Ó sol que miras p’lo céu!
Vens e banhas o ventre
Tocas o meu pelo véu
Molhas, seco e quente.
Azuis sorrisos tu brilhas
Esperança, de ti, existência
E as estrelas, tuas filhas,
Choram à noite, vivência.
Milhas de longe e de luz
Abraças a terra fecunda
Beijas o mar que seduz
Semente pátria profunda
Alento dás tempo à hora
Montanhas, campos de sal
Eriges estruturas de flora
Invocas o Deus contra o mal
Mário L. Soares
Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão
Em mim não é amor; filha, é adoração!
Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora.
Quando da minha noite eu te contemplo, aurora,
E, estrela da manhã, um beijo teu perpassa
Em meus lábios, oh! quando essa infinita graça
do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante
Eu sinto? virgem linda, inefável, radiante,
Envolta num clarão balsâmico da lua,
A minh'alma ajoelha, trémula, aos pés da tua!
Adoro-te!... Não és só graciosa, és bondosa:
Além de bela és santa; além de estrela és rosa.
Bendito seja o deus, bendita a Providência
Que deu o lírio ao monte e à tua alma a inocência,
O deus que te criou, anjo, para eu te amar,
E fez do mesmo azul o céu e o teu olhar!...
Guerra Junqueiro
("Olhando o céu", foto de João Viegas - http://olhares.aeiou.pt/joaoviegas )
Era um rapazinho estranho, pensavam os colegas e a família, pouco à vontade, caminhando de mansinho, cerimonioso, na vida, e às vezes como que esquecido dela. Não entrava no esquema, e as pessoas que o rodeavam sentiam-se frustradas e até impotentes, irritadas às vezes, perante a sua inércia e o seu desinteresse, mais ainda perante o seu leve, quase inexistente interesse por coisas que eram decerto erradas porque as ignoravam. Dir-se-ia que ele se ia perdendo aos poucos, ao longo dos dias. O seu olhar redondo parecia às vezes ficar pegado, ali e além, mas sempre num ali e num além desinteressantes para os outros, perigosos, e quando um grito ou uma repreensão obrigava o olhar a soltar-se, a criança parecia de repente magoada, perplexa e só, num mundo desconhecido.
Na escola aprendia com dificuldade e o computador que dava mensalmente as notas, com a sua gelada isenção de máquina, queixava-se sempre dele em cartão perfurado. Não gostava de números, o que afligia os pais, porque os números eram a única solução para os homens e ninguém podia ganhar a vida sem conviver com eles intimamente. Também não se interessava muito pelos jogos nem mesmo pela televisão que tinha no quarto, e passavam-se dias em que nem sequer tocava nos botões do aparelho maravilhoso. O «écran» era programado para a sua idade e para os gostos que alguém muito sabedor, sem a menor hesitação lhe atribuía. Cada pessoa tinha a sua televisão, programada de um modo especial, assim eram feitas as casas. O «écran» acendia-se numa espécie de altar, porque se tratava de um só deus omnipresente embora tivesse um rosto e uma voz para cada um dos seus adoradores. Como, de resto, todos os deuses de todos os tempos.
O rapazinho deambulava pois pela escola ou pela casa, como um corpo sem alma. À noite, enquanto o pai e a mãe olhavam em êxtase para os «écrans» respectivos, não se punha outra hipótese, o rapazinho metia-se no elevador e ia até ao terraço que ficava no quinquagésimo andar. Ali acabara o reino das moscas e o único f í era luminoso e parecia suspenso no tecto côncavo da abóbada celeste, porque era poeira de estrelas. E então escrevia no ar e apagava o que escrevia e escrevia de novo.
Um dia a mãe seguiu-o, Se queria adoecer, disse-lhe. Já que gostava de ver o céu, por que não ligava para o programa das nove horas? Era a mesma coisa, era mesmo muito melhor e a casa estava aquecida.
Corou, envergonhado ou até assustado, sem saber porquê mas com a consciência intranquila de estar a cometer uma interdição, e essa intranquilidade vinha-lhe do facto de não conhecer ninguém que perdesse tempo a olhar para o céu. A mãe tinha razão. Os rapazes da escola e as raparigas, claro, falavam desse programa. E havia também os planetários e os grandes telescópios públicos. Mas aí está, nada, disso o interessava. Era multo científico e sem mistério. Ele gostava era daquele pozinho de luz, suspenso sobre a sua cabeça. Mas nessa noite a mãe acusa-o de a tomar infeliz, e o rapazinho, que gostava muito dela, prometeu emendar-se e ficar atento às coisas da vida.
Cumpriu na medida do possível. Aprendeu a lidar com os números, tão áridos, e soube mexer com relativo à-vontade nos mil botões das muitas máquinas indispensáveis ao dia-a-dla das criaturas. Os pais, tranquilizados, respiraram fundo. O filho estava finalmente a preparar-se para a vida.
Um dia, porém, ele fez um poema. Não sabia que era um poema porque coisas dessas, inúteis ao bem-estar e ao progresso, já não se aprendiam nas escolas. Mas o rapazinho estava sentado à sua máquina electrónica para traçar o esboço de um relatório e em vez disso fez um poema em que se tratava de uma prisão invisível, da proibição de viver a de morrer, da obrigatoriedade de esperar uma vida inteira, se necessário fosse, por coisa nenhuma. Era um poemazinho ingénuo, mas ele sentiu-se tão assustado como quando a mãe o surpreendera a olhar para as estrelas. E escondeu-o, bem escondido, no fundo de uma gaveta,
Um dia alguém bem pensante da família achou o poema e foi mostrá-lo à mãe, que o leu, angustiada. Ela sabia daquele mal antigo e persistente cuja cura só fora descoberta havia umas dezenas de anos. A cura, quando a doença estava no princípio. Estaria no princípio a doença do filho? Não teria já nascido doente sem ela o saber?
A noite falou com o marido e no dia seguinte levaram o rapazinho à clínica dos casos urgentes. O médico fez multas perguntas, leu o texto muitas vezes para o perceber bem, quis saber o que a criança sentira ao escrevê-lo, porque o escrevera, para quê, tomou notas, forneceu-as ao computador-ajudante. Aquilo de ter ido ao último andar olhar o céu — quantas vezes? Quando fora a primeira? — era um sintoma aborrecido. O exame durou uma hora. Depois o médico sentou-se à sua mesa de trabalho, leu a resposta, fechou os olhos, abriu-os, declarou aos pais em pânico: «O que ele tem chama-se poesia.»
«Era o que eu receava», disse o pai. «Era o que eu receava», repetiu.
«Houve alguém na família...» ia perguntar o médico.
A mãe precipitou-se: «Não, não, ninguém. Somos todos absolutamente normais.»
«Então há esperança. Se fizer o tratamento com regularidade, há esperança.»
Fez o tratamento e curou-se. Uma pílula azul e outra verde pela manhã, um comprimido à tarde, uma injecção semanal. Durante três meses. Quando voltou ao médico estava curado.
Dai em diante deu-se todo às máquinas e ergueu muros que impediam toda e qualquer fuga para além do quotidiano. Sentiu-se, de resto, muito bem no esquema que passou a considerar certo. E entre outras coisas converteu-se ao deus caseiro. Foi um homem como os outros homens, portanto feliz, que mais se podia desejar?
Maria Judite de Carvalho
Aquele que escreve será traído
um dia algum leitor apontará
a palavra interdita
e o sentido escondido no sentido.
O beijo de Judas está dentro da própria escrita
e aquele que escreve está
perdido. De nada serve
dizer este é o meu vinho este é o meu pão.
O beijo de Judas vai ser dado. Quem escreve
tem uma lança apontada ao coração.
Não se perdoa a dádiva de si
a canção que se canta ou a breve tão breve
alegria de partilhar o corpo e a palavra.
Quem reparou em Getsemani
naquele que não se ria nem se dava?
Já outra vez se levantou e se deteve
alguém vai ser traído agora aqui
seu olhar te designa: Tu és aquele que escreve
e a tua própria mão aponta para ti.
Manuel Alegre
Virá o dia que facas, lâminas e espadas
te sairão pela boca e contra a besta
investirás para remissão de todo o mal.
Virá em resposta de todos os sinais proféticos
que desde sempre pressagiaram a tua vinda.
Nesse dia, a tua palavra chegará aos ouvidos
de muitos e tantos perecerão ao ouvi-la.
Todo o exército cairá prostrado e abutres
e aves almoçarão as carnes ainda quentes.
Será silenciado o líder, que em mil anos
quedará agrilhoado nos abismos com
o falso profeta.
O mundo estará calmo e virá a paz…
O sol nascerá todos os dias como sempre
mas sem o engulho de Lúcifer.
E tudo será como devia ser.
Até ao segundo encontro contigo!
Que guerra sangrenta será. Por montanhas
de fogo será travada. E tomarás
extinguido o maléfico animal novamente.
E o sentenciarás ao sofrimento infinito.
E eterna será a sua pena.
E a todos os que sobraram julgarás
depois pelo que fizeram e não fizeram
desde a fundação dos tempos. Desde
que o primeiro sopro soprou e
desde que o primeiro sol brilhou.
No livro estará a história, e a tua lei
será cega e justa. E na lava do lago
serão lançados os que lá devem ficar.
E o mundo e os céus serão outros,
tudo irá pelos ares voando e se
retalhando em pedaços pequenos.
Nada sobejará e ficará tudo no éter.
A morte morrerá e não será mais.
Nem mais sofrimento, nem dor.
E um novo mundo com dúzias de
belas coisas, e um novo céu
e um novo amor renascerá forte e belo.
Como tu… como o teu amor…
Mário L. Soares
Onda a onda o desejo no
teu rosto de mágoas e de torres
levemente descaídas para
onde não sei se nasces ou se morres
quando os meus dedos cítara a cítara
tocam a música do teu corpo nu
lá onde os teus mistérios serão meus
e chegarei às margens onde tu
talvez então me digas quem é Deus.
Manuel Alegre
Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.
O anjo caiu ferido,
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem ‘splendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.
Vi-o eu, o anjo dos céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia...
E só lágrimas beber.
Ninguém mais na terra o via,
Era eu só que o conhecia...
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! ai, cega loucura!
Mas entre os anjos dos céus
Faltava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo,
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?
Eu só, - e eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus,
E o meu ser se dividia,
Porque ele outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai! tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.
Almeida Garrett
Que jaz no abismo sob o mar que se ergue?
Nós, Portugal, o poder ser.
Que inquietação do fundo nos soergue?
O desejar poder querer.
Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...
Mas súbito, onde o vento ruge,
O relâmpago, farol de Deus, um hausto
Brilha, e o mar ‘scuro ‘struge.
Fernando Pessoa
in Mensagem
Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
«Constituição íntima das cousas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.
Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)
Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.
Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.
E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?).
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.
Alberto Caeiro
Deus é maneta
diz Saramago
só tem a mão direita
à direita da qual todos se sentam
Eu canto a outra mão de Deus
a que traz o Diabo pela trela
a que por vezes puxa para o outro lado
e escreve sempre por linhas tortas
a mão esquerda de Deus
a mão de sombra a mão do medo
a mão do nada
a mais perigosa mão de Deus
aquela que de repente solta o espírito
o enxofre a guerra o vento mau.
É a mão esquerda de Deus que aperta o coração
acelera o pulso
desarticula o ritmo.
Os poetas estão sentados à esquerda da mão esquerda
de Deus
até mesmo Antero.
É com ela que Deus abana o Mundo
com sua chuva e com seu fogo
sua onda gigante e seu terrível
terramoto.
Não é verdade que Deus seja maneta
Deus é canhoto.
Manuel Alegre
(Jim Caviezel no papel de Jesus no filme "A paixão de Cristo" de Mel Gibson)
Jesus Cristo, o “prometido”, o “messias”, ou o filho de Deus vivo.
Era descendente de David, filho de Maria, nasceu em Belém na Judeia e viveu em Nazaré grande parte da sua vida, daí ser conhecido também pelo “Nazareno”. Cristo, do grego “Christós” é a tradução de “Messias”, e é esse o seu significado.
Um anjo anunciou ao profeta Daniel, segundo o velho testamento (Daniel 9:25, 26), que o Messias surgiria após o restabelecimento de Jerusalém e antes da destruição do templo. A profecia indicava a vinda de um ser humano, descendente de David, que pudesse recuperar Israel e devolvê-la aos filhos de Israel, reconstruindo a nação e restaurando a paz no mundo.
Jesus viveu para a salvação da humanidade e morreu para a salvar. Ressuscitou ao terceiro dia.
A Sexta-feira Santa, ou Sexta-feira da Paixão, é a Sexta-feira antes do Domingo de Páscoa. É a data em que os cristãos lembram o julgamento, paixão, crucificação, morte e sepultura de Jesus Cristo, através de diversos ritos religiosos.
Segundo a tradição cristã, a ressurreição de Cristo aconteceu no domingo seguinte ao dia 14 de Nisã, no calendário hebraico. A mesma tradição refere ser esse o terceiro dia desde a morte. Assim, contando a partir do domingo, e sabendo que o costume judaico, tal como o romano, contava o primeiro e o último dia, chega-se à sexta-feira como dia da morte de Cristo.
A Sexta-feira Santa é um feriado móvel que serve de referência para outras datas. É calculado como sendo a primeira Sexta-feira de lua cheia após o equinócio de Outono no hemisfério sul ou o equinócio de primavera no hemisfério norte, podendo ocorrer entre 22 de Março e 25 de Abril.
Mário L. Soares
(recolhi partes da Wikipédia)
Da Magdala és Maria,
Bela e incompreendida
És o cálice que Deus na terra bebia,
És da Galileia aparecida.
Beijas o menino com amor,
Amas o rei com o peito,
És discípulo, o maior, em flor,
Bela pela noite no leito.
Crias em ti por nascimento,
O berço, pelo homem, do amor,
Barro em ti, fermento
Sara a vida numa cor.
Mário L. Soares
Deus está em nós.
Está em ti e em mim,
Está na pedra da calçada,
No deserto quando estamos sós,
Naquele abraço sem fim,
Está no fundo da estrada.
Está na minha mão quando ta dou,
Na tua quando recebes,
No ouvir das palavras doces,
Está no beijo que passou.
Em tudo o que concebes,
No pequeno sorriso que esboces .
Ama-te, porque te criou,
Quer-te para o bem fazer,
Em ti nunca duvidou,
Escreve o que podes ler.
Ri, então por teu futuro!
Sabes que tens o rei a teu lado,
Não perderás nada, nada é escuro…
Ele por ti está enamorado.
Mário L. Soares
Caro amigo deus,
O que é que me dizes da política? Qual é a tua opinião sobre o meio ambiente, e o aquecimento global? A fome em África? A sobrepopulação na Índia e na China? O abate de árvores na amazónia e o derrame de petróleo nos mares? A guerra do Iraque e o Comunismo? Os Estados Unidos como polícias do mundo? Qual é a tua opinião sobre isto?
Acho sinceramente que os Americanos às vezes abusam, são muito prepotentes e acham que tudo gira à volta deles. Se há qualquer coisa mal no mundo falam como se o país deles fosse o mundo! Dá voltas ao estômago… o mundo não é os Estados Unidos! E às vezes decidir por nós todos é um pouco anti-democrático! Não passei nenhuma procuração ao presidente deles para que tomasse decisões por mim. Até porque, acho que não é o bem-estar da humanidade que é o objectivo da política externa dos EUA, petróleo é mais o seu mote. Estarei errado? Às vezes sinto-me esquisito pensar assim, mas estou a ser sincero e o mais altruísta possível. Tu deverás ter a tua opinião… ou melhor tu tens com certeza a razão e sabes o que deve ou não ser feito. Porque não?
Aquecem os pólos, os pinguins e os ursos estão ameaçados, se tudo derrete, ficamos debaixo de água. Será isso que deve acontecer? É essa a nossa sina, o nosso fado? Estaremos a pagar os erros e abusos de séculos de maldade? Que culpa têm os que nascem hoje, relativamente àquilo que os outros fizeram antes? É isso justo? Não quero querer. Não acredito que sejas cruel a esse ponto. Penso em ti como o bem encarnado num ente incorpóreo, e não num político sem escrúpulos que pensa em mal menores quando enfrenta valores irrepreensíveis.
Vemos todos os dias desgraças nas notícias. Crianças morrem pela fome, pela doença, pela guerra, pela indiferença humana. O que fazer? Somos nós pequeninos que devemos fazer alguma coisa? Devemos comer menos quando enchemos o prato piramidalmente e nos enfartamos com comida? Ou então não deixar nada no prato para “não desperdiçar comida” como dizem os antigos? Será que fazer alguma das duas vai fazer alguma diferença para o pequeno João que morre à fome em Angola? Eu não posso ir a correr apanhar o avião para mandar o resto da minha comida para ele! Nem penso que deva ter culpa mortal por ter calculado mal a quantidade de arroz que pus no tacho.
Será que devo tornar-me voluntário numa dessas acções internacionais para ajudar os carenciados? Farei a diferença? Se salvar uma criança farei é certo… mas e os ricos? Quero dizer, os muito ricos, estou a referir-me aos muito ricos mesmo? Esses que apenas com os juros das suas poupanças podem tanto? Esses vão para o inferno, por não terem partilhado, se calhar, e com razão… mas o João morre na mesma… porque é que não ages nessas situações?
Os muito ricos, agem em acções de caridade, por vezes, é certo. Dão quantias enormes de quando em quando (quando as finanças lhes caiem em cima) e nós ficamos muito sensibilizados e até ficamos com vontade de comprar mais produtos informáticos por causa disso. Mas será que dão o que podem? Será que eu dou o que posso? Deverei preocupar-me comigo apenas? Eu contribuo, tu sabes disso! Dou o que posso, quando posso. E sabes bem que nunca vivi “à larga”. Será o suficiente? Não acho.
Ajuda-nos. Ajuda-me! Dá-me uma mão e decide por mim!
Sabes o que há no nosso coração. Sabes o quanto de bom e o quanto de obscuro temos no nosso coração – então age em conformidade. Pune os que nada de bom têm! Os que de bom têm, então ajuda e encaminha. Peço-te isso.
Com todo o respeito e admiração, e sem que queira, de alguma maneira alterar o teu humor, peço-te perdão.
Com os melhores cumprimentos
Mário L. Soares
Caro amigo deus,
Não te conheço muito bem, e embora fale contigo diariamente, torna-se muito difícil perceber a tua vontade. Escrevo-te para desabafar as minhas mágoas e para te dar conhecimento da minha vida.
Por cá as coisas vão como tu queres (pois), não sei se bem se mal… o trabalho faz-se, o dinheiro é pouco, e a universidade é dura.
No mundo há muita porcaria – e não me refiro a coisas distantes do nosso país ou da nossa cidade. Mas disso deves ter conhecimento, no entanto não vejo porque deixas que aconteçam. Sei perfeitamente que tudo tem um propósito, nada acontece por acaso e que escreves direito por linhas tortas. Mas há coisas que… não sei que diga. Tu terás as tuas razões.
No que me diz respeito, continuo na minha guerra contra mim mesmo. Tento ser melhor, mas continuo a espalhar-me. Tento aperfeiçoar a minha personalidade, tento minimizar os defeitos, aumentar as minhas qualidades, mas acabo, na maioria das vezes, por fazer porcaria.
Por um lado, é-me muito difícil conviver com certas pessoas, felizmente não o tenho que fazer constantemente, mas há pessoas que parece que são más por natureza – o que sei que não é verdade – sei bem que as pessoas, no seu âmago têm bondade, mas têm também maldade, inveja, cobiça e outros grandes defeitos. Sei que ninguém faz mal por fazer mal. Fazem-no porque pensam que está bem, ou não pensam, pura e simplesmente. Se assim não for é porque têm graves problemas psicológicos e não distinguem o bem do mal, ou se assim não for, então sou eu que estou a ver as coisas mal e há mesmo pessoas más.
O ser humano é realmente complicado. Não sei como nos aturas, sinceramente! Outro já nos teria entregado ao inferno, direitinhos! Mas não… manténs-nos aqui, vivendo, morrendo, como que para ver o que dá e até onde vamos. Sabes muito bem para onde vamos, queres sim ver o caminho que levamos, não é? Não te divertes, é certo, mas vês-nos como a um documentário televisivo. Analisas e corriges, ou deixas viver. Mexes e alteras ou permites as nossas acções.
O diabo, acho, não está por cá em pessoa, mas parece que está feito aos bocadinhos dentro de nós. Gostava que nos ajudasses a libertar-nos dele (que somos nós). Pois é, também sei, nós é que temos de o mandar embora. Pois! É mais fácil falar do que fazer. Porque é que não nos dás uma ajuda? Sei que ajudas, é verdade, mas sempre por estranhas maneiras, mensagens obscuras, sinais ocultos… gostava que fosses mais directo. Não sei se peço demais… se sim, peço desculpa.
Ah! Lembrei-me! Não pus as maiúsculas de cada vez que me refiro a ti. Será que é importante? Não sei… todos dizem que “é assim que se deve fazer”, será? Será desrespeito? Lá está, esta é das tais (até das mais simples) que não sabemos como agir.
Deveremos seguir a bíblia? O corão? Ou outro livro sagrado? É sagrado para uns, blasfémico para outros… não sei. Sei é que há muita celeuma por causa dos livros. Sem que saibamos qual (se não todos) é a tua lei.
Pois é, não há provas, nem tas estou a pedir – não te quero irritar – num dos livros, pelo menos, por muito menos dizimaste gerações. Mas como devemos proceder? Por mim (se fosse eu a mandar) unificava a coisa. Não achas boa ideia? Assim todos sabíamos que lei seguir.
Também sei que no fundo todas as leis de todos os livros dizem coisas parecidas e muitas vezes iguais, e que o seguidor ferrenho de qualquer um deles, continua a não te respeitar. Mas porquê? Esta é a minha pergunta? Porque é que não fazemos o que queres?
Que é que queres de nós afinal? Porque razão aqui estamos? Muitos, por cá, teorizam a esse respeito. Concordo mais com uns que com outros, acho mais interessante a visão de uns do que a de outros, tenho opinião, eu próprio a esse respeito, mas no fundo, não sei qual a tua vontade exactamente… Não sei – com certeza – a razão pela qual nos cá puseste. Esta é muito difícil… Começo logo por questões existenciais… Não me leves a mal.
Posso dizer-te que não gosto de guerras. Não gosto das grandes, nem das pequenas, nem das com sangue, nem das sem ele. Gosto de discutir opiniões para enriquecer o saber, mas não percebo porque se tem de entrar por caminhos mais perversos.
Porque razão se matam as pessoas? Porque é que se odeiam? Não consigo odiar ninguém a esse ponto! Não compreendo o que leva as pessoas a fazer mal a outras, da maneira como o fazem, seja por que razão seja… não entra!
Por vezes, odeio atitudes de pessoas, odeio atitudes de grupos de pessoas e de povos inteiros, mas não é por isso que vou lá matá-los a todos! Não é isso que vai resolver, certo? Se calhar, estou errado, porque já li, supostamente, relatos de coisas que fizeste, muito parecidas, como acabar com um monte de gente por terem feito uma estátua! Não quero acreditar que o tenhas feito! Ou então é porque a noção que tenho de valor da vida humana, está completamente errada… será isso?
Se calhar, damos valor a coisas que não devemos. Se calhar, o individual não interessa, o colectivo é que deverá ser visado. Ou então é tudo ao contrário e o individual é o universo e o colectivo não vale nada!
Não sei. Seria muito bom clarificar isto. Tenho as minhas ideias, concordo com uns, discordo de outros, mas… a tua ideia…
Como é que te pronuncias? Não era tão melhor, simplesmente apareceres ao ouvido da gente e dizeres: “Olha lá, ó menino! Veja lá se se porta bem e não deita papeis para o chão!” – eu acho que era muito mais eficiente! Desculpa se te ofendo. Não o quero fazer. Só gostava que as coisas fossem mais simples, entendes? Claro que entendes! Estás em todo lado. Ouves e vês tudo. Sentes e sabes tudo. Eu sei isso. Mas não te oiço, vejo ou sinto de uma forma directa.
Tenho que me esforçar muito para o fazer. Tenho que te perceber no meio das palavras dos outros, entender-te nos cataclismos e observar-te nos escritos de outras mãos, e nas palavras das pessoas que me rodeiam.
Pois.
São tantas as coisas que mudaria – se fosse eu que mandasse – mas és tu que mandas. E tu fazes à tua maneira. Sei que és o bem unificado, que combates o mal e nos levas ao melhor que podemos ser, mas às vezes o caminho é tortuoso! Porque é que temos de o fazer? Não nos podes “obrigar” a fazer o devemos? Impedir que sejamos injustos e odiosos? Logo assim directamente. Porque, não? Se fosse eu era assim que fazia. Não andava com rodeios.
Compreendo, no entanto, que a lição é por vezes mais importante que o prémio. E que as coisas dadas não têm valor… eu sei disso. Mas porque é que tem de ser assim? Porque razão não nos fazes aprender logo à primeira! Teremos que errar vezes sem conta e aprender sozinhos?
Teremos nós que nos matar a todos para nos libertarmos? Que é que vai sobrar? Nem nós, nem nada sobrará! É para aí que caminha a coisa! Nalguns livros com a suposta tua lei – tu predisseste isso. Armagedões e juízos finais! Para quê finais? Não nos podes julgar aos poucos? Receio-te e tenho temor, mas mesmo assim, sinto que deve perguntar-te estas coisas.
Entendo que dará trabalho controlar todos ao mesmo tempo. Deve ser difícil! Mas contrata ajudantes! Eu ofereço-me! Não precisas de me pagar. Dessa maneira, não só sei que estou a fazer o que devo, como estou a ajudar os outros a fazê-lo! Deve ser paga suficiente. Para mim, chega bem. Contrata-me, que eu aceito! Pode ser a tempo inteiro.
Aguardo a tua resposta. Que espero que não seja intempestiva. Não quero de forma alguma provocar a tua ira.
Com os melhores cumprimentos,
Mário L. Soares
Sitios interessantes (ou não)
CDS - Centro Democrático Social
Não asses mais carapaus fritos
PCP - Partido Comunista Português
PSD - Partido Social Democrata
Vida de um Português - grande brother!
Universidade
Motores de Busca
Dicionários e Enciclopédias