Ó sol que miras p’lo céu!
Vens e banhas o ventre
Tocas o meu pelo véu
Molhas, seco e quente.
Azuis sorrisos tu brilhas
Esperança, de ti, existência
E as estrelas, tuas filhas,
Choram à noite, vivência.
Milhas de longe e de luz
Abraças a terra fecunda
Beijas o mar que seduz
Semente pátria profunda
Alento dás tempo à hora
Montanhas, campos de sal
Eriges estruturas de flora
Invocas o Deus contra o mal
Mário L. Soares
Bebido o luar, ébrios de horizontes,
Julgamos que viver era abraçar
O rumor dos pinhais, o azul dos montes
E todos os jardins verdes do mar.
Mas solitários somos e passamos,
Não são nossos os frutos nem as flores,
O céu e o mar apagam-se exteriores
E tornam-se os fantasmas que sonhamos.
Por que jardins que nós não colheremos,
Límpidos nas auroras a nascer,
Por que o céu e o mar se não seremos
Nunca os deuses capazes de os viver.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Eu não te tenho amor simplesmente. A paixão
Em mim não é amor; filha, é adoração!
Nem se fala em voz baixa à imagem que se adora.
Quando da minha noite eu te contemplo, aurora,
E, estrela da manhã, um beijo teu perpassa
Em meus lábios, oh! quando essa infinita graça
do teu piedoso olhar me inunda, nesse instante
Eu sinto? virgem linda, inefável, radiante,
Envolta num clarão balsâmico da lua,
A minh'alma ajoelha, trémula, aos pés da tua!
Adoro-te!... Não és só graciosa, és bondosa:
Além de bela és santa; além de estrela és rosa.
Bendito seja o deus, bendita a Providência
Que deu o lírio ao monte e à tua alma a inocência,
O deus que te criou, anjo, para eu te amar,
E fez do mesmo azul o céu e o teu olhar!...
Guerra Junqueiro
Into the distance, a ribbon of black
Stretched to the point of no turning back
A flight of fancy on a windswept field
Standing alone my senses reeled
A fatal attraction holding me fast, how
Can I escape this irresistible grasp?
Can't keep my mind from the circling skies
Tongue-tied and twisted Just an earth-bound misfit, I
Ice is forming on the tips of my wings
Unheeded warnings, I thought I thought of everything
No navigator to find my way home
Unladened, empty and turned to stone
A soul in tension that's learning to fly
Condition grounded but determined to try
Can't keep my mind from the circling skies
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, I
Above the planet on a wing and a prayer,
My grubby halo, a vapour trail in the empty air,
Across the clouds I see my shadow fly
Out of the corner of my watering eye
A dream unthreatened by the morning light
Could blow this soul right through the roof of the night
There's no sensation to compare with this
Suspended animation, a state of bliss
Can't keep my eyes from the circling skies
Tongue-tied and twisted just an earth-bound misfit, I
Pink Floyd
Pela cor do umbigo fundimos,
sem apressar e naturalmente,
o que de bom tenho em mim, não
tardará em chegar a ti.
E quando chegar, que te aconchega
a beleza, de cada segundo, porque
a língua desnuda a alma, na garra
do olho, capturada.
Pela força da semente alimentamos,
sem apressar e naturalmente,
o que de bom tenho em mim, não
tardará em chegar a ti.
E quando chegar, que te revela
o respeito, em cada minuto, porque
a verdade já baixou as armas, da defesa
do novo sangue pulsar.
Pelo verbo ‘amar’ inspiramos,
sem apressar e naturalmente,
o que de bom tenho em mim, não
tardará em chegar a ti.
E quando chegar, que te fertiliza
o orgasmo, de cada hora, porque
o medo da dor amedrontou-se, ante
tal virtuosidade do corpo desejado.
Pela volúpia do beijo sufocamos,
sem apressar e naturalmente,
o que de bom tenho em mim, não
tardará em chegar a ti.
E quando chegar, que te conforta
o abraço, de cada hora, porque
serei no 'aqui' um momento sem-fim, que
por ti, assegurar-te-ei esta vida.
Brinda Priem
Gosto de observar, plantado como uma árvore,
a linha que os aviões traçam no céu,
quando sobem rompendo os ares.
É verdade que hoje,
quando bastariam apenas alguns segundos
para que a humanidade desaparecesse num ápice,
debaixo (dizem)
de uma terrível nuvem alaranjada,
voar já não tem mistério.
Porém,
a altiva e bela diagonal
desenhada no azul transparente pelos aviões que partem
enche-me as medidas…
João Melo
Meu querido pai…
Deixo-te estas palavras
conjugadas com o maior cuidado.
São palavras de amor lavradas
cheias de saudade do passado
que por nós passa e vai.
Meu pai querido…
Venho por esta via
dizer-te que te quero,
que és o que eu ser devia,
ser à tua imagem espero,
e que és o céu colorido.
Meu pai amigo…
Sou o melhor que consigo
do exemplo teu,
e tento a custo ser parecido
a ti, que és modelo meu,
e a trilha quando perdido.
Companheiro, meu pai…
Quero os parabéns dar-te,
e dizer-te que te amo,
meu forte, meu baluarte.
É por ti que eu chamo
- Meu querido pai.
Mário L. Soares
ao meu pai, Joaquim Soares, pelo seu 74º aniversário.
Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.
O anjo caiu ferido,
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem ‘splendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.
Vi-o eu, o anjo dos céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia...
E só lágrimas beber.
Ninguém mais na terra o via,
Era eu só que o conhecia...
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! ai, cega loucura!
Mas entre os anjos dos céus
Faltava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo,
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?
Eu só, - e eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus,
E o meu ser se dividia,
Porque ele outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai! tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.
Almeida Garrett
Passavam pelo ar aves repentinas,
O cheiro da terra era fundo e amargo,
E ao longe as cavalgadas do mar largo
Sacudiam na areia as suas crinas.
Era o céu azul, o campo verde, a terra escura,
Era a carne das árvores elástica e dura,
Eram as gotas de sangue da resina
E as folhas em que a luz se descombina.
Eram os caminhos num ir lento,
Eram as mãos profundas do vento
Era o livre e luminoso chamamento
Da asa dos espaços fugitiva.
Eram os pinheirais onde o céu poisa,
Era o peso e era a cor de cada coisa,
A sua quietude, secretamente viva,
E a sua exalação afirmativa.
Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Mia Couto - foto de Alfredo Cunha)
Na vertigem do oceano
vagueio
sou ave que com o seu voo
se embriaga
Atravesso o reverso do céu
e num instante
eleva-se o meu coração sem peso
Como a desamparada pluma
subo ao reino da inconstância
para alojar a palavra inquieta
Na distância que percorro
eu mudo de ser
permuto de existência
surpreendo os homens
na sua secreta obscuridade
transito por quartos
de cortinados desbotados
e nas calcinadas mãos
que esculpiram o mundo
estremeço como quem desabotoa
a primeira nudez de uma mulher
Mia Couto – Setembro 1980
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Não asses mais carapaus fritos
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