Não suportarei o retiro
Virarei terras que me envolvem
Na cabeça ficará um tiro
Comerei vermes que me sorvem.
Podre o húmus que me torno
Chove rubras gotas em molhos
Frio o gelo deste forno
Raízes de mastros pelos olhos
Cheiro fétido putrefacto
Fechado em volta de uma arca
Saboreio sem língua o mato
Claustro refúgio que quero
Fuga da história que fica
Morte anunciada que espero
Mário L. Soares
Para me conquistar
É preciso exalar um cheiro
íntimo, conhecido, costumeiro
Desses que sinto e enfraqueço...
Que faz tremer a voz, as pernas
Dá nós nas tripas e nas ideias....
Tens ideia?
Perguntas-me: A que vens?
Venho com todas
as boas e más intenções
Tentações, recriações,
Bolinações, entremeios...
O que eu faria?
Convidar-te-ia para ida ao cinema
Ver película interessante,
Instigante que acalma os nervos...
Sei que preferirias um jantar
À luz de velas, com preparo
cuidadoso
Vinho tinto à temperatura exacta
João Gilberto a cantar
Minha voz a sussurrar
Melindres, indecências
Em tua consciência...
Mas, do teu mundo previsível fujo
Eu opto pelo devaneio de teus dias
Por tua agonia diária, insaciável
Buscando sinais de minha presença
Eu opto por te tirar do comezinho
Da disciplina cotidiana,
De tua razão insana...
Sou tua surpresa constante
Usando saias e blusas coladas
No corpo delgado que se alinha
Em minhas curvas as quais te
curvas....
Sei que gostas dos ruídos do quarto
Dos gemidos que escutas
Dos grunhidos que provocas
Sei que gostas de rolar teu corpo
Que recebe de bom grado
o meu sobre o seu,
que quando se tocam
trocam segredos de alcova...
Sei que guardas na memória
Toda minha textura
E vê candura, onde há só luxúria
de fêmea louca que a ti provoca
mal estar, gosto na boca...
E que a cada movimento
Um contentamento roubado
Tu me olhas calado,
Extasiado que estás com a exploração
Mão safada que te escapas
Que confusão!
Sei que preferirias roubar-me toda
E não mais voltar, beijar-me a boca
e não mais calar todo o desejo retido,
todo o prazer contido em membro rijo
a explodir caudalosamente,
silenciosamente....
Mas hoje não! Hoje te rapto ao
cinema
Numa secção plena de erotismo
Do armário sai lingerie branca
Com rendas que rendem cenas
De dentes, mãos, dedos, segredos...
Tu não te lembrarás de close algum,
Talvez sobre na memória alguma
melodia,
da boa fotografia tu não terás
opinião,
perderás a razão, a postura
E não saberás nada sobre o roteiro,
Director, actor, clímax da acção...
Nada te restará para recordação
Por que rescrevi o script
Revolvi todas as formas de prazeres
Vou-te fazer um strip
Para tu nunca mais esqueceres...
Gueixa
O cheiro
O sabor
da tua boca
A baunilha
a camélia desfolhada
A saliva a saber
a leite morno
Escutando o rumor
das tuas asas
Maria Teresa Horta
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