Sábado, 18 de Julho de 2009

A hora da partida

 

 

A hora da partida soa quando

escurece o jardim e o vento passa,

estala o chão e as portas batem, quando

a noite cada nó em si deslaça.

 

A hora da partida soa quando

as árvores parecem inspiradas

como se tudo nelas germinasse.

 

Soa quando no fundo dos espelhos

me é estranha e longínqua a minha face

e de mim se desprende a minha vida.

 

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

publicado por Lagash às 16:10
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Terça-feira, 30 de Junho de 2009

Pra dizer adeus

 

 

Eu não sei se é o acaso que sabe seduzir, ou se é o encontro entre duas possibilidades cortantes, jamais saciadas, que nos faz violentar o pacato sossego do casto, em prol da urgente e consentida arrogância de querer. Agora, quiçá pra sempre! O querer é violento e rouba fidelidade das mais nobres intenções. Estupor para com o pecado alheio. Em sendo o nosso, não haverá nunca demérito numa cama dividida. E bem dividida! "Te acaricio a margem neutra dos cabelos enquanto te lambo a virilha". A frase aquecida de sentido-instinto é feto de desenvolvimento instantâneo: já nasce na concepção. E tua pressa dentro de mim rosnando amanhãs. E tudo mais é o amanhã. Caminhos supostos, valores imbricados uns nos outros, como as telhas de um telhado, ou as escamas do peixe. A pressa de dizer o que é o certo, enquanto se tira a roupa de baixo para o banho. Não haverá crime de que eu não me arrependa. Não haverá crime que eu não volte a cometer. É lancinante o verbo da manhã acordando o sol num despertar magnífico de pássaros; meio raio, meio gente, instigando o teu jeito manso de me dizer sim. À borda do cálice de intrigas, peço um espumante e trago comigo a fumaça do grito de alerta. Ontem à noite foi ontem à noite. Resta o amanhã entre o ontem e o presente. Eu vou ser é mais elipse, mais anacoluto, esquecer a condicional porque se eu te merecesse, eu não te idealizaria. E as cortinas ventam soluços esquecidos num momento de senão. E a horda toda roça esse emplastro-medo de viver na cara da gente. Medicamento que amolece e adere no corpo, adere na alma, mas não se converte no remendo que remendei. Remédio fajuto. Há de ser o medo do sono, o medo de sonhar. Uso minha cama pra dizer adeus. E vou.

 

Beta

 

publicado por Lagash às 16:06
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Domingo, 25 de Janeiro de 2009

Adeus Madeira

 

(Machico - Ilha da Madeira) 

 

O som do mar

Nas ondas do tempo

Que eu vejo passar

P’las asas do vento

Olho p’ra frente

A luz traz-me a cegueira

Vou para Oriente

Viro costas à Madeira

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 16:21
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Terça-feira, 22 de Julho de 2008

Quatro rosas

 

 

Quatro rosas te daria se pudesse…

Se eu pudesse, mudaria o mundo.

Se eu quisesse, daria a ti o que fosse…

Quatro rosas, de vermelho profundo.

 

Não posso manter esta ilusão,

De estar sem poder estar, nem poder ser…

Por isso mantenho a minha razão,

Sofro, mas não te as posso oferecer.

 

Sinto-o no coração – talvez nada te diga agora;

Mas o amor fica para sempre e sente

Não se manda pela janela fora…

Queima o interior e a mente.

 

Beijo-te e despeço-me. Desculpa-me …

Adeus… eternamente, gostei de ti.

 

Mário L. Soares

 

publicado por Lagash às 09:11
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Terça-feira, 24 de Junho de 2008

Adeus

 

 

 

 

 

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

 

Eugénio de Andrade

 

publicado por Lagash às 00:07
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Segunda-feira, 9 de Junho de 2008

Adeus

 
 
Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos
carregada de flor e dos teus dedos;
como se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve - e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.
Como se a noite se viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
Digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde teu corpo principia.
Como se houvesse nuvens sobre nuvens
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou, se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.

 

Eugénio de Andrade

publicado por Lagash às 22:48
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Quinta-feira, 24 de Abril de 2008

Desilusão

Às vezes certas pessoas desiludem-me.

Não... não sinto, nem raiva, nem pena, nem nada de outro mundo...

Apenas desilusão.

 

Desiludem-me pessoas que gosto,

Que admiro, que sinto cá dentro

E que considero.

 

Não quero perder essas pessoas,

Não gosto, fico mais pobre...

Sinto tristeza.

 

Serei eu?

 

Espero que... sim... assim posso mudar.

 

Mas até lá... nim...

 

Adeus para as pessoas que não me querem - é pena! Voltem quando quiserem...

 

Olá para os novos amigos - venham mais 5!

 

Boas! Para os velhos amigos! Estamos por cá!

 

Mário L. Soares

publicado por Lagash às 01:12
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Declaração

Declaro que a responsabilidade de todos os textos / poesia / prosa publicados é minha no respeitante à transcrição dos mesmos. Faço todos os possíveis para contactar o(s) autor(es) dos trabalhos a fim de autorizarem a publicação, na impossibilidade de o fazer, caso assim o entenda o autor ou representante legal deverá contactar-me a fim de que o mesmo seja retirado - o que será feito assim que receba a informação. Os trabalhos assinados "Mário L. Soares" são de minha autoria e estão protegidos com a lei dos direitos de autor vigente. Quanto às fotografias, todas, cujo autor não esteja identificado, são de "autor desconhecido" - caso surja o respectivo autor de alguma, queira por favor contactar-me para proceder à sua identificação e se for caso disso retirada do blog. Às restantes fotografias aplicarei o mesmo princípio dos trabalhos escritos. Obrigado. Mário L. Soares - lagash.blog@sapo.pt

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