Andrade
Escreve-me! Ainda que seja só
Uma palavra, uma palavra apenas,
Suave como o teu nome e casta
Como um perfume casto d'açucenas!
Escreve-me! Há tanto, há tanto tempo
Que te não vejo, amor! Meu coração
Morreu já, e no mundo aos pobres mortos
Ninguém nega uma frase d'oração!
"Amo-te!" Cinco letras pequeninas,
Folhas leves e tenras de boninas,
Um poema d'amor e felicidade!
Não queres mandar-me esta palavra apenas?
Olha, manda então... brandas... serenas...
Cinco pétalas roxas de saudade...
Florbela Espanca
Quantas saudades
Da minha infância
Fui tão feliz
Quando em criança
Tinha bonecas
Feitas de trapos
De pele grosseira
Os meus sapatos
Gorros de lã
Minha mãe fazia
Leite de cabra
Muito eu bebia
Junto à lareira
Histórias me contava
Meu querido pai
Que eu tanto amava
Quando chegar o meu fim
P’ra junto dele quero ir
Virá um anjo do céu
P’ro caminho conduzir
Ermelinda Miranda
in Quadras Soltas (Saudade)
Já perdi
Já ganhei
Já sorri
Já chorei
Sou feliz
Ou não sou?
Sou carente
E amor dou
Quando precisas de mim
Se algo me pedes digo sim
Eu estou sempre presente
Quantas alegrias eu dou
E se me chamas eu vou
Gosto de ti, está assente
Ermelinda Miranda
Que felicidade desenrola dentro de mim
por debitar litros de palavras a rodos?
Nenhuma mesmo. Sinto tudo e nada.
Sinto tudo o que digo, e nada do que saiu…
Conto dias de vida hoje, e muito poucos
a ter para a frente. E tanto que me falta
fazer, e completar. Tanta vida por viver.
Debito pois, sim. Talvez assim possa ser livre.
Liberto-me do que não quero. Do que sinto.
Do que não sinto. Do que faz falta.
Vejo ao longe o que não tenho e minto.
Sou o que quero. Quero mais do que posso.
Rompo barreiras com o meu abraço.
Mas sei que daqui não passo.
Mário L. Soares
Há um vazio dentro de mim
do tamanho de todas as pessoas
do mundo. De volume gigante,
de olhos negros e mortos.
Sem vida está o meu coração.
Não sinto. Estou dormente.
Durmo sobre um molho de
recordações sem sentido
e velhas. Também sem vida.
Acordo com vontade de dormir
e seguir um sonho falso, irreal,
que revela o desejo escondido
de felicidade.
Como me posso preencher?
Qual é o sentido?
Para quê?
Mário L. Soares
O melhor do mundo são as crianças
que têm a inocência do bem,
e o futuro da humanidade
nos olhos que sorriem.
Têm a beleza nas tranças,
a sabedoria de mais ninguém,
nas lágrimas, felicidade,
e amor por outro alguém.
Gosto de ver a traquinagem
inocente, do mais reguila miúdo
que parte o vidro e mente
à gente, mesmo que seja sem querer.
Olha o mundo e tem coragem,
acredita no nada e no tudo,
cai no chão e segue em frente,
e sabe agora o que é ser.
Mário L. Soares
Nós podemos viver alegremente,
Sem que venham com fórmulas legais,
Unir as nossas mãos, eternamente,
As mãos sacerdotais.
Eu posso ver os ombros teus desnudos,
Palpá-los, contemplar-lhes a brancura,
E até beijar teus olhos tão ramudos,
Cor de azeitona escura.
Eu posso, se quiser, cheio de manha,
Sondar, quando vestida, p’ra dar fé,
A tua camisinha de bretanha,
Ornada de crochet.
Posso sentir-te em fogo, escandecida,
De faces cor-de-rosa e vermelhão,
Junto a mim, com langor, entredormida,
Nas noites de verão.
Eu posso, com valor que nada teme,
Contigo preparar lautos festins,
E ajudar-te a fazer o leite-creme,
E os mélicos pudins.
Eu tudo posso dar-te, tudo, tudo,
Dar-te a vida, o calor, dar-te cognac,
Hinos de amor, vestidos de veludo,
E botas de duraque
E até posso com ar de rei, que o sou!
Dar-te cautelas brancas, minha rola,
Da grande lotaria que passou,
Da boa, da espanhola,
Já vês, pois, que podemos viver juntos,
Nos mesmos aposentos confortáveis,
Comer dos mesmos bolos e presuntos,
E rir dos miseráveis.
Nós podemos, nós dois, por nossa sina,
Quando o Sol é mais rúbido e escarlate,
Beber na mesma chávena da China,
O nosso chocolate.
E podemos até, noites amadas!
Dormir juntos dum modo galhofeiro,
Com as nossas cabeças repousadas,
No mesmo travesseiro.
Posso ser teu amigo até à morte,
Sumamente amigo! Mas por lei,
Ligar a minha sorte à tua sorte,
Eu nunca poderei!
Eu posso amar-te como o Dante amou,
Seguir-te sempre como a luz ao raio,
Mas ir, contigo, à igreja, isso não vou,
Lá essa é que eu não caio!
Cesário Verde
Aos novos Doutores!
Que longe vos leve o sucesso!
E que o mundo vos traga louvores,
Que seja uma carreira expresso!
Que o ensino vos tenha levado
Boas coisas a saber,
E que vos tenham mostrado
Como a arte fazer.
Com amigos, mais ajuda,
De muitos livros, e de família,
O quadro concilia.
No aprendiz está o mérito – o ás!
E no professor, o companheiro,
É isso que o mestre faz.
Mário L. Soares
(paisagem comestível de Carl Warner)
Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Alberto Caeiro em "O Guardador de rebanhos"
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