Sábado, 13 de Fevereiro de 2010

Sol

 

 

Ó sol que miras p’lo céu!

Vens e banhas o ventre

Tocas o meu pelo véu

Molhas, seco e quente.

 

Azuis sorrisos tu brilhas

Esperança, de ti, existência

E as estrelas, tuas filhas,

Choram à noite, vivência.

 

Milhas de longe e de luz

Abraças a terra fecunda

Beijas o mar que seduz

Semente pátria profunda

 

Alento dás tempo à hora

Montanhas, campos de sal

Eriges estruturas de flora

Invocas o Deus contra o mal

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:02
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Segunda-feira, 8 de Fevereiro de 2010

Bebido o luar

 

 

Bebido o luar, ébrios de horizontes,

Julgamos que viver era abraçar

O rumor dos pinhais, o azul dos montes

E todos os jardins verdes do mar.

 

Mas solitários somos e passamos,

Não são nossos os frutos nem as flores,

O céu e o mar apagam-se exteriores

E tornam-se os fantasmas que sonhamos.

 

Por que jardins que nós não colheremos,

Límpidos nas auroras a nascer,

Por que o céu e o mar se não seremos

Nunca os deuses capazes de os viver.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

publicado por Lagash às 16:24
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Terça-feira, 26 de Janeiro de 2010

Adoração

 

 

Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão

Em mim não é amor; filha, é adoração!

Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora.

Quando da minha noite eu te contemplo, aurora,

E, estrela da manhã, um beijo teu perpassa

Em meus lábios, oh! quando essa infinita graça

do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante

Eu sinto? virgem linda, inefável, radiante,

Envolta num clarão balsâmico da lua,

A minh'alma ajoelha, trémula, aos pés da tua!

Adoro-te!... Não és só graciosa, és bondosa:

Além de bela és santa; além de estrela és rosa.

Bendito seja o deus, bendita a Providência

Que deu o lírio ao monte e à tua alma a inocência,

O deus que te criou, anjo, para eu te amar,

E fez do mesmo azul o céu e o teu olhar!...

 

Guerra Junqueiro

 

publicado por Lagash às 16:17
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Sábado, 5 de Dezembro de 2009

Hora Nostálgica #23 - Learning to Fly

 

Into the distance, a ribbon of black

Stretched to the point of no turning back

A flight of fancy on a windswept field

Standing alone my senses reeled

A fatal attraction holding me fast, how

Can I escape this irresistible grasp?

Can't keep my mind from the circling skies

Tongue-tied and twisted Just an earth-bound misfit, I

 

Ice is forming on the tips of my wings

Unheeded warnings, I thought I thought of everything

No navigator to find my way home

Unladened, empty and turned to stone

A soul in tension that's learning to fly

Condition grounded but determined to try

 

Can't keep my mind from the circling skies

Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, I

Above the planet on a wing and a prayer,

My grubby halo, a vapour trail in the empty air,

Across the clouds I see my shadow fly

Out of the corner of my watering eye

A dream unthreatened by the morning light

Could blow this soul right through the roof of the night

 

There's no sensation to compare with this

Suspended animation, a state of bliss

Can't keep my eyes from the circling skies

Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, I

 

Pink Floyd

 

publicado por Lagash às 16:14
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Quarta-feira, 25 de Novembro de 2009

Bloco de Céu

 

("Bloco de Céu", pintura de Gustavo Fernandes) 

 

Pela cor do umbigo fundimos,

sem apressar e naturalmente,

o que de bom tenho em mim, não

tardará em chegar a ti.

 

E quando chegar, que te aconchega

a beleza, de cada segundo, porque

a língua desnuda a alma, na garra

do olho, capturada.

 

Pela força da semente alimentamos,

sem apressar e naturalmente,

o que de bom tenho em mim, não

tardará em chegar a ti.

 

E quando chegar, que te revela

o respeito, em cada minuto, porque

a verdade já baixou as armas, da defesa

do novo sangue pulsar.

 

Pelo verbo ‘amar’ inspiramos,

sem apressar e naturalmente,

o que de bom tenho em mim, não

tardará em chegar a ti.

 

E quando chegar, que te fertiliza

o orgasmo, de cada hora, porque

o medo da dor amedrontou-se, ante

tal virtuosidade do corpo desejado.

 

Pela volúpia do beijo sufocamos,

sem apressar e naturalmente,

o que de bom tenho em mim, não

tardará em chegar a ti.

 

E quando chegar, que te conforta

o abraço, de cada hora, porque

serei no 'aqui' um momento sem-fim, que

por ti, assegurar-te-ei esta vida.

 

Brinda Priem

 

publicado por Lagash às 16:22
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Quinta-feira, 19 de Novembro de 2009

Aviões

 

 

Gosto de observar, plantado como uma árvore,

a linha que os aviões traçam no céu,

quando sobem rompendo os ares.

É verdade que hoje,

quando bastariam apenas alguns segundos

para que a humanidade desaparecesse num ápice,

debaixo (dizem)

de uma terrível nuvem alaranjada,

voar já não tem mistério.

Porém,

a altiva e bela diagonal

desenhada no azul transparente pelos aviões que partem

enche-me as medidas…

 

João Melo

 

publicado por Lagash às 16:13
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Quinta-feira, 15 de Outubro de 2009

Meu querido pai

 

 

Meu querido pai…

Deixo-te estas palavras

conjugadas com o maior cuidado.

São palavras de amor lavradas

cheias de saudade do passado

que por nós passa e vai.

 

Meu pai querido…

Venho por esta via

dizer-te que te quero,

que és o que eu ser devia,

ser à tua imagem espero,

e que és o céu colorido.

 

Meu pai amigo…

Sou o melhor que consigo

do exemplo teu,

e tento a custo ser parecido

a ti, que és modelo meu,

e a trilha quando perdido.

 

Companheiro, meu pai…

Quero os parabéns dar-te,

e dizer-te que te amo,

meu forte, meu baluarte.

É por ti que eu chamo

- Meu querido pai.

 

Mário L. Soares

ao meu pai, Joaquim Soares, pelo seu 74º aniversário.

 

publicado por Lagash às 16:23
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Quinta-feira, 10 de Setembro de 2009

O Anjo Caído

 

(Estátua de Lúcifer - "El Ángel Caído" em Madrid no Parque del Retiro) 

 

Era um anjo de Deus

Que se perdera dos céus

E terra a terra voava.

A seta que lhe acertava

Partira de arco traidor,

Porque as penas que levava

Não eram penas de amor.

 

O anjo caiu ferido,

E se viu aos pés rendido

Do tirano caçador.

De asa morta e sem ‘splendor

O triste, peregrinando

Por estes vales de dor,

Andou gemendo e chorando.

 

Vi-o eu, o anjo dos céus,

O abandonado de Deus,

Vi-o, nessa tropelia

Que o mundo chama alegria,

Vi-o a taça do prazer

Pôr ao lábio que tremia...

E só lágrimas beber.

 

Ninguém mais na terra o via,

Era eu só que o conhecia...

Eu que já não posso amar!

Quem no havia de salvar?

Eu, que numa sepultura

Me fora vivo enterrar?

Loucura! ai, cega loucura!

 

Mas entre os anjos dos céus

Faltava um anjo ao seu Deus;

E remi-lo e resgatá-lo,

Daquela infâmia salvá-lo

Só força de amor podia.

Quem desse amor há-de amá-lo,

Se ninguém o conhecia?

 

Eu só, - e eu morto, eu descrido,

Eu tive o arrojo atrevido

De amar um anjo sem luz.

Cravei-a eu nessa cruz

Minha alma que renascia,

Que toda em sua alma pus,

E o meu ser se dividia,

 

Porque ele outra alma não tinha,

Outra alma senão a minha...

Tarde, ai! tarde o conheci,

Porque eu o meu ser perdi,

E ele à vida não volveu...

Mas da morte que eu morri

Também o infeliz morreu.

 

Almeida Garrett

 

publicado por Lagash às 16:14
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Quarta-feira, 11 de Março de 2009

Paisagem

 

(Ilha de Matakana na Nova Zelândia) 

 

Passavam pelo ar aves repentinas,

O cheiro da terra era fundo e amargo,

E ao longe as cavalgadas do mar largo

Sacudiam na areia as suas crinas.

 

Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,

Era a carne das árvores elástica e dura,

Eram as gotas de sangue da resina

E as folhas em que a luz se descombina.

 

Eram os caminhos num ir lento,

Eram as mãos profundas do vento

Era o livre e luminoso chamamento

Da asa dos espaços fugitiva.

 

Eram os pinheirais onde o céu poisa,

Era o peso e era a cor de cada coisa,

A sua quietude, secretamente viva,

E a sua exalação afirmativa.

 

Era a verdade e a força do mar largo,

Cuja voz, quando se quebra, sobe,

Era o regresso sem fim e a claridade

Das praias onde a direito o vento corre.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

publicado por Lagash às 16:21
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Quinta-feira, 5 de Março de 2009

Trajecto

 

(Mia Couto - foto de Alfredo Cunha) 

 

Na vertigem do oceano

vagueio

sou ave que com o seu voo

se embriaga

Atravesso o reverso do céu

e num instante

eleva-se o meu coração sem peso

Como a desamparada pluma

subo ao reino da inconstância

para alojar a palavra inquieta

Na distância que percorro

eu mudo de ser

permuto de existência

surpreendo os homens

na sua secreta obscuridade

transito por quartos

de cortinados desbotados

e nas calcinadas mãos

que esculpiram o mundo

estremeço como quem desabotoa

a primeira nudez de uma mulher

 

Mia Couto – Setembro 1980

 

publicado por Lagash às 16:18
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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